Mattia Perin, de 26 anos, vai reforçar a baliza do Benfica e é esperado nesta quarta-feira em Lisboa para assinar um contrato válido por cinco temporadas com o clube da Luz (negócio incluiu a transferência do jovem benfiquista João Ferreira no sentido inverso). Nascido em Latina, a noroeste de Roma, o guarda-redes tem um longo historial de lesões, mas que nunca foram impeditivas de ter clubes interessados. Prova disso foi o facto de a Juventus o ter contratado ao Génova na temporada 2018-2019, quando Buffon saiu para o Paris Saint-Germain..Desde a temporada 2010-2011, quando se estreou profissionalmente, Perin esteve mais de 500 dias parado devido a lesões. As épocas 2015-2016 e 2016-2017 foram autênticos calvários para o guardião internacional italiano, que sofreu mazelas muito graves que o deixaram bastante tempo fora dos relvados..Em abril de 2016, no Génova, Perin rompeu o ligamento cruzado do joelho direito, num jogo da liga italiana diante do Sassuolo, após um choque com o colega de equipa Ezequiel Muñoz, que o obrigou a ir à faca. O tempo de paragem foi de cinco meses e a lesão deixou-o inclusivamente de fora do Europeu de 2016, ele que era um dos eleitos do então selecionador Antonio Conte..O guardião voltou a jogar pelo Génova cinco meses depois (em setembro de 2016), curiosamente num jogo frente ao Sassuolo. Mas o azar voltou a bater-lhe à porta em janeiro, quando num jogo da 19.ª jornada do campeonato italiano, diante da Roma, sofreu nova grave lesão, outra rotura do ligamento cruzado, desta vez no joelho... esquerdo. E nova operação. Perdeu o resto da temporada e só regressou em agosto, ou seja, esteve sete meses parado.."É uma grande contratação da parte do Benfica, um investimento de grande qualidade. Não foi por acaso que o Perin chegou à Juventus. Apesar das lesões, é jovem para um guarda-redes e ainda tem grande margem para melhorar, apesar de ser já neste momento um dos melhores guarda-redes italianos. É muito conceituado aqui em Itália e desde jovem teve sempre grandes clubes da Europa interessados nele", disse Miguel Veloso ao DN, ele que jogou ao lado de Mattia Perin durante três temporadas no Génova. Por isso, o médio que jogou no Sporting e que agora está no Hellas Verona, de Itália, não tem dúvidas: "A baliza do Benfica estará muito bem entregue a Perin. Apesar de jovem é um líder e tem uma vasta experiência.".Por entre outras pequenas lesões, o guarda-redes italiano voltou a parar já neste ano. Desta vez a lesão foi menos grave - uma luxação no ombro direito sofrida num treino da Juventus -, mas que obrigou a uma pequena cirurgia, da qual ainda está a recuperar e só deverá voltar a jogar em setembro..A verdade é que mesmo perante este calvário de lesões, Perin nunca deixou de ter clubes interessados na sua contratação. No verão de 2018, após a saída do histórico Gianluigi Buffon para o PSG, a Juventus contratou-o ao Génova por 12 milhões de euros. Acabou por não ser feliz em Turim, não pelas lesões, mas porque nunca foi capaz de roubar o lugar a Wojciech Szczesny. Mesmo assim participou em nove jogos da liga italiana, encaixando um total de oito golos..Apesar de ter atuado poucos minutos nesta época, o nome de Perin foi constantemente associado a vários clubes. Em junho, por exemplo, falou-se no interesse do AC Milan, com o guarda-redes a surgir como o principal alvo caso Donnarumma deixasse os rossoneri para assinar pelo PSG. O interesse do Milan, aliás, era antigo, pois já em 2017 tinha estado nos planos do clube. Uma cobiça que na altura foi confirmada pelo diretor desportivo do Génova, e num momento em que Perin estava ainda a recuperar de uma grave lesão..Já esta época surgiu também nos planos da Fiorentina, da Roma, do Southampton e do Bournemouth, de Inglaterra. Assim como antes se falou do Nápoles e de outros clubes da Premier League, como o Newcastle, o Arsenal e até do Liverpool antes de contratar o internacional brasileiro Allison. Agora, com o regresso de Buffon a Turim, está de saída para o Benfica, negócio que, nesta quarta-feira, deve ser oficializado..Dos problemas de crescimento a melhor guarda-redes da Série B.Perin foi para guarda-redes quase por acaso. "No condomínio da casa onde vivia eram todos maiores do que eu. Com 5 ou 6 anos a minha mãe começou a deixar-me ir para a rua jogar futebol. E sempre que me passavam a bola, eu parava-a com as mãos. E por isso disseram-me para jogar à baliza. Sempre gostei de jogar como guarda-redes. Jogávamos nos parques de estacionamento e eu atirava-me para o chão de cimento sem problemas. No ano a seguir fui inscrever-me numa escola de futebol e disse logo que preferia jogar como guarda-redes. Eles agradeceram, porque não tinham ninguém que quisesse jogar à baliza", contou numa entrevista ao site rivistaundici.com..Por falar em altura, Perin admite que na infância e juventude teve alguns complexos. "Pensavam que eu pudesse ser anão ou ter algum problema de crescimento. Cheguei mesmo a fazer um teste aos ossos. Lembro-me de que muitas