Pedro Nuno Santos: "Estado não fez com habitação o que fez com saúde e educação"
Pedro Nuno Santos defendeu esta segunda-feira, numa entrevista que marca o pontapé de saída do ex-ministro da Habitação e das Infraestruturas como comentador na SIC Notícias, que o Estado deveria ter um papel na habitação como tem na educação e na saúde.
"Não me sinto responsável pela crise. Habitação era prioridade do primeiro-ministro desde a primeira hora, desde Matos Fernandes e Ana Pinho. Durante 40 anos deixámos para o mercado a política de habitação. Não fizemos o que fizemos para a educação e para a saúde. Sou defensor de que o Estado deve ter um papel. Países Baixos tem perto de 30% de habitação pública, Portugal tem 2%", afirmou o ex-governante, que considera que o Governo poderia ter ido mais longe nos apoios às famílias que estão a pagar crédito à habitação, uma vez que o "BCE já aumentou as taxas de juro dez vezes".
O deputado socialista diz que a crise na habitação se deve a um maior investimento de portugueses e estrangeiros em imobiliário não só como habitação própria mas também como ativo financeiro, o que "desequilibrou o mercado".
Pedro Nuno Santos diz que o "pacote Mais Habitação vem complementar política do Governo., mas leva tempo". "É impossível ter casas prontas amanhã. No entretanto é preciso apoiar as famílias", vincou.
Em estreia como comentador, o ex-ministro diz que não vai ser oposição ao Governo nem porta-voz do Governo, mas admitiu que vai ser um "comentador assumidamente membro do PS e que apoia o atual governo", sem deixar de emitir as próprias opiniões, porque o "PS tem grande tradição de liberdade de expressão, desde os tempos de Mário Soares e Manuel Alegre".
Pedro Nuno Santos lembra que nunca negou que queria ser secretário-geral do PS nem primeiro-ministro mas que também nunca o confirmou, e recorda que a função de secretário-geral do PS "não está em causa".
O deputado socialista diz que a sondagem mais recente dá "algumas pistas interessantes do que poderá acontecer". "A sondagem diz que, apesar de tudo, o povo português confia no PS. PSD está numa encruzilhada na afirmação de um projeto. Julgo que o problema não é de liderança, é de projeto. Pela primeira vez, em muitas sondagens, a esquerda volta a ser maioritária", vincou, manifestando não ter qualquer ambição de se candidatar às eleições europeias.
Instado a comentar o Orçamento de Estado para 2024, que será apresentado esta terça-feira, Pedro Nuno Santos diz que não conhece o documento, mas não se mostra muito favorável a uma redução de IRS. "Quase metade das famílias não paga IRS. Quando baixamos o IRS, estamos a favorecer mais os do cima, menos os do meio e nada os de baixo. Estado precisa de investimento no Estado Social. É preciso investimento público e Estado Social", frisou.
Sobre a TAP, diz defender a abertura do capital da companhia aérea a "grupos de aviação estrangeiros, não a fundos, mas não a venda da maioria do capital". "A TAP é importante para o país e temos uma empresa saudável a dar lucro. A TAP dará muito mais do que 3,2 mil milhões de euros", vincou.
Acerca do novo aeroporto, critica o PSD por admitir retirar apoio à metodologia escolhida para a localização e reitera que aquilo que defende é "Montijo a curto prazo e Alcochete a longo prazo".