Perfis cruzados de Merkel e Steinbrück

Angela Merkel e Peer Steinbrück são os dois principais candidatos à chanceleria alemã nas eleições legislativas de dia 22 de setembro. Ela é líder da CDU e tem o apoio da CSU, congénere bávara dos democratas-cristãos, ele é líder do SPD. A chanceler conservadora tem 59 anos e o seu rival social-democrata tem 66. Fique a saber aqui um pouco mais sobre os perfis de ambos.
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VIDA PRIVADA

Angela Merkel

Nasceu em Hamburgo, na Alemanha Ocidental, a 17 de julho de 1954, mas pouco tempo depois a sua família parte para Templin, na ex-RDA. Foi aí que cresceu e estudou. Filha de um pastor luterano, Angela Dorothea Kasner casa-se, em 1977, com o estudante de física Ulrich Merkel. Divorcia-se em 1982, mas conserva o nome do ex-marido, até hoje. Divorcia-se em 1982. Já conheceria Joachim Sauer, professor de química, com quem acabou por casar em 1998. O casal vive em Berlim e a candidata da CDU/CSU diz que gosta de cozinhar para ele sempre que pode. É uma boa forma de aliviar a pressão que sente por ser uma das mulheres mais poderosas do mundo. Merkel e Sauer não têm filhos em comum.

Peer Steinbrück

Nasceu em Hamburgo, a 10 de janeiro de 1947, filho de um arquiteto. Começou a jogar xadrez com apenas seis anos de idade. Economista, é um homem de palavras fortes. É casado com Gertrud, uma professora de biologia já reformada, tem três filhos, duas raparigas e um rapaz. O casal vive em Bona. Segundo o jornal alemão 'Bild', Strinbrück recebeu recentemente em casa uma carta anónima, dirigida à sua esposa, ameaçando contar que o casal empregou uma ilegalmente uma filipina há 14 anos caso Steinbrück não abandonasse a candidatura à chanceleria alemã.

"Deveria convencer seu marido discretamente a retirar sua candidatura por motivos pessoais antes de 10 de setembro", dizia a carta. Gertrud Steinbrück, esposa do líder social-democrata, explicou ao 'Bild' que uma filipina, que já era empregada da sua mãe, limpou sua casa uma vez por semana em 1999. A pessoa, casada com um jardineiro da embaixada das Filipimas em Bona, esteve contratada durante alguns meses. Foi-lhe oferecido contrato legal, garante a mulher do candidato do SPD, mas ela recusou, pois como o marido perdera autorização de residência na Alemanha ela só podia trabalhar de forma ilegal. "Eles queriam permanecer na Alemanha porque a sua filha tinha problemas de cegueira e aqui tinha melhores oportunidades de tratamento", afirmou Getrud, citada pelo jornal 'El Mundo'. Sublinhando sempre que teria preferido contratar a empregada de forma legal, a mulher de Steinbrück acrescenta que lhe ofereceu "500 euros". "Estou certa de que, naquele momento, fiz o que era correto para a minha família e também para a sua. Que queiram agora chantagear o meu marido por isso é infame e deixa-me sem palavras", disse, numa altura em que o caso foi entregue às autoridades.

ESTUDOS, CARREIRA E RELAÇÃO COM A EX-RDA

Angela Merkel

Cresceu na ex-RDA. Estudou física e química na Universidade de Leipzig. Trabalhou como assistente na Academia de Ciências de Berlim e deu apoio a uma tese sobre química em 1986. Chegou a pertencer à Juventude Livre Alemã e graças a ter convivido com o regime comunista sabe falar bem o russo. Quando o muro de Berlim caiu, a 9 de novembro de 1989, estava numa sauna.

Peer Steinbrück

Após serviço militar de dois anos, estudou ciências económicas e sociais na Universidade de Kiel. A Stasi tinha um dossiê sobre ele. Consistia, em grande parte, em informações sobre o que fazia e dizia durante as visitas a uma prima sua na Turíngia. O informador da polícia secreta da ex-RDA era o marido da prima. Steinbrück nega que alguma vez algum serviço de informações o tenha tentado recrutar. Steinbrück trabalhou em vários ministérios e chegou a trabalhar para a chanceleria como representante da Alemanha Ocidental em Berlim-Leste.