vezes quando os outros meus colegas treinavam no campo, eu pendurava-me numa barra a ver se esticava. Mas depois foi tudo despistado e não tinha qualquer problema", contou numa entrevista à Gazzetta dello Sport, ele que mede 1,88 metros..A carreira de Perin começou a ganhar forma aos 15 anos, quando jogava na formação do modesto Pistoiese e foi para o Génova por indicação de Gianluca Spinelli, atual treinador de guarda-redes do PSG que trabalhava no clube genovês e na seleção italiana. Na altura era baixo e por isso escapava ao interesse de outros clubes, por isso não hesitou quando recebeu o convite do Génova. "Era um pouco como estar num colégio americano. O Génova dava tanta atenção ao futebol como aos estudos", contou numa entrevista em 2015, ele que na altura partilhava o mesmo quarto com Stefano Sturaro, internacional italiano do Génova..A partir daqui foi sempre a subir. Em 2009-2010 ganhou o Campeonato Primavera, a competição juvenil mais importante de Itália, e na temporada seguinte foi cedido ao Padova. No final dessa época foi eleito o melhor guarda-redes da Série B (II Divisão italiana) e chamado à seleção italiana pela primeira vez por Cesare Prandelli, embora não se tenha estreado.."Vivi a chamada à seleção com entusiasmo, mas sem pressões. Na altura disse para mim mesmo: se me chamaram à seleção, eu tenho de provar que sou bom de qualquer maneira. Tenho uma máxima que ainda sigo e que é a seguinte. Quando jogo ao domingo e as coisas me correm não entro em euforias a pensar do estilo 'que bem que estive hoje'. Não. Prefiro pensar que me saí bem, mas que no outro domingo volto a jogar e que tenho de voltar a estar à altura para as pessoas não pensarem que foi um mero acaso", confessou..Depois do Padova teve a primeira experiência na I Divisão italiana, cedido pelo Génova ao Pescara. Sofreu nove golos nas três primeiras jornadas e terminou o campeonato com 66 golos no fundo das redes. Uma experiência que, contudo, considera que foi de extrema importância na sua carreira: "Foi uma etapa extremamente importante. Tinha estado dois anos na Liga Primavera, em que só ouvi elogios, e depois quando fui para o Padova as coisas correram bem e fui considerado o melhor guarda-redes do campeonato. No Pescara, com 18, 19 anos, parecia que tinha tudo em cima de mim. Mas esta experiência permitiu-me entender que tinha de trabalhar todos os dias para poder chegar ao objetivo que defini para mim." Depois seguiram-se cinco épocas no Génova de grande nível, antes de dar o salto para a Juventus na época passada..A solidão do guarda-redes e bungee jumping.Numa entrevista em 2013 ao site oficial da liga italiana, Perin comparou o papel de um guarda-redes ao de um tenista. E descreveu de uma forma curiosa os momentos solitários de um guardião: "É um pouco, apesar de o tenista não jogar em equipa, a mentalidade é a mesma, porque na maior parte do tempo estamos sozinhos. É preciso coragem para estar ali sozinho. O guarda-redes está um pouco ligado à ação dos colegas de equipa. Eu não posso sair a jogar, não posso tentar marcar um golo ou atuar como um médio, que quando corta uma bola diminui a tensão. O guarda-redes tem de esperar pelo seu momento. É também uma questão de paciência.".Nos momentos em que está sozinho na baliza, com a bola e os adversários longe, Perin tenta manter o foco puxando da imaginação: "O que me ajuda a concentrar é tentar imaginar o que o meu colega vai fazer com a bola. Vai avançar sozinho, vai passar ao colega do lado, vai fazer um passe de longa distância? E penso no que eu faria naquela situação. É um tipo de coisa que me ajuda a ficar dentro do jogo, a estar conectado com eles.".Perin não tem grandes superstições. Nos jogos de maior grau de dificuldade admite que existe uma maior ansiedade. Quando isso acontece, o guarda-redes tem um ritual. "Há uns anos cometi a loucura de fazer bungee jumping. Quando há jogos de maior responsabilidade fecho os olhos durante dez segundos e imagino que estou em cima de uma ponte pronto para saltar", contou, ele que tem como grande sonho um dia atirar-se do Grand Canyon e que já deu dois saltos de paraquedas a uma altura de 4200 metros - em pequeno sonhava ser astronauta..Curiosamente, tem Gianluigi Buffon como ídolo, precisamente o guarda-redes que lhe abriu as portas da Juventus em 2017, e que agora as fechou, ao regressar ao clube de Turim e ao deixar Perin sem espaço. "O Buffon é e sempre foi o meu ídolo. Ganhámos um Mundial com ele na baliza. Posso confessar que em criança tinha um poster dele na parede do meu quarto. E comprei as mesmas luvas que ele tinha, e as mesmas botas. Ter a oportunidade de treinar com ele é uma felicidade. Buffon é o número 1 dentro do campo e também fora, pois dá-te conselhos sábios", indicou, ele que durante anos foi suplente de Buffon na seleção italiana e que agora está 'tapado' na seleção transalpina por Donnarumma, do AC Milan - realizou apenas dois jogos amigáveis pela squadra azzurra, diante da Albânia (2014) e da Holanda (2018).