Depois de quatro anos sob a governação de Patrice Trovoada, da Aliança Democrática Independente (ADI), São Tomé e Príncipe está em crise económica e de emprego e nas mãos de credores estrangeiros. O arroz escasseia, empresas, construtoras e bancos fecharam, o desemprego aumentou, a esperança minguou..No próximo domingo, 97 342 eleitores são-tomenses são chamados às urnas para eleger os seus representantes nas eleições legislativas, autárquicas e regionais..A realidade em São Tomé e Príncipe agravou-se nestes quatro anos em que Patrice Trovoada governou o país. Especialistas receiam pelo futuro do arquipélago com 200 mil habitantes e dependente de credores.."Antecipo que no curto e médio prazo, independentemente do resultado eleitoral, podemos esperar turbulência e instabilidade política em São Tomé e Príncipe", avalia Paulo Gorjão, investigador no Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)..Autor de vários artigos publicados sobre o arquipélago africano, Paulo Gorjão lamenta que São Tomé e Príncipe não tenha dado o salto de desenvolvimento de que precisava. "Patrice Trovoada teve condições únicas de estabilidade a nível parlamentar para fazer o que sucessivos governos do passado - incluindo um dele - não fizeram. Foi eleito pelo povo como um potencial salvador da pátria mas as expectativas foram defraudadas.".Mas o investigador admite que a dependência do país de credores externos, bem como do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, torna a missão do próximo primeiro-ministro, seja ele quem for, muito difícil..Nestes quatro anos, "São Tomé fez uma aproximação à China na expectativa de ter apoio em investimentos, o que ainda não se concretizou, mas o parceiro que conta de facto para o país é Angola e a presidência de João Lourenço tem tido outras prioridades", sublinha o investigador Paulo Gorjão..Corrida "muito renhida"."Há uma forte vontade do povo em querer mudar, mas a corrida eleitoral está muito renhida", diz o jornalista Abel Veiga, fundador do jornal online Téla Nón e correspondente da RTP no país. "Esse descontentamento é terreno fértil para o maior partido da oposição, o MLSTP, e para a coligação que reúne três partidos da oposição (o PCD-Partido da Convergência Democrática, o Movimento Democrático Força de Mudança (MDFM) e a União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD). A coligação é liderada pelo médico Arlindo Carvalho, candidato a primeiro-ministro..No escrutínio de domingo, o combate será sobretudo focado entre Patrice Trovoada e Jorge Bom Jesus, o ex-ministro da Educação e da Cultura líder do partido que lutou pela independência do país, o MLSTP/PSD, força política que também já esteve no poder..Mas Abel Veiga acredita que a coligação liderada por Arlindo Carvalho "vai baralhar os dados". "A nível ideológico, a coligação é o principal adversário da ADI, situando-se mais no centro-direita, enquanto a Aliança de Patrice Trovoada está ao centro. No ato eleitoral de 2014, a ADI teve maioria absoluta porque o MDFM, criado pelo ex-presidente Fradique Menezes, incentivou a votar na ADI. Até a franja de descontentes do MLSTP votou na Aliança Democrática Independente porque esta era a esperança para todos nós.".O clima de realização das eleições é "pacífico" e de "segurança", garante o jornalista. As duas alegadas tentativas de golpe de Estado denunciadas por Patrice Trovoada ao país, que ocorreram em junho e agosto, não trouxeram desordens ou tumultos. O povo soube delas pela televisão e pelo discurso do primeiro-ministro ao país..O analista em política internacional Paulo Gorjão não consegue ter otimismo quanto ao futuro do arquipélago. "São Tomé é um país que está dependente da boa vontade de terceiros até para compor o próprio Orçamento do Estado. Nenhuma das variáveis vai melhorar, independentemente de quem ganhar." Por outro lado, destaca o investigador, "há uma prática reiterada de compra de votos que gera maior imprevisibilidade sobre os resultados"..Nações Unidas deram urnas e CPLP vai observar.A ONU e a CPLP intervêm como observadores no ato eleitoral para garantir que este decorra com normalidade. A missão de Observação Eleitoral (MOE) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) está no terreno desde o dia 4 até 9 de outubro. É uma missão chefiada por Zacarias Albano da Costa, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, e acompanha o encerramento da campanha eleitoral, o dia da eleição e o apuramento parcial. Constituída por observadores designados pelos Estados membros da organização, a MOE CPLP deverá integrar, igualmente, representantes da Assembleia Parlamentar da CPLP..Em São Tomé e Príncipe, irá reunir-se com os representantes diplomáticos dos Estados membros neste país, com a Comissão Eleitoral Nacional, com os partidos políticos que se apresentam ao escrutínio, com outras missões de observação internacional, entre outras entidades..O escritório da ONU em São Tomé entregou 600 urnas para as eleições legislativas, autárquicas e regionais da ilha do Príncipe. A representante residente das Nações Unidas em São Tomé, Zahira Virani, garantiu que o seu escritório ia apoiar o Conselho Nacional da Juventude na realização de uma campanha de educação cívica."Vamos apoiar a instituição na realização de uma campanha de educação cívica para que todos os são-tomenses tenham informações necessárias, ou seja, saber como, quando e onde votar, especificamente os jovens e as mulheres", disse Zahira Virani. A responsável sublinhou também o apoio que será dado aos órgãos de comunicação social e aos jornalistas, que considera terem "um papel fundamental e uma responsabilidade importante durante este período das eleições". As Nações Unidas acreditam que o próximo escrutínio "seja um sucesso" e que o país continue a ser uma referência em democracia na África Central..O DN/Plataforma contactou os gabinetes do chefe da missão da CPLP e da representante da ONU em São Tomé para alguns esclarecimentos, mas até ao fecho da edição não obteve resposta.