Pedro Nuno Santos: "É um momento difícil para a democracia" e para o PS

"Seria errado e injusto esquecer o legado dos governos de António Costa", destacou o antigo responsável pela pasta das Infraestuturas e Habitação que vai disputar a liderança do PS com o ainda ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro.
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"Apresento a minha candidatura ao cargo de secretário-geral do PS", disse, esta segunda-feira, o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos. Entre os apoiantes de Pedro Nuno Santos está Francisco Assis, atual presidente do Conselho Económico e Social, a quem o candidato à liderança do PS agradeceu a presença.

"Os portugueses tal como os militantes do PS conhecem-me. Conhecem as minhas qualidades e os meus defeitos, conhecem o meu inconformismo e a minha combatividade", disse Pedro Nuno Santos. "Conhecem a minha vontade de fazer acontecer e os meus sucessos. Conhecem os meus erros e as minhas cicatrizes. Sim, os erros que cