"Pequenos Mussolinis": Salvini manda Moscovici lavar a boca
A relação que já se previa difícil entre a Comissão Europeia e o novo governo anti-sistema italiano ganhou um novo foco de tensão com as declarações desta quinta-feira do comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, que falou na existência de "pequenos Mussolinis na Europa". Em resposta, Matteo Salvini, líder da Liga do Norte e ministro do Interior do executivo italiano, mandou Pierre Moscovici "lavar a boca".
Moscovici abordou, numa conferência de imprensa em Paris, a ascensão de movimentos de extrema-direita na Europa e admitiu que o ambiente atual faz lembrar o da década de 1930, quando Hitler e Mussolini estavam no poder. No entanto, acrescentou o comissário francês, "felizmente não se ouve o som das botas cardadas, não há um Hitler, mas talvez tenhamos pequenos Mussolinis. Isso ainda está para se perceber".
Palavras sem destinatário assumido mas que foram encaixadas por Salvini como um ataque aos movimentos que constituem o governo italiano, que além da Liga do Norte, anti-imigração, inclui o eurocético 5 Estrelas. "Ele devia lavar a boca antes de insultar a Itália, os italianos e o seu governo legítimo", reagiu o ministro e líder da Liga do Norte num comunicado. "O comissário europeu Moscovici, em vez de censurar a sua França, que bombardeou a Líbia e rebentou com os parâmetros orçamentais europeus, ataca a Itália e fala de 'muitos pequenos Mussolinis' na Europa".
Mas Salvini não foi o único a censurar as afirmações de Moscovici. Num tom ainda assim menos belicoso do que o do seu congénere da Liga do Norte, o líder do Movimento 5 Estrelas referiu-se às atitudes de alguns comissários europeus como "inaceitáveis" e "verdadeiramente intoleráveis". "Eles atrevem-se a dizer que em Itália há muitos pequenos Mussolinis, não se deviam atrever", frisou Luigi Di Maio, que é também vice-primeiro ministro italiano.
A conferência de imprensa de Moscovici não se centrou apenas em comentários sobre a ascensão da extrema-direita na Europa, houve também remoques às contas de Itália, numa altura em que são noticiadas divergências dentro do governo sobre o orçamento. Tensão que tem afetado a confiança dos investidores nos mercados internacionais. "O orçamento italiano tem de ser credível, credível em termos nominais, mas também em termos de reformas estruturais que são necessárias", salientou o comissário europeu.
O governo italiano tomou posse a 1 de junho, três meses depois das eleições e depois de um primeiro elenco governativo ter sido chumbado pelo presidente Sergio Mattarella, por apresentar um ministro anti-euro para a pasta da economia. O governo que resulta da aliança entre a Liga do Norte e o Movimento 5 Estrelas é chefiado por Giuseppe Conte, um professor universitário de Direito.