Enquanto em Almada, no 41.º Congresso Nacional do PSD, Luís Montenegro assumia com humildade, mas convicção, o desafio de merecer o voto dos portugueses nas próximas eleições legislativas, em Viana do Castelo, o candidato a (mas já autoproclamado) sucessor de António Costa no PS, Pedro Nuno Santos, deixava clara qual será a sua única estratégia de campanha: agitar, ad nauseam, o fantasma da extrema-direita..Não se pode dizer que esta abordagem, de resto já seguida por António Costa nas últimas legislativas, seja surpreendente. Quando se pertenceu a um Governo que liderou Portugal durante tantos anos, tendo tão pouco para apresentar como credenciais, só resta mesmo a alternativa de tentar semear a desconfiança em relação aos opositores, por mais que estes digam, e repitam, que "não, é não". Os argumentos válidos e honestos para convencer alguém a votar no PS estão cada vez mais difíceis de encontrar..E menos argumentos tem alguém que deixou esse Governo pela porta dos fundos, depois de uma trapalhada em que garantiu com veemência não ter aprovado uma indemnização de 500 mil euros a uma ex-administradora da TAP, entretanto também breve ocupante do cargo de secretária de Estado, para depois vir reconhecer que afinal o tinha feito, pelo WhatsApp, mas que se tinha esquecido. Isto, para citar apenas um dos vários casos polémicos envolvendo aquele que pretende ser o novo rosto socialista..Mas há outro motivo para o candidato a líder do PS assumir esta tática desde o início. O mesmo que o levou a recusar debates com os concorrentes internos no partido, por considerar que estes dariam "argumentos à direita". É que, embora não seja fácil disfarçá-lo, a Pedro Nuno Santos não convém que os eleitores moderados do centro, os tais que decidem eleições, se apercebam até que ponto ele está à esquerda dentro do seu próprio partido. Não lhe convém que saibam que, à mínima hipótese, irá lançar-se entusiasticamente nos braços da extrema-esquerda e adotar uma agenda de governação que fará os anos da geringonça parecerem um período de liberalismo económico..Com todos os seus defeitos e erros de julgamento, António Costa, durante a geringonça, funcionou muitas vezes como um travão às exigências mais radicais dos partidos que o apoiavam. Já Pedro Nuno Santos seria, com elevado grau de probabilidade, um fervoroso executante de políticas que nos conduziriam a mais carga fiscal, mais Estado, mais despesismo, mais burocracia, menos investimento estratégico, menos incentivos à iniciativa privada, menos apoios para as PME, menos rendimentos disponíveis para as famílias. Ou seja: iria, não apenas replicar, mas potenciar a fórmula que tem condenado Portugal ao empobrecimento..Enquanto Luís Montenegro reitera a sua confiança nas pessoas, na iniciativa privada, no empreendedorismo, e promete dar os passos, nomeadamente ao nível da fiscalidade e dos rendimentos, para tornar Portugal num país mais competitivo e menos desigual, o seu autoproclamado opositor nas próximas legislativas é um convicto crente numa visão estatizante e paralisadora da sociedade, à imagem e semelhança do que defendem os seus potenciais aliados. E é isso que ele não quer que os eleitores saibam..Mas mesmo sabendo o que o move, confesso que, talvez por ter o privilégio de presidir ao Instituto Francisco Sá Carneiro, me incomoda ouvir alguém, seja quem for, atrever-se a dizer que o PSD, partido fundador da nossa democracia, e que se bateu duramente para a preservar de todas as extremas - a esquerda e a direita - "não é de confiança" ou tem como "parceiro não-assumido" um partido cujos ideais estão nos antípodas dos valores da social-democracia que nos moldaram. A primeira coisa que se exige a alguém que tem a pretensão de vir a liderar um país é que tenha respeito pela sua história e pelas suas instituições..Eurodeputada do PSD