Cinco minutos trágicos que podem ditar a sentença do dragão

FC Porto entrou nos últimos cinco minutos a ganhar por 2-0, mas permitiu ao Rio Ave chegar ao empate (2-2). Resultado vale liderança à condição, mas pode comprometer a luta pelo título e estende passadeira ao Benfica
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Com a meta do título tão perto e o sprint final tão apertado, no ombro a ombro com o Benfica que se tem prolongado nas últimas jornadas, o FC Porto deu um comprometedor passo em falso em Vila do Conde, deixando escapar uma vitória que parecia certa com a vantagem de dois golos à entrada para os últimos cinco minutos.

Inexplicavelmente, os dragões ainda se deixaram empatar, sofrendo dois golos do Rio Ave na ponta final da partida, e podem ver o Benfica fugir na frente, se ganhar em Braga no domingo. Para já, é até a equipa de Sérgio Conceição que está isolada na liderança, com mais um ponto do que o rival, mas saiu cabisbaixa deste jogo, a pensar no que pode ter ficado perdido em Vila do Conde.

Aliás, a imagem final da equipa portista, com Sérgio Conceição à frente, a oferecer a face envergonhada à bancada onde os adeptos azuis e brancos se dividiam entre o insulto e o aplauso, é um resumo poderoso do que pode significar este empate. Uma equipa de cabeça levantada, a assumir o pecado que lhe pode sentenciar a Liga e entregue à sorte que sair de Braga, onde o rival Benfica pode agora recuperar a liderança com dois resultados (vitória e empate), naquela que é teoricamente a mais difícil contagem de montanha que os quilómetros finais deste campeonato lhe reservam - mas, ressalve-se, para os encarnados ainda há também uma visita a este mesmo Estádio dos Arcos, na penúltima ronda.

Corona ao meio e o jogo no bolso

Com Corona a surgir próximo de Marega no centro de um ataque mais móvel e criativo do que o habitual, o FC Porto começou por fazer valer sobretudo a eficácia, que parecia resolver a questão sem obrigar o dragão a passar por grandes sobressaltos. Como tem acontecido nas últimas jornadas, a equipa de Sérgio Conceição chegou à vantagem no marcador ainda antes dos 20 minutos de jogo, ao primeiro remate que fez à baliza.

Um momento de grande raridade, sublinhe-se, protagonizado pela cabeça de Brahimi. O argelino, que costuma usar a cabeça mais para pensar o jogo e a forma de desequilibrar as partidas, desta vez surgiu mesmo a finalizar de cabeça, na área, uma jogada que ele próprio tinha desenvolvido. Otávio devolveu-lhe a bola com um cruzamento da direita que o argelino não enjeitou. Foi apenas o segundo golo de cabeça de Brahimi na Liga portuguesa, mais de três anos depois do que marcara ao Belenenses na época 2015/16.

Quatro minutos depois, o FC Porto parecia sentenciar a partida com o segundo golo, ao segundo remate. Desta vez no aproveitamento de um lançamento lateral longo atirado por Corona para a área do Rio Ave, onde a bola sobrou para Marega e o remate do maliano foi desviado por Junio Rocha antes de se aninhar nas redes. Com o resultado em 2-0 ainda antes dos 25 minutos, não passaria pela cabeça de ninguém que o jogo viesse a ter outro desfecho que não mais um triunfo portista neste sprint final pelo título.

Mesmo que o Rio Ave até tivesse começado a partida com um futebol prometedor a procurar a baliza de Casillas, a trocar bem a bola, a explorar os espaços laterais e a dar até os primeiros avisos de perigo, quando Bruno Moreira rematou por cima um belo trabalho de Gabrielzinho pela esquerda.

Isso era verdade, a equipa vilacondense tinha entrado a dar sinais de querer esticar a sua melhor fase sob o comando de Daniel Ramos, as duas vitórias consecutivas amealhadas nas jornadas anteriores, e apresentava-se arrojada.

No entanto, o FC Porto castigou cedo essa postura com a tremenda eficácia das suas rápidas transições para o ataque e pareceu deitar por terra o ânimo dos da casa, com a equipa de Sérgio Conceição a criar perigo sempre que acelerava os contragolpes, fosse pela profundidade de Marega (hoje até menos solicitada), fosse pela condução de Brahimi, Herrera, Otávio ou Corona, com a presença do avançado mexicano em zonas mais centrais a permitir uma dinâmica mais imprevisível.

