Governo catalão exige a Sánchez que marque "dia e hora" para negociar . "É mais urgente que nunca"

Com nova manifestação marcada para este sábado, as autoridades fazem o balanço dos confrontos de sexta-feira à noite na Catalunha. Quim Torra, presidente do Governo Regional volta a pedir ao primeiro-ministro espanhol que aceite negociar. "É a sua responsabilidade", diz.
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A violência subiu de tom na sexta-feira à noite na Catalunha. As "Marchas da Liberdade" mobilizaram mais de meio milhão de pessoas contra a condenação dos dirigentes políticos independentistas, mas o que começou por ser um protesto pacifico acabou por ser marcado por violentos confrontos. O último balanço dos Mossos d'Esquadra dá conta de 54 detidos em toda a Catalunha e 182 feridos, dos quais 152 em Barcelona, refere o Departamento de Saúde da Generalitat.

No quinto dia de protestos, 18 agentes da polícia ficaram feridos, um dos quais está em estado grave.

No rescaldo de mais uma noite marcada pela violência, o presidente do Governo Regional da Catalunha, Quim Torra, volta a pedir ao primeiro-ministro espanhol que aceite negociar.

Torra exige que Pedro Sánchez "fixe um dia e hora" para se sentar à mesa das negociações. "É a sua responsabilidade e obrigação. É mais urgente que nunca. Há muito tempo que reclamos uma resolução política para o conflito", afirmou o chefe do governo catalão ao lado do seu vice-presidente, Pere Aragonés, durante uma declaração à imprensa.

Torra reiterou que o movimento independentista é "pacífico", referindo-se às "Marchas da Liberdade". "Nenhuma forma de violência representa-nos", sublinhou o chefe do governo catalão que assegurou que o movimento pela independência da Catalunha é "imparável".

Miquel Buch, ministro do Interior do Governo Catalão reforçou que "a violência não é ferramenta para defender uma ideia democrática".

Poucas horas depois do pedido de Torra para que Sánchez inicie negociações, a residência oficial do governo espanhol reagiu. O executivo de Pedro Sánchez condiciona o diálogo à condenação contundente da violência por parte do governo catalão, considerando que Quim Torra ainda não o fez. O O Palácio La Moncloa pede também que seja reconhecido o esforço feito pela polícia nacional e pelos Mossos d'Esquadra e que seja manifestada solidariedade para com os agentes da autoridade feridos durante as manifestações na Catalunha.

Durante os confrontos de sexta-feira, um fotojornalista do El País, Albert García, foi detido, tendo sido já libertado, de acordo com o próprio jornal. Aliás, o conselho de redação do El País fez saber que exige uma investigação para esclarecer as circunstâncias que envolveram a detenção do fotojornalista.

Nesta última noite, a violência aumentou, com barricadas e fogos ateados por grupos radicais, ao que a polícia respondeu com balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água.

Nos últimos dias, grupos de jovens independentistas têm enfrentado a polícia de forma violenta nas ruas do centro da cidade de Barcelona, provocando estragos em montras, esplanadas, contentores e automóveis.

A capital da Catalunha amanheceu na manhã deste sábado com centenas de funcionários da autarquia a tentar limpar os vestígios dos confrontos violentos entre grupos radicais de jovens independentistas e a polícia espanhola.

Os sinais dos desacatos ainda eram bem visíveis aos olhos dos turistas que começavam esta manhã a sair dos hotéis de onde não se atreveram a abandonar a partir do fim da tarde de sexta-feira, quando os confrontos tiveram início.

"Ficámos fechados no hotel e fomos para a cama cedo. Uma coisa é certa, temos uma história para contar aos nossos amigos, quando regressarmos", disse à Lusa um casal de turistas norte-americanos que que ia descer a Rambla a partir da Praça da Catalunha, mesmo no centro da capital catalã.

Vidros de montras partidos, sinais de trânsito arrancados, semáforos ardidos, cabines telefónicas arrancadas do chão podiam ser vistas nas ruas circundantes do epicentro dos distúrbios, a direção da Polícia Nacional na Catalunha (Jefatura Superior de Policia de Catalunya), na Via Laietana.

"Nunca vi uma coisa destas", disse um taxista que circulava numa das ruas transitáveis, acrescentando esperar "que a situação não se repita mais, porque assim a cidade vai perder ainda mais turistas".

