Polanksi lidera nomeações aos Césares e provoca a fúria de feministas

O filme "J'accuse" ( O Oficial e o Espião), que estreia quinta-feira em Portugal, recebeu 12 nomeações e gerou a contestação de organizações feministas, devido às acusações de violação que pendem sobre o realizador de origem polaca.
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O filme "J'accuse" (O Oficial e o Espião"), de Roman Polanski, lidera as nomeações para os prémios César do cinema francês - o equivalente aos Óscares americanos - o que está a provocar fortes protestos de associações feministas, críticas do reconhecimento de um cineasta acusado de violação. O filme estreia esta semana em Portugal.

O filme histórico sobre o julgamento do militar judeu Alfred Dreyfus, que venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, recebeu 12 nomeações, incluindo nas principais categorias de melhor filme e melhor realização. Supera "Os Miseráveis" - candidato ao Óscar de melhor filme estrangeiro - e "La belle époque", com 11 nomeações cada.

Os prémios César não devem "adotar posições morais", disse o presidente da Academia, Alain Terzian, anunciando as nomeações esta quarta-feira. "A menos que eu esteja errado, 1,5 milhão de franceses foram assistir ao filme" de Polanski, acrescentou, destacando o sucesso de bilheteira de "J'accuse", título homónimo do famoso romance de Emile Zola.

A estreia da longa-metragem no final de 2019 em França foi marcada por pedidos de boicote depois de uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, garantir à imprensa que Polanski a violou em 1975, aos 18 anos. O diretor franco-polaco, de 86 anos, negou a acusação através do seu advogado.

Polanski é um fugitivo da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado de violar uma menor de 13 anos. Outras mulheres alegaram nos últimos anos terem sido vítimas de agressões sexuais pelo diretor de "O Pianista".

O anúncio das nomeações para os Césares, cuja cerimónia será realizada no dia 28 de fevereiro no Pleyel Hall, em Paris, provocou uma onda de reações nas redes sociais.

"Doze indicações para o filme 'J'accuse'. 12 como o número de mulheres que o acusam de violação! Que pena @LesCesar!", tweetou a associação Osez le feminisme.

"Encontramo-nos no Pleyel Hall, estaremos lá como na Cinemateca em 2017", em alusão aos protestos contra uma retrospetiva dedicada ao cineasta, acrescentou a organização. Em 2017, Polanski acabou por desistir do convite para presidir à cerimónia dos prémios César, sob pressão dessas associações.

A polémica em torno do realizador remonta há muitos anos, apesar do cinema francês quase não ter sido abalado pelo escândalo @MeToo. No final de 2019, a primeira denúncia de uma atriz conhecida quebrou o silêncio sobre essa questão no cinema francês. A atriz Adele Haenel, que protagoniza o filme "Retrato de uma jovem em chamas", acusou o realizador Christophe Ruggia de assediá-la quando era adolescente. Ruggia foi processado este mês por agressões sexuais.

Haenel está entre as nomeadas para o César de melhor atriz por este filme sobre um amor lésbico, que esteve em competição no ano passado no Festival de Cannes. Este facto também é apontado por alguns críticos de Polanski: dizem que Haenel é uma vítima de violação que terá de partilhar a sala com um acusado de violação.

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