Evitar o golpe de uma faca e, num piscar de olhos, atirar com um suspeito ao chão, torcer-lhe o braço atrás das costas e algemá-lo. Desviar uma pistola da proximidade do seu rosto, agarrar o agressor e, com um golpe certeiro na perna, deixá-lo de joelhos, pulsos torcidos atrás, imóvel, com um esgar de dor. .Parece básico, de uma elementar facilidade mesmo, quando é demonstrado pelo mestre Sérgio Parreira, que tem no seu curriculum dez cinturões negros. Mas quando os 16 polícias da PSP, GNR e Guarda Prisional que estão na sala o tentam imitar, metade a fazer de bandido, outra metade a fazer de si próprio, não é bem assim. Soam "ais" e "uis", alguns risos nervosos e, no fim, a constatação de que o que ali treinam lhes pode mesmo salvar a vida. ."Diariamente estes homens estão expostos a situações de grande risco e a probabilidade de perigo e de agressão ser efectuada de forma premeditada é muito maior", explica-se no texto que foi entregue aos "formandos" do Curso de Defesa Pessoal Policial..Para sobreviver nas ruas, cada vez mais perigosas e ao mesmo tempo deter o criminoso, é preciso ter uns bons "truques" na manga. Chamam-se "técnicas de intervenção policial", mas, senso comum, é "técnica de sobrevivência" também que se trata. .À falta de resposta oficial das entidades a que pertencem - onde esta formação não chega para todo - é nos ginásios privados que há cada vez mais procura. Pagam do próprio bolso e usam os seus dias de folga para aprenderem a ser melhores polícias. E a chegarem vivos ao fim do turno..No curso a que o DN assistiu, foi mesmo um agente da autoridade, no caso da GNR, que arrendou um ginásio e organizou a formação. "Estava sempre a ouvir colegas a queixarem-se das ruas cada vez mais perigosas e que mal se lembravam das técnicas de defesa pessoal que tinham aprendido nos cursos da Escola da Guarda. Decidi passar à acção e procurar forma de responder a esta necessidade", justifica Euclides Delgado, praticante de artes marciais desde muito novo, que faz serviço da Unidade Nacional de Trânsito da GNR..Quando é atirado ao chão, os gritos de dor do agente principal da PSP Jorge Varandas, 46 anos, na pele de suspeito, fazem rir os colegas, mas está determinado em seguir a preceito as instruções do mestre Parreira. "Ainda me falta muito para a reforma e quero chegar lá bem de saúde", sustenta.Já Jorge Nunes, 34 anos, guarda prisional, é nos "reclusos cada vez mais violentos, muitos com conhecimento de artes marciais", que pensa quando treina os golpes. "Cada vez são mais agressivos e quando é preciso imobilizá-los temos de saber bem que técnica usar para que não fiquem lesionados, ou ficamos sujeitos a processos disciplinares", sublinha..Por seu lado, Fernando Costa, 38 anos, da UNT da GNR, já se viu em "situações complicadas com condutores" que não gostam de ser multados e espera que este curso o possa ajudar no futuro..Paulo Rodrigues e José Manageiro, dirigentes sindicais, respectivamente, da PSP e da GNR, preferiam que fossem as instituições a garantir este tipo de formação contínua, "tão importante" para uma melhor eficácia do trabalho policial e de defesa do cidadão.