Filipe Macedo Silva, o subcomissário que aparece num vídeo a agredir um adepto do Benfica à frente dos dois filhos, em Guimarães, é visto como um "durão" ao estilo Rambo por alguns dos homens que comanda, mas também como um líder capaz e respeitado, soube o DN junto de fontes policiais. Comandou a esquadra de Rio de Mouro, em Sintra, antes de ir para Guimarães, e mesmo nessa zona difícil nunca teve qualquer episódio de abuso de autoridade. De facto, antes destes incidentes junto ao estádio vimaranense após o final do jogo entre o Vitória e o Benfica (0-0), o comandante da Esquadra de Investigação Criminal (EIC) da PSP de Guimarães nunca tinha tido um processo disciplinar. .O porta-voz da Direção Nacional da PSP esclareceu, em declarações ao DN, que Filipe Macedo Silva não foi suspenso de funções preventivamente por causa do alarme social do caso porque "ainda não houve uma investigação ao sucedido". "O subcomissário é alvo de um processo disciplinar e é esse processo que pode determinar como medida acessória a suspensão de funções. É como nos inquéritos-crime: in dubio pro reo", acrescentou, referindo-se ao princípio da presunção da inocência até prova em contrário. Logo, em caso de dúvida, dá-se o benefício ao réu. Mas no processo disciplinar, a confirmar-se o abuso de autoridade, Filipe Macedo Silva arrisca pena de suspensão, expulsão ou aposentação da polícia..O subcomissário enfrenta agora três processos: um disciplinar, outro que corre na Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) e um inquérito-crime aberto pelo Ministério Público e que até agora ainda só tem como arguido o adepto benfiquista (por injúrias e ameaças à autoridade) e como testemunha Filipe Macedo Silva..Como o adepto José Magalhães, presente a tribunal, em Guimarães, ontem, já disse que irá processar o polícia, este pode vir a ser constituído arguido neste inquérito-crime..O comandante da EIC da PSP alegou, no auto da ocorrência de domingo, que as bastonadas ao adepto estão justificadas porque este o ameaçou e lhe cuspiu na cara. Por sua vez, José Magalhães desmentiu que tenha insultado ou cuspido no polícia e avançou que vai processar o oficial..O processo disciplinar ao subcomissário vai apurar se houve abuso de autoridade ou uso excessivo da força nos atos que levaram à detenção do adepto do Benfica em frente ao seu filho e ainda nas agressões ao avô da criança, que também interveio. O mesmo objetivo terá o inquérito da IGAI..Na versão do adepto, o incidente deu-se depois de ter abandonado o estádio para fugir do ambiente de fumo e de agitação que se vivia nas bancadas após o final da partida. "Com os meus filhos a dar sinais de perturbação e de desidratação, dirigi-me para a saída do estádio, onde quatro agentes, que estavam do lado de fora, me trataram de forma afável e compreensiva - a mim, aos meus dois filhos e, posteriormente, ao meu pai, quando lhes disse ser o avô deles", disse à Lusa. "Já no exterior, uma senhora, percebendo que o meu filho estava mal, ofereceu uma garrafa de água, após o que aquele agente se dirigiu a mim a perguntar o que se passava, porque estava ali e porque saíra de lá de dentro. Quando estava a explicar-lhe o que se passava dentro do estádio, ele veio para cima de mim à bastonada. E o pânico foi geral. Vi-o a bater no meu pai, ficando os miúdos numa aflição geral", acrescentou. Negando ter cometido alguma injúria para com o graduado da polícia, José Magalhães, que se apresentou no tribunal acompanhado da advogada Sónia Carneiro, afirmou sentir-se "muito preocupado por essas acusações surgirem do interior da PSP"..Avaliando o "trauma" do filho deste adepto, a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos entende que "o polícia devia pedir desculpas à criança, olhos nos olhos, e o pai da criança também devia explicar-se caso se tenha também excedido". Acrescenta que uma criança que assiste ao pai a ser agredido por um polícia pode passar a ver os polícias como "maus"..Por outro lado, a ministra da Administração Interna, Anabela Rodrigues, determinou à IGAI a abertura de um inquérito para o apuramento dos factos praticados pelos elementos da PSP que tiveram intervenção nos incidentes junto ao Marquês de Pombal, que envolveram polícias e adeptos e dos quais resultaram 13 detenções, tendo o INEM e os bombeiros assistido 138 pessoas.