A CARREIRA POLÍTICA

Angela Merkel

Após a queda do muro de Berlim, Merkel acabou por juntar-se à Aliança eleitoral pela Alemanha e depois à União Democrata-Cristã (CDU), partido de que é líder desde 2000. Foi ministra de Helmut Kohl, que dada a sua juventude a tratava como "a minha menina". Eleita chanceler em 2005, após a derrota de Gerhard Schröder, governou durante quatro anos coligada com o partido dele, o SPD. Reeleita em 2009, aliou-se desta vez aos liberais-democratas do FDP. E agora espera para ver com quem terá de negociar, se for novamente eleita chanceler, para um terceiro mandato consecutivo.

Peer Steinbrück

Aderiu ao Partido Social-Democrata (SPD) nos final dos anos 60 do século XX, trabalhou em vários ministérios e ocupou o seu primeiro cargo de relevândia como chefe de gabinete do ministro-presidente do estado da Renânia do Norte-Vestefália Johannes Rau. Ali regressou, várias vezes, como ministro da Economia, Infra-estruturas e Finanças e, em 2002, como ministro-presidente. Seria, no entanto, a sua derrota nas eleições regionais desse estado que, três anos mais tarde, levariam Schröder a convocar legislativas antecipadas na Alemanha. O SPD perdeu o escrutínio. A CDU/CSU ganhou-o. No Governo de Grande Coligação foi ministro das Finanças e, como tal, um dos responsáveis pela aprovação na Alemanha do chamado "travão à dívida" inscrito na Constituição.

POPULARIDADE

Angela Merkel

Após oito anos no poder, Merkel goza de elevada taxa de popularidade, nomeadamente por causa da forma como tem respondido à crise na Zona Euro. Exigindo rigor, austeridade e reformas aos mais Estados mais aflitos, em troca de assistência financeira. Seja ela sob a forma de resgate total, como é o caso de Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre. Seja ela sob a forma de resgate parcial, como é o caso dos bancos de Espanha. Ela promete continuar a ajudar, mas mantendo sempre as exigências e a pressão. Rejeita uma falsa solidariedade entre Estados da UE. Oito anos depois conseguiu dar mais cor à sua imagem, literalmente, uma vez que a candidata da CDU/CSU se tornou conhecida pelas seus blazers de mil cores ou pelas suas malas coloridas de marca. Mais recentemente, foram os colares que começaram a fazer furor. Foi o caso do que usou, com as cores da bandeira alemã, durante o único debate televisivo que travou com o seu rival social-democrata Peer Steinbrück. À falta de consenso entre comentadores e sondagens sobre o vencedor do frente-a-frente, os internautas alemães resolveram contribuir para um veredicto através do Twitter. Nesta rede social o assunto mais comentado do debate foi o colar de Merkel e, por isso, o vencedor.

Peer Steinbrück

Popular enquanto ministro das Finanças da Grande Coligação, até 2009, Steinbrück, cujos méritos como economista são reconhecidos, tem agora mais dificuldade em afirmar a sua imagem. Há quem fale de falta de carisma, um ar apagado e antiquado. Há quem lhe chame tecnocrata frio. Há quem o classifique como "candidato invisível a chanceler" da Alemanha. Com ou sem razão, os resultados do escrutínio deste domingo o dirão. Tudo depende do tamanho da vitória ou da derrota do SPD, um partido que assinalou este ano um século e meio de existência. Steinbrück deixou muitos alemães perplexos ao aparecer, no último fim-de-semana antes das eleições, na capa da revista 'SZ Magazin' exibindo o dedo médio. O candidato social-democrata foi muito criticado, mas defendeu-se dizendo que a sua participação na iniciativa daquela revista alemã bem como as respostas que deu às perguntas que lhe foram colocadas, tinham sido espontâneas. Steinbrück foi uma das figuras públicas convidadas para a iniciativa "não diga nada", em que deveriam responder às perguntas com gestos e não com palavras. A pergunta à qual respondeu com o gesto do dedo médio foi: "Peer-Gafe, Peer-Problema, Peerlusconi - não tem qualquer problema com as alcunhas que lhe dão, pois não?".

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