"Pipi na cama", "rato" e "frouxo". As reações ao recuo histórico de Bolsonaro

Presidente do Brasil pede perdão ao juiz do Supremo Tribunal Federal a quem chamara de "canalha" em carta redigida a quatro mãos com Michel Temer. Os outros presidenciáveis divertem-se nas redes sociais. Os apoiantes frustram-se.
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"Já dizia minha avó: Quem brinca com fogo se queima. Ou faz pipi na cama", escreveu nas redes sociais Luíz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde demitido por Jair Bolsonaro e hoje pré-candidato à eleição presidencial de 2022. A frase foi uma reação ao recuo do presidente da República na quinta-feira das ameaças feitas ao poder judicial em manifestação na terça-feira.

Em nota, Bolsonaro atribuiu as declarações "ao calor do momento," assegurando que não teve "intenção de agredir" os poderes. Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) passou, no léxico do presidente, de "canalha" por ter condenado a prisão de bolsonaristas que tiveram atitudes inconstitucionais, a "jurista e professor", em apenas 48 horas. Michel Temer, amigo de Moraes, disse que foi ele quem redigiu a carta assinada por Bolsonaro.

Além de Mandetta, outro presidenciável, João Doria, reagiu com uma frase de efeito. Para o governador de São Paulo, ""o leão virou um rato".

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que "o evento de terça-feira foi um desastre para o Bolsonaro e a nota agora uma humilhação". Ao partilhar o link com a nota, legendou "frouxo e covarde".

Curiosamente, a palavra "frouxo" foi das mais usadas também entre os apoiantes anónimos do presidente nas redes sociais - até porque ao longo das últimas horas, camionistas paralisaram mais de cem estradas no Brasil, supostamente em apoio ao governo e contra o STF, mas foram mandados para casa por Bolsonaro.

Allan dos Santos, blogger bolsonarista na mira de Alexandre de Moraes por propagar fake news e ataques à democracia, escreveu "game over" e "inacreditável".

Para o colunista bolsonarista Rodrigo Constantino, "se era xadrez 4D, parece que Bolsonaro tomou um xeque-mate de uma rainha tridimensional". "Depois da demonstração de força do povo, o presidente demonstra fraqueza. Situação bem complicada para os patriotas. Bolsonaro pode ter assinado sua derrota hoje...".

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, também reagiu negativamente. "Continuo aliado, mas não alienado. Bolsonaro pode colocar a nota que quiser. As minhas convicções são inegociáveis".

Carla Zambelli, uma das deputadas mais fieis a Bolsonaro, falou em "frustração". "Fiquei um pouco frustrada. Frustrada da mesma forma da época em que o [ex-ministro da justiça] Moro pediu demissão..."

Na carta, Bolsonaro diz que nunca teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes". A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo juiz Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news".

"Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de 'esticar a corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", acrescentou.

Bolsonaro promoveu, por mais de dois meses, uma manifestação de apoiantes no dia 7 de setembro, feriado do dia da independência do Brasil, a quem compareceram centenas de milhares de apoiantes. A agenda era, além de dar um voto de confiança no presidente, atacar o STF.

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