A Finlândia e a Suécia estão prestes a decidir se pedem adesão à NATO depois de mais de 70 anos a defender a neutralidade..Dois meses após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, os dois países nórdicos estão a repensar a sua política de defesa e o equilíbrio das relações na Europa pode mudar..Os dois países adotaram a posição de 'não alinhados' na II Guerra Mundial, apesar de ambos terem forças militares de defesa em relação à Rússia..A Finlândia, que partilha uma fronteira de 1.300 quilómetros com a Rússia, conquistou a independência deste país em 1917 e travou duas guerras contra o vizinho durante a II Guerra Mundial, nas quais perdeu algum território. Em 1948, assinou um Acordo de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua com a Rússia, consolidando um grau de dependência económica e política, que a isolou militarmente da Europa ocidental..Com o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, a Finlândia saiu da sombra da Rússia e adotou meios de dissuasão militar e relações amistosas com Moscovo para manter a paz..A Suécia, por seu lado, não trava uma guerra há 200 anos e a política externa do pós-guerra concentrou-se em apoiar a democracia internacionalmente, o diálogo multilateral e o desarmamento nuclear. O país preferiu não apostar na defesa militar, mas mantém o suficiente para, em caso de ataque, conseguir atrasar um avanço russo até que chegue ajuda..A NATO - ou Organização do Tratado do Atlântico Norte - é uma aliança de 30 países unidos por um acordo de "defesa coletiva", cujo artigo 5.º prevê que um ataque a um dos membros seja considerado um ataque a todos..A adesão à Aliança Atlântica colocará a Suécia e a Finlândia sob a égide do artigo 5º que fornece uma garantia coletiva contra qualquer agressão externa, exigindo que cada nação tome as medidas necessárias, incluindo o uso de forças armadas, para restaurar e manter a segurança da área de todos os países aliados..Apesar de a NATO já contar 73 anos, o artigo 5º só foi invocado uma vez na história: em defesa dos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001..A organização, também conhecida como Aliança Atlântica, foi criada no rescaldo da II Guerra Mundial, em 1949, como resposta dos países ocidentais à União Soviética e à expansão do comunismo. A resposta da então URSS e aliados foi o Pacto de Varsóvia..A Finlândia e a Suécia, que são vizinhas da Rússia, mantiveram a neutralidade em relação à União Soviética durante a Guerra Fria, mantendo um equilíbrio de relações com os dois lados, apesar de assinarem acordos de cooperação com a Europa e da adesão, em 1995, à União Europeia..A invasão da Ucrânia pela Rússia, na madrugada de 24 de fevereiro, suscitou preocupações nos dois países nórdicos e revelou-se um ponto de viragem ao levar a Finlândia e a Suécia a considerar um pedido de adesão à Aliança Atlântica..Refira-se que, mesmo sem terem ainda aderido à NATO, tanto a Finlândia como a Suécia já contam com alianças militares com países membros da Aliança, enquanto membros da UE..Segundo a imprensa sueca e finlandesa, o pedido de adesão deverá acontecer no final de maio e será feito em simultâneo. Ainda assim, o processo na Finlândia está mais avançado do que na Suécia..O parlamento finlandês iniciou no passado dia 20 o debate sobre a adesão, depois de a invasão da Ucrânia provocar um aumento do apoio político e da opinião pública à entrada do país na aliança militar. A primeira-ministra social-democrata, Sanna Marin, que lidera uma coligação de centro-esquerda formada por cinco partidos, e o Presidente Sauli Niinisto têm visitado diferentes países membros da NATO, garantindo apoio para uma possível candidatura..Numa questão de semanas, o apoio dos finlandeses à adesão, que estava nos 20-30% há décadas, mais do que duplicou ultrapassando os 60%..O Governo da Suécia também decidiu rever a sua política de segurança e deverá divulgar o novo plano antes do final de maio. A primeira-ministra, Magdalena Andersson, disse que quer esperar o resultado da revisão antes de tomar qualquer decisão..A questão tornou-se central na pré-campanha das eleições gerais de setembro na Suécia e a opinião pública terá um papel na tomada de decisão..A apoio dos cidadãos suecos à adesão não é tão expressivo como o dos finlandeses, mas uma sondagem divulgada no passado dia 21 revela que a maioria dos suecos (51%) é a favor da adesão do seu país à NATO, percentagem que tem vindo a aumentar, há uma semana eram 45%..Embora a adesão leve normalmente meses ou anos para acontecer, já que os candidatos têm de passar por discussões formais com os líderes da NATO e obter uma aprovação unânime, a Finlândia e a Suécia terão, provavelmente, um processo mais rápido e facilitado..Não só está a decorrer uma guerra na Europa, mas os países em causa já cumprem os padrões da aliança em termos de "controlo político, democrático e civil sobre as instituições de segurança e as forças armadas", como referiu o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg..Não, a Noruega tem um estatuto diferente que poderá ser o seguido pela Finlândia..Embora tenha sido membro fundador da NATO, a Noruega decidiu não virar costas por completo a Moscovo ao não permitir bases militares estrangeiras e armas nucleares no seu território, além de impor limitações aos exercícios da organização..Apesar de ter começado, nos últimos anos, a participar muito mais das medidas de defesa da NATO, o país - que também tem uma fronteira de 196 quilómetros com a Rússia - mantém o modelo "mais suave" de participação..Um responsável finlandês citado pela revista Foreign Policy admitiu que o "modelo da Noruega" está a ser considerado, afirmando que o país "não precisa desesperadamente de bases estrangeiras porque tem as suas próprias"..Embora as forças armadas da Finlândia sejam menores do que as principais nações europeias da NATO - como o Reino Unido, a França ou a Alemanha --, a sua longa preparação contra uma eventual agressão russa tornou o país num dos mais poderosos em termos de artilharia, vigilância do espaço aéreo e prontidão de mísseis..No caso da Suécia, o modelo a adotar será, mais provavelmente, o "tradicional"..O Presidente russo considera a expansão da Aliança Atlântica uma ameaça para o seu país..Com a Turquia a apoiar o sul da NATO e os estados bálticos a fazerem de linha oriental da aliança, a entrada da Finlândia e da Suécia no Norte sinalizaria precisamente o tipo de grande aliança que Vladimir Putin teme, até porque a entrada da Finlândia duplica a fronteira da NATO contra Moscovo..No dia 14 de abril, o vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitri Medvedev, ameaçou com o destacamento de armas nucleares no Báltico se a Suécia e a Finlândia aderirem à NATO.."Será necessário reforçar o agrupamento de forças terrestres, defesa antiaérea, destacar forças navais significativas nas águas do Golfo da Finlândia. E, então, já não poderemos falar de um Báltico sem armas nucleares. O equilíbrio deve ser restabelecido", referiu Medvedev..No dia seguinte, Moscovo reafirmou a advertência de que uma eventual adesão dos dois países terá consequências para os a Finlândia e a Suécia e para a segurança europeia..Os dois países "devem compreender as consequências de tal passo para as nossas relações bilaterais e para a arquitetura de segurança europeia como um todo", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.