Peter Pan e Alice pelo engenho e arte das Marionetas do Porto
Mais de cem anos passaram depois das muito conhecidas aventuras na Terra do Nunca. Peter Pan vai para Londres com Wendy, casam, têm filhos, o tempo corre. De volta aos dias de hoje, existe um rapaz adolescente chamado Nunca, o seu nome é um mistério, mas não a sua ligação a Peter Pan. Terá como destino o resgate da Terra do Nunca da era das Trevas em que ficou depois da saída do bisavô. Companheiros insólitos vão guiá-lo nesta missão como o Monstro do Nunca ou a eterna Fada Sininho, "com uns quilinhos a mais". O vilão é agora o Capitão-Garfo, que ocupou o lugar do avô Capitão-Gancho. Poderá o menino Nunca trazer de volta a magia? O resgate da infância perdida de Peter Pan através da composição de imagens, em que marionetas, cenografia e música conduzem a viagem na teia do sonho e da emoção.
Rui Queiroz de Matos, 35 anos, é o único intérprete humano de Nunca em palco. Também é dele a autoria do texto, dos cenários e da encenação. Trabalho, inspiração e muito amor pela profissão de elemento residente na companhia cujo convite partiu do fundador e mentor (já falecido) João Paulo Seara Cardoso. Rui Queiroz de Matos integra a equipa dos que levam o sonho adiante de aliar a contemporaneidade à linguagem poética das marionetas. A todos, une a paixão pelos bonecos que ganham vida em palco. E a magia faz o resto. "Esta peça é o meu primeiro solo em 20 anos de carreira. Escrever e interpretar Nunca tem sido um desafio enorme. Ir para palco partindo do que escrevi é muito mais difícil porque retira a perspetiva, e, claro, decorar quase 20 páginas de texto porque todas as falas são minhas", conta.
O marionetista revela que desde miúdo sente uma ligação pessoal à história original publicada em 1904 por J. M. Barrie, escritor e dramaturgo escocês. "Acho que sofro saudavelmente do síndrome de Peter Pan, sempre me identifiquei muito com ele, talvez seja uma criança que não quer crescer!", conta. Característica que certamente o liga às quase 20 marionetas em cena, às quais Rui atribui um personagem mas não só. "Sim, é verdade, são como membros da equipa. Há um carinho muito grande. Aliás, elas nascem, vão insuflando de vida e crescem, crescem todos os dias", explica.
Mas o ritual que cumpre antes do pano subir não as envolve. "Quando estou a aquecer, sozinho, antes de lhes pegar, faço sempre o circuito da esquerda para direita e digo uma oração", partilha.
Alice para gente grande
No que toca ao público adulto, "é uma partilha muito diferente". O ator diz que Wonderland, o espetáculo para adultos que vai subir ao palco do Grande Auditório do CCVF na noite deste sábado e cujo elenco também integra ao lado de Micaela Gomes, Shirley Resende e Vítor Gomes, pretende passar a mensagem de que é "possível e necessária uma certa dose de loucura para enfrentar a realidade. Não há que ter medo de ser o Chapeleiro Louco", remata.
Na peça, é abordado o universo fantástico e povoado de nonsense do diácono anglicano, fotógrafo e celebrado professor de matemática de Oxford, Charles Dodgson, mais conhecido por Lewis Carroll. Aqui, as personagens das histórias de Alice no País da Maravilhas libertam-se do jogo da linguagem e emergem na sua dimensão onírica. É essa dimensão de fantasia que Rui Torrinha, programador artístico d"A Oficina, a régie cooperativa responsável pela gestão e programa do CCVF, quis trazer, não só às crianças mas também aos pais, pois acredita na força das marionetas como um universo de criação muito forte e educativo. "Faz todo o sentido que seja no início do ano para deixar no ar esta ligação à fantasia também por parte dos adultos." As três sessões infantis estão praticamente esgotadas mas há bilhetes para Wonderland num fim de semana imaginado para toda a família em Guimarães.
Nunca e Wonderland
Nunca: hoje às 10.30 e às 15.00, amanhã às 16.00 - Espaço Oficina - 2 euros
Wonderland: sábado às 22.00 no Grande Auditório do CCVF - 5 euros