México. Polícia "obrigada" a libertar filho de El Chapo para "evitar mais violência"

Na cidade de Culiacán, as forças de segurança mexicanas foram alvo de um ataque de membros do cartel de Sinaloa, mal se soube da detenção do filho de El Chapo. Ruas fechadas, carros incendiados e um intenso tiroteio "obrigou" as autoridades a libertar Guzman para evitar um banho de sangue.
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Viveu-se uma verdadeira batalha campal na quinta-feira na cidade mexicana de Culiacán. Mal se soube que o filho de El Chapo tinha sido detido começou o caos e a violência. Carros incendiados, lojas fechadas, ruas desertas e um longo e intenso tiroteio entre membros do cartel Sinaloa e as forças de segurança. As autoridades foram mesmo "obrigadas" a libertar Ovídeo Guzmán, de 28 anos, para evitar um banho de sangue. Pelo menos, duas pessoas morreram.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, defendeu as forças de segurança do país, dizendo que estes salvaram vidas ao libertar Guzmán. "A captura de um criminoso não pode valer mais do que a vida das pessoas", disse López Obrador, que decreveu a operação policial como "muito violenta".

"Esta decisão foi tomada para proteger os cidadãos ... Não podemos combater fogo com fogo", acrescentou. "Não queremos mortes. Não queremos guerra", reforçou o chefe de Estado, citado pelo Guardian.

Entretanto, a Associated Press avança que as autoridades não esclareceram como aconteceu a operação e que têm sido apresentadas várias versões. Na quinta-feira, Alfonso Durazo, secretário federal de Segurança, disse que 30 elementos da Guarda Nacional e do exército foram atacados no interior de uma casa quando realizavam uma patrulha, e que os militares assumiram o controlo da casa. No interior da habitação estariam quatro pessoas e entre elas estaria o filho de El Chapo.

No entanto, esta sexta-feira, o presidente mexicano disse aos jornalistas que a operação das autoridades tinha sido planeada para executar um mandado de prisão.

"Operação mal planeada e mal executada"

"O próprio governo gerou esse problema. Ao iniciar uma operação mal planeada e mal executada, tornaram-se vulneráveis ​​a chantagens. Não há nada admirável na decisão tomada ", escreveu no Twitter o analista mexicano Alejandro Hope também esta sexta-feira, após as declarações do presidente.

A escalada de violência causou ferimentos em 21 pessoas e um número indeterminado de mortes, entre os quais não haverá militares disse o Secretário de Segurança Pública do Estado, Cristóbal Castañeda, que fez um balanço ainda preliminar dos incidentes.

A escalada de violência começou quando uma patrulha policial encontrou um dos filhos de El Chapo - condenado a prisão perpétua nos EUA - no interior de uma casa durante uma operação de rotina.

Ovídeo Guzmán, também conhecido por El Ratón, estará, juntamente com o irmão mais velho, Joaquín Guzmán López, à frente do cartel de Sinaloa, fundado por El Chapo e considerado um dos maiores do mundo.

Os membros do cartel atacaram as forças de segurança na casa onde Guzmán foi detido e, depois, a violência foi transferida para as ruas de Culiacán, em plena luz do dia. Foram verdadeiras horas de terror, com os moradores a ficaram trancados nas suas casas, os comerciantes a fecharem as lojas enquanto os membros do cartel disparavam contra os carros da polícia.

A violência foi de tal ordem que as autoridades tiveram que recuar e libertar El Ráton. "Para evitar mais violência na área, preservar a vida dos policias e recuperar a calma na cidade", Ovídeo Guzmán foi libertado, disse à Reuters o ministro da Segurança Alfonso Durazo.

Quando entraram na casa, os agentes encontraram quatro homens, entre eles Guzmán, acusado de tráfico de drogas nos EUA. De acordo com o governo, a patrulha da Guarda Nacional foi logo atacada na habitação pelos membros do cartel e acabou por se retirar sem El Ratón. Enquanto isso, nas ruas, as forças de segurança eram atacadas por homens fortemente armados. Os confrontos decorreram em toda a cidade de Culiacán, onde carros e até um posto de combustível foram incendiados.

Enquanto o caos tomou conta da cidade, cerca de 20 reclusos conseguiram fugir de uma prisão em Sinaloa durante um ataque perpetuado por elementos do cartel, avança a imprensa mexicana.

Pelo menos duas pessoas morreram nos confrontos

Os confrontos na cidade mexicana continuaram durante a noite. Famílias com crianças deixaram os carros no meio da estrada e havia pessoas deitadas nos chão para escapar ao intenso tiroteio.

Devido aos confrontos armados, a Universidade Autónoma de Sinaloa decidiu suspender as aulas para proteger a integridade dos estudantes, docentes e funcionários. "Pede-se a todos que mantenham a calma", lê-se na mensagem que a universidade divulgou nas redes sociais.

Dados provisórios da escalada de violência indicam que, pelo menos, duas pessoas morreram e 21 ficaram feridas, disse Cristobal Cataneda, chefe de segurança de Sinaloa à estação Televisa.

Falko Ernst, analista do International Crisis Group no México, afirmou à Reuters que a libertação de Ovídio Guzmán abre "um precedente perigoso" e envia a mensagem de que o Estado e o Exército podem ser chantageados e não têm o controlo do país.

El Chapo dirigiu o cartel de Sinaloa durante décadas, tendo conseguido fugir da prisão por duas vezes. Acabou por voltar a ser detido e extraditado para os EUA. Em fevereiro, foi condenado a prisão perpétua nos Estados Unidos por tráfico de droga.

Acredita-se que El Chapo tenha 12 filhos, um deles Ovídio, que é acusado pelo Departamento de Justiça dos EUA, juntamente com um dos seus irmãos, de conspiração para distribuir cocaína, metanfetamina e marijuana nos Estados Unidos.

Com Reuters.

(Notícia atualizada às 16:53).

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