Pela primeira vez um militar pode vir a comandar as secretas
Luís Francisco Botelho Miguel, atual segundo comandante da GNR, pode ser a nova escolha do primeiro-ministro para liderar o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). O nome deste tenente-general - promovido já neste governo - tem sido apontado em vários círculos (militares, policiais e das secretas) como favorito na corrida a superespião.
O gabinete de António Costa não comenta, mas o DN sabe que alguns membros de gabinetes governamentais foram consultados. Depois do desaire com o embaixador Pereira Gomes, a nova escolha terá de ser feita com o cuidado máximo, sem margem para erros.
Seria a primeira vez que um militar lideraria os serviços de informações portugueses, um perfil que vai contra a corrente internacional. Na Europa todos os dirigentes são civis e atualmente até as grandes agências secretas, como a CIA e a Mossad, que têm tido algumas vezes militares a comandá-las, têm neste momento civis na sua liderança.
O seu nome tem sido recebido no meio policial e das informações com muita desconfiança. Botelho Miguel já teve uma curta passagem pelo Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), onde foi diretor de Área, no final da década de 90 e de onde terá saído em conflito. No Exército também teve responsabilidades na intelligence, como chefe da Divisão de Informações Militares (DIMIL). Ter um militar a liderá-los, ainda mais com um histórico pouco positivo nos serviços, não é mesmo do agrado dos espiões, que preferiam alguém da "casa", como o atual diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Neiva da Cruz.
Um total desconhecido do grande público e sem história no Google, a não ser a das suas participações em cerimónias oficiais da GNR e o seu trabalho de investigação no curso de promoção a oficial-general, em 2008-2009: "A logística no contexto da interoperabilidade dos meios operacionais" foi o tema.
Está na GNR desde 2010, onde entrou como adjunto do comandante operacional. Comandou a Unidade de Intervenção, foi comandante operacional e em 2016, em vésperas de passar à reserva, foi promovido a tenente-general e nomeado segundo comandante. Miguel Macedo condecorou-o com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos de Segurança Pública, por proposta do comandante-geral Mateus Couto, considerando Botelho Miguel "um oficial de elevado valor e mérito reconhecidos".
Na GNR e nas outras forças e serviços de segurança, o perfil deste oficial general não é, de uma forma geral, considerado como adequado a desempenhar o cargo em causa. O DN ouviu vários oficiais e quadros, das polícias e militares, e apenas uma opinião positiva: "inteligente, organizado, exigente, racional, resiliente, meticuloso, de poucas falas e reservado", sintetizou um oficial da GNR que fez parte da sua equipa. Mas outras fontes do setor questionam a adequação do perfil de Botelho Miguel para o cargo.
Quem está na corrida
Com a saída do atual secretário-geral à vista, vários nomes têm sido falados no último ano. Entre eles estão:
Neiva da Cruz, o diretor do SIS
Numa altura em que a ameaça terrorista está na ordem do dia e foi a justificação para autorizar as secretas a acederem aos metadados das comunicações, a escolha deste espião com longa carreira nas secretas, seria bem acolhida no meio. Neiva da Cruz tem uma boa relação com a PJ, essencial na investigação do terrorismo e nos extremismos políticos.
Paulo Vizeu Pinheiro, diplomata
Este embaixador, que foi adjunto do ex-primeiro-ministro Durão Barroso e assessor diplomático de Pedro Passos Coelho, poderia ser o nome capaz de obter consenso entre o governo e o PSD. Além disso, tem conhecimentos neste setor, uma vez que foi diretor-geral adjunto do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).
Francisco Pinto dos Santos, procurador
Este procurador do Ministério Público, atualmente auditor jurídico no ministério da Justiça, chegou a ser dado como certo para substituir o atual secretário-geral do SIRP, Júlio Pereira. Homem de confiança do atual superespião, esteve colocado em Pequim, como antena dos serviços durante 12 anos.
Orlando Romano, o operacional
Homem de confiança e amigo pessoal de António Costa, este nome chegou a estar em cima da mesa, mas não mostrou disponibilidade. Saberia fazer a ponte fundamental entre secretas e polícias. Foi diretor da PSP e dirigiu o Combate ao Banditismo da PJ.