A Câmara Municipal e a Associação de Pescadores e Armadores da Nazaré entregaram esta quarta-feira no Ministério da Agricultura e do Mar as últimas sardinhas capturadas pelos pescadores locais, juntamente com um pedido: "deixem os pescadores trabalhar"..Esta ação simbólica pretendeu sensibilizar o Governo para negociar a quota sugerida pelo Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES), que contestam..O ICES defende, para 2016, que a quota ibérica de captura de sardinha seja fixada em 1.587 toneladas, o que representa "uma redução de 90% em relação a 2015", segundo o presidente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro.."Se o Governo, este ou outro qualquer, aceitar a redução proposta pelo ICES, o que se prevê é a miséria para estes pescadores. Não é concebível termos declarações públicas do secretário de Estado do Mar, em que há um mês dizia que se este ano fossem pescadas 30 mil toneladas ainda assim o stock crescia 2%, e termos depois uma proposta do ICES de reduzir de 19 mil toneladas em 2015 para 1.587 em 2016. É uma redução de 90%", frisou..Questionado sobre os subsídios dados pelo Governo aos pescadores para colmatar essa redução, o autarca defendeu que os valores em causa "não vão tirar os pescadores da miséria"..Para Walter Chicharro, "20 a 24 euros diários para um pescador, cerca de 600 euros mensais, não é nada, não é algo que possa criar condições para que possa alimentar a família, para que possa ter os filhos na escola e para que possa ter o mínimo de dignidade no dia-a-dia"..Afirmando que aquela redução irá "lançar 100 famílias na Nazaré e muitas mais no país na total miséria", o presidente da Câmara frisou que "é preciso criar condições para que [os pescadores] possam fazer o seu trabalho"..Por seu lado, o presidente da Associação dos Armadores da Nazaré, Joaquim Zarro, pediu ao Governo para deixar os pescadores trabalhar e instou todos os pescadores do país a manifestarem-se, caso prossiga a redução de 90% na quota da sardinha para 2016.."Pedimos aos ministros todos: por favor, deixem-nos trabalhar. Deixem-nos apanhar sardinha. Façam um limite, mas deixem-nos trabalhar. E peço a todos os pescadores de Portugal: se isto continuar assim, venham a Lisboa todos juntos, com força, porque nós queremos trabalhar", frisou..Joaquim Zarro admitiu, ainda, que a ministra Assunção Cristas possa ter sido enganada com a informação de que há falta de sardinhas, porque "há imensa no mar".."Há anos que não se vê tanta quantidade de sardinha júnior, de petinga" como agora, assegurou..O armador explicou, ainda, que a "sardinha faz um percurso de sul para norte", por isso, se "não é apanhada em Portugal, é apanhada pelos nossos vizinhos em Espanha e França"..A Câmara e a Associação de Pescadores e Armadores da Nazaré entregaram 30 sardinhas à ministra da Agricultura e outras 30 para serem entregues ao primeiro-ministro..Numa nota enviada à Lusa, o Ministério da Agricultura e do Mar fez saber que as sardinhas foram entregues a uma instituição de solidariedade indicada pelo Banco Alimentar.