Cruz Vermelha cancela corrida de galgos por pressão da SOS Animal
"Isso foi cancelado. Já não vamos participar". O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George, confirmou esta segunda-feira ao DN que a instituição a que preside deixou de ser parceira na organização de uma corrida de galgos, agendada para Vila do Conde, no próximo dia 13 de julho. A polémica em torno destas corridas já chegou mesmo ao Parlamento, que nesta terça-feira vai discutir uma petição que apela a sua proibição em Portugal.
O evento de Vila do Conde destinava-se a angariar fundos para a própria Cruz Vermelha, e era coorganizado pela delegação de Vila do Conde, uma das mais ativas do país. Mas uma onda de protesto, nos últimos dias, fez a instituição voltar atrás. A meio do dia desta segunda-feira, a Cruz Vermelha divulgou um comunicado nas redes sociais, informando o público da deliberação que acabara de tomar: "A Cruz Vermelha Portuguesa, instituição humanitária não-governamental, de carácter voluntário e interesse público, que rege por princípios fundamentais, nomeadamente Humanidade, Unidade, Universalidade, Neutralidade, Independência, Voluntariado e Imparcialidade, deliberou não participar na iniciativa "Corrida de Galgos" anunciada para o próximo dia 13 de julho, em Vila do Conde".
A pressão começou nas redes sociais e depressa chegou às instituições. A associação SOS Animal, por exemplo, emitiu um apelo ao presidente da Cruz Vermelha, para cancelar a corrida de galgos para angariação de fundos. "Tomámos conhecimento da corrida de canídeos para angariação de fundos, promovida pela Delegação de Vila do Conde da Cruz Vermelha Portuguesa, através do Facebook da mesma. Está cientificamente comprovado que os canídeos são seres sencientes, tal como todos os animais. Para corridas de galgos, estes são sujeitos a treinos extremamente violentos e muitas vezes à administração de doping. Quando já não estão aptos para correr, ainda em tenra idade, são abandonados ou mortos", refere o comunicado da SOS animal.
Ao mesmo tempo, enquanto apelava a Francisco George para "o cancelamento desta prática bárbara, evitando que a Cruz Vermelha Portuguesa associe o seu bom nome, de forma gratuita e desnecessária, ao sofrimento animal", lembrava à Cruz Vermelha que a SOS Animal trabalha sem quaisquer financiamentos estatais, recorrendo a inúmeras formas de angariação de fundos. "Desta forma, mostrámo-nos ainda disponíveis para ajudar a Cruz Vermelha Portuguesa a encontrar iniciativas saudáveis, sem compactuar e promover o sofrimento de um ser vivo, que enobrecerão ainda mais a sua missão e imagem", refere a mesma nota.
O certo é que a Cruz Vermelha Portuguesa acabou por cancelar a participação no evento de que era "parceira e não organizadora", disse ao DN fonte do gabinete de comunicação. Porém, esta não seria a primeira vez que aquela organização promovia corridas de galgos, precisamente através da delegação de Vila do Conde. A mais recente aconteceu no ano passado, a 8 de julho, e teve o apoio da Câmara Municipal e de várias empresas locais.
A Assembleia da República discute esta terça-feira uma petição (assinada por 7200 pessoas) que apela à proibição das corridas de galgos em Portugal. De acordo com o documento, a corrida de galgos "é uma indústria competitiva e organizada, na qual os cães são forçados a correr numa pista. Os cães perseguem uma presa (tradicionalmente uma lebre ou coelho artificial) na pista até passarem a linha da meta. Tal como acontece com as corridas de cavalos, nas corridas de galgos também se fazem apostas por parte do público. Nessa indústria, a chave para o sucesso e lucro dos criadores e treinadores é terem cães velozes. Mas apenas poucos dos estimados 20 mil cachorros galgos que nascem todos os anos é que têm as capacidades atléticas e velocidade requeridas para se tornarem grandes campeões. Sendo criados com o único propósito de correr e vencer, muitos cães jovens e saudáveis são descartados e mortos".
A petição lembra que "os cães que vão para as pistas enfrentam um duro programa de treino e, durante os treinos e as corridas, sofrem riscos significativos de lesões, como fraturas de pernas ou traumatismos cranianos. Alguns chegam a morrer de ataque cardíaco devido ao intenso desgaste físico. Os danos físicos são muitas vezes considerados "inviáveis financeiramente" para serem tratados e o treinador - que se diz "proprietário" - opta por matar o cão".
As corridas de galgos têm muitos adeptos no norte do país, onde está sediada a Associação Galgueira e Lebreira do Norte. Fazem parte dos programas de feiras e outros eventos, como ainda recentemente na Expolima - caça, pesca e lazer.
Não admira por isso que tenha surgido entretanto uma outra petição, que defende precisamente o contrário daquela que amanhã, por proposta do BE e do PAN, será discutido no parlamento. Neste caso, os defensores das corridas propõem "não aceitar o fim da raça mais antiga do mundo em Portugal" e "não aceitar o fim do desporto animal, que tanto lhes faz bem à saúde física como mental". Esta contra-petição contava, esta tarde, com apenas 848 subscritores.