Pierce Brosnan volta a ter ordem para matar

A série The Son estreia este domingo em Portugal no canal AMC e conta com o ex-James Bond à frente do elenco que se inspira no best-seller de Philipp Meyer sobre os reis do petróleo no Texas.
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Há três décadas, quando Pierce Brosnan ainda não tinha sido James Bond nem se tornara mundialmente conhecido, participou na série de TV Remington Steele que teve grande longevidade: 94 episódios. O ator está de volta ao formato televisivo, mas tantos anos depois a temática é em tudo diferente: o Oeste americano em vez do um ladrão sofisticado de antigamente. Apesar de a antiga série ter sido reposta nos ecrãs em 2013, desta vez Pierce Brosnan regressará apenas em dez episódios da nova saga que protagoniza e que terá estreia este domingo, intitulada The Son, onde interpreta um patriarca do velho Oeste. Com ordem para matar a seu bel-prazer.

Nas entrevistas de promoção da série, Brosnan já disse que o papel está perfeito para si mas nega que se siga uma sequela da anterior participação: "Esse é trabalho para outro ator, que não tenha uma barba grisalha como a minha." Como é o seu caso em The Son, onde adota uma pose que lembra um Bond do tempo de Sean Connery quando acende o cachimbo, mas bem diferente do 007 no que respeita à arma preferida, pois desta vez empunha uma espingarda.

Esta série que estreia no canal AMC é inspirada no livro de Philip Meyer, O Filho, finalista do Pulitzer, onde o escritor relata a saga de três gerações ao longo de 150 anos; rápidos no gatilho e sólidos na criação de uma das grandes famílias poderosas do antigo Texas. Faz o papel de Eli McCullough que resulta de uma ótima reconstrução literária desses tempos épicos da indústria petrolífera e que foi um dos best-sellers no ano em que foi publicado, e que, admite Brosnan, teve uma muito boa adaptação para a televisão. Ou seja, o ator do grande ecrã também foi seduzido pelo pequeno ecrã, e não será por acaso que diz que a escrita deste formato está a cargo de grandes autores, diretores e atores mais jovens, que transformam o livro original numa série empolgante.

O regresso de Pierce Brosnan não acontece por acaso, pois ele próprio confessou à imprensa que há cinco anos que esperava por esta oportunidade: "Queria regressar, mais ainda cada vez que via as novas séries fabulosas aparecerem a cada ano". A desistência do ator Sam Neill precipitou o seu regresso, como confessa: "Fiquei muito satisfeito em poder substituí-lo porque foi no melhor momento e, porque não dizer, com a idade própria." Mesmo assim, a experiência poderá ficar apenas por dez episódios se não mudar de ideias: "Não serei capaz de ir além destes episódios, o ritmo da TV é brutal. Assinei contrato nestes moldes e vou ficar a ver para onde o vento me leva."

Mesmo que atuação de Pierce Brosnan tenha críticos, que dizem ser muito fleumático, pouco bruto e com um sotaque duvidoso, é ele o grande chamariz. Também a adaptação do livro de Meyer na série The Son não obedece exatamente ao que fez dele um sucesso literário, porque os argumentistas retiraram uma às três grandes linhas que estruturavam o romance, de forma a torná-lo mais apetecível para os espetadores. Assim sendo, não faltará ação porque os primeiros episódios são a ferro e fogo, com uma versão mais jovem de Eli McCullough, interpretado pelo ator Jacob Lofland, que recupera um dos momentos épicos do romance: o rapto do futuro Brosnan pelos índios Comanche após terem assassinado toda a sua família. O jovem acostuma-se aos modos selvagens, apaixonar-se-á, até que o cenário passa de 1849 para o ano de 1915, onde Brosnan já é proprietário de um grande rancho.

Há quem diga que os episódios com o jovem Eli fazem lembrar o filme de Kevin Costner, Dançando com os Lobos, mas rapidamente a atualização do tempo em que The Son decorre apaga as semelhanças. Até porque as diatribes do patriarca deixam bem longe a alegada selvajaria das tribos índias aqui retratadas. E tudo o que já se disse sobre a série pode ser resumido naquilo que é considerando ser o grande padrão daquela época da história do Texas, que é em muito o da marginalização e das relações de poder. Segundo um responsável, o argumento pode resumir-se assim: "as tribos marginalizam-se umas às outras; são marginalizadas pelos mexicanos e pelos conquistadores do Oeste; estes marginalizam-se entre si; ricos e pobres também se marginalizam e, para acabar, todos marginalizam as mulheres".

Segundo o canal AMC, The Son explora a ascensão da família McCullough no setor petrolífero no princípio do século XX até se tornar numa das famílias mais poderosas e ricas do Texas. A série acompanha a transformação de Eli McCullough, que passa da benevolência para a violência mais calculista na sua forma de fazer negócios.

Segundo a revista especializada Variety, The Son é perfeita para quem procura uma série centrada num homem com um passado duvidoso e segue os passos dos anti-heróis. Ou seja, considera que Pierce Brosnan ao fazer de Eli McCullough em pouco se diferencia de Don Draper em Mad Men ou Walter White em Breaking Bad, só que o protagonista McCullough é sempre inesperado nas suas decisões e constantemente rodeados de personagens com total falta de caráter.

Seja como for, The Son aparece numa época em que o western volta a ser um fruto apetecível para as séries de TV. Mesmo que quem já tenha visto os episódios eleja o protagonista McCullough e o filho Pete como os únicos bem estruturados e refira os restantes como clichés. Nada diferente do que sempre foi feito em filmes que misturam brancos, mexicanos e índios no mesmo cenário. Ou seja, The Son vive do prestígio da estrela Pierce Brosnan.

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