Pé esquerdo de Nuno Santos liderou a revolta

O FC Porto, que podia até ter ampliado a vantagem antes do intervalo, "tinha" aí o jogo no bolso, aparentemente ganho e mais do que ganho. Mas o Rio Ave recuperou o ânimo nos balneários e regressou com vontade de não deixar os dragões passearem na segunda metade.

Bruno Moreira voltou a ter (e a desperdiçar) a primeira oportunidade, desta vez com um cabeceamento por cima, mas o FC Porto continuava a encontrar espaço para chegar à área contrária com alguma facilidade. Como aconteceu com Brahimi, que podia ter resolvido de vez, aos 55, quando surgiu isolado frente a Leo Jardim, mas viu o golo ser-lhe tirado das botas inextremis por um corte em carrinho absolutamente decisivo (e espetacular) do central Borevkovic.

Aos 72', um remate de Filipe Augusto desde o "meio da rua" acertou com estrondo na barra de Casillas e lançou o aviso que os dragões não pareceram levar a sério nos minutos finais. Com o pé esquerdo de Nuno Santos a apontar o caminho, os vilacondenses acreditaram que poderiam pelo menos marcar um golo e este surgiu aos 85', quando o esquerdino - que passou pela formação do FC Porto e do Benfica - aproveitou uma avenida na zona central da defesa portista e apareceu solto a picar a bola sobre Casillas.

De repente, o conjunto portista ficou sobre brasas para os minutos finais, a temer o pior. E ele aconteceu mesmo, com um remate de Ronan à entrada da área a embater em Alex Telles e trair o incrédulo guarda-redes espanhol. Um golpe que gelou Sérgio Conceição e toda a equipa do FC Porto, que pode ter enterrado em Vila do Conde a defesa do título.

O FC Porto tem 76 pontos, mais um (e mais um jogo) do que o Benfica, no topo da tabela.

Ficha de jogo

Jogo disputado no Estádio do Rio Ave FC, em Vila do Conde.

Rio Ave - FC Porto, 2-2.

Ao intervalo, 0-2.

Marcadores:

0-1, Brahimi, 18 minutos.

0-2, Junio Rocha, 22 (própria baliza).

1-2, Nuno Santos, 85.

2-2, Ronan, 90.

Equipas:

- Rio Ave: Leo Jardim, Junio Rocha, Rúben Semedo, Borevkovic, Afonso Figueiredo, Filipe Augusto, Tarantini (Jambor, 71), Nuno Santos, Gelson Dala, Gabrielzinho (Joca, 83) e Bruno Moreira (Ronan, 70).

(Suplentes: Paulo Vítor, Matheus Reis, Carlos, Ronan, Jambor, Joca e Messias).

Treinador: Daniel Ramos.

- FC Porto: Casillas, Militão, Pepe, Felipe, Alex Telles, Otávio (Bruno Costa, 87), Danilo, Herrera, Corona (Soares, 86), Marega e Brahimi (Manafá, 77).

(Suplentes: Vaná, Maxi, Bruno Costa, Óliver, Manafá, Mbemba e Soares).

Treinador: Sérgio Conceição.

Árbitros: Artur Soares Dias (AF Porto).

Ação disciplinar: cartão amarelo para Marega (21), Junio Rocha (38), Jambor (81 e 90+3)). Cartão vermelho por acumulação de amarelos para Jambor (90+3)

Assistência: Cerca de 6.000 espetadores.

Figura

Nuno Santos. O avançado esquerdino do Rio Ave, que só no último mês se estreou nesta edição da Liga depois de um longo período de lesão, fez um jogo em crescendo, assumindo protagonismo decisivo na parte final da partida. Depois de aquecer as mãos de Casillas aos 80 minutos, foi ele a apontar o caminho da surpresa, com o primeiro golo vilacondense, a cinco minutos do fim, quando se isolou frente ao espanhol e teve a calma e a classe suficientes para picar a bola sobre o guarda-redes portista. Foi o segundo golo nos últimos três jogos. E uma prova de que o talento está intacto.

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