Pivô do escândalo de corrupção na família Bolsonaro continua a operar

Fabrício Queiroz, o braço-direito de Flávio que coordenava esquema de contratação de assessores fantasma na assembleia legislativa do Rio de Janeiro, foi gravado a sugerir transferir o método para o Congresso, onde o filho do presidente atua como senador
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Desde que em dezembro do ano passado foi revelado um esquema de desvio de dinheiro público através da contratação de assessores fantasmas no gabinete de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual do Rio de Janeiro, o Brasil passou a perguntar via redes sociais "onde está o Queiroz?", em alusão a Fabrício Queiroz, o entretanto remetido ao silêncio braço direito do filho do presidente que, segundo as investigações policiais, coordenava o esquema. A resposta foi dada nas últimas horas através de um áudio: Queiroz está a tentar transferir a prática para o Congresso Federal, onde hoje Flávio atua como senador.

"Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles em nada, em nada. Vinte continho aí para gente caía bem para c*, meu irmão, entendeu? Não precisa vincular ao nome. Só chegar lá e, pô, cara, o gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, pessoal para conversar com ele, faz fila. Só chegar lá e, pô, meu irmão, nomeia fulano aí para trabalhar contigo aí, salariozinho bom desse aí, cara, para a gente que é pai de família, cai como uma uva", disse Queiroz, em áudio de junho revelado pelo jornal O Globo.

Queiroz ganhou as manchetes dos jornais semanas antes de Jair Bolsonaro tomar posse como presidente da República, depois de o jornal O Estado de S. Paulo noticiar que o COAF, órgão público que vigia movimentos financeiros, notar transferências atípicas - de milhões de reais - nas contas do braço-direito de Flávio. De acordo com as autoridades, Queiroz contratava assessores fantasmas, nalguns casos familiares seus ou familiares de chefes das milícias, a máfia brasileira, para o gabinete do filho de Bolsonaro. Esses assessores, na maioria dos casos nem nunca frequentou o gabinete; o seu salário era, pois, transferido para Flávio e Queiroz, consideram os investigadores.

Entre essas movimentações atípicas consta até uma transferência para Michelle Bolsonaro, a primeira dama do Brasil. Queiroz e Jair Bolsonaro são amigos há mais de 30 anos.

Dado o potencial explosivo de Queiroz, o pivô do escândalo eclipsou-se, dando origem à tal pergunta que já faz parte do folclore político brasileiro, em forma de hashtag na rede social Twitter, "cadê o Queiroz". Reportagem da revista Veja descobriu-o em tratamento oncológico num hospital de São Paulo mas o assessor de Flávio continuou em silêncio até ser divulgado agora este áudio.

Pelo meio, Bolsonaro tentou blindar o caso na justiça e teve sucesso: membros do Supremo Tribunal Federal, incluindo o seu presidente Dias Toffoli, suspenderam as investigações, alegando que o COAF precisaria de autorização judicial para investigar as contas de Queiroz.

Na sequência do áudio, o presidente, em visita oficial a países do extremo oriente, reagiu secamente: "Para não interromper a entrevista já aqui, eu cuido da minha vida, o Queiroz cuida da dele".

A defesa de Flávio emitiu comunicado: "O senador Flávio Bolsonaro não mantém qualquer contacto com Fabrício Queiroz há quase um ano. O áudio comprova que seu ex-assessor não possui qualquer influência junto ao gabinete do senador, tanto que sugere ao suposto interlocutor buscar outros caminhos para ter acesso a cargos".

E os advogados do pivô do escândalo sublinharam que ele "vê com naturalidade o facto de ser uma pessoa que ainda detenha algum capital político, uma vez que nunca cometeu qualquer crime, tendo contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no estado do Rio de Janeiro".

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