No rescaldo da noite de violentos confrontos, as ruas de Barcelona estavam repletas de detritos e a cidade viu-se "obrigada" a usar limpa-neves para tornar as vias transitáveis.

A autarca de Barcelona, citado pelo jornal La Vanguardia, afirmou esta manhã que a violência que a cidade tem testemunhado não pode continuar. "Isto não pode continuar assim. Condenamos qualquer tipo de violência. Apesar da situação crítica, a cidade funciona. Quero agradecer, por isso, aos funcionários públicos, serviços de limpeza, polícia e bombeiros", disse Ada Colau.

Nova manifestação marcada para o centro de Barcelona

Afirmou que a noite de sexta-feira foi a mais violenta que a cidade já testemunhou desde que começaram os protestos contra a decisão judicial de condenar 12 dirigentes independentistas a penas de prisão que vão até aos 13 anos de cadeia. Reitera que os confrontos não podem continuar, que "Barcelona é uma cidade de paz. "Não pode haver violência contra a imprensa, não podem deter um fotojornalista acreditado. Nós não merecemos isto como cidade", sublinhou a autarca.

"Barcelona é de todo o mundo", afirmou Ada Colau.

Entretanto, a Arran, uma organização de jovens que defende a independência da Catalunha, já convocou para a praça Urquinaona, no centro da capital catalã, uma nova manifestação para as 18:00.

A Guàrda Urbana de Barcelona, polícia municipal da capital catalã, pede aos comerciantes da zona onde vai decorrer a manifestação para que não abram as portas das suas lojas como medida de prevenção.

De acordo com a imprensa espanhola, antes do início do protesto as autoridades estiveram a identificar alguns manifestantes de modo a evitar a presença de grupos radicais.

Casado quer que Sánchez rompa com "Torra e com Junqueras e aqueles que incitam à violência"

O líder do PP, Pablo Casado, exigiu este sábado ao presidente do Governo que "coloque ordem" na Catalunha e que rompa "hoje mesmo" os acordos do Partido Socialista Catalão em 40 municípios se quer que os populares mantenham a unidade de partidos.

Na abertura da XXV Intermunicipal do PP em Valladolid, sob o tema "A Espanha que acrescenta", enviou um aviso urgente para o governo em funções, chefiado Pedro Sanchez, para que restabeleça "a lei e ordem imediatamente" na Catalunha e que rompa com "Torra e com Junqueras e aqueles que incitam à violência".

"O PP não pode continuar a apoiar a unidade de julgamento dos constitucionalistas se com uma mão nos pedem apoio e com outra abrem a porta para continuar a pactuar" com os independentistas", advertiu.

Para Casado é "muito importante" que os socialistas não quebrem os seus pactos com os independentistas e que "contemporizem" com eles na 'Generalitat', o que considera um calculo eleitoral para o 10 de novembro, avançando não acreditar "na estratégia de bom policia, mau policia" para tentar dividir estes partidos e os seus líderes.

"Queremos ordem e convivência", proclamou.

Desta forma, Pablo Casado exigiu que se coloque "ordem já" na Catalunha, com "proporcionalidade, mas com eficácia e firmeza", não só com a rutura dos pactos, mas também aplicando a Lei de Segurança Nacional.

Extrema-direita espanhola pede que política atue "de uma vez por todas" na região

O secretário-geral do partido Vox (extrema direita) pediu hoje ao governo espanhol que autorize "de uma vez por todas" a polícia a atuar "como sabe" na Catalunha e, em consequência, use "todo o material antidistúrbios".

Antes de participar numa manifestação da associação de polícias e guardas civis em Madrid, Javier Ortega Smith, o número dois do partido Vox, apelou também a uma intervenção das forças de intervenção da Guarda Civil, consideradas unidades militares de elite, para "irem em apoio" ao efetivo destacado para a Catalunha.

Para Javier Ortega Smith, "a responsabilidade do que acontece nestes momentos em Barcelona e nas ruas de outras cidades de Espanha" é do Governo.

"É urgente atuar contra os totalitários e terroristas" e "restaurar a ordem e a liberdade", acrescentou, apelando a uma ação "com firmeza e profissionalismo" e com "todas as tropas necessárias" na Catalunha.

Atualizado às 15:58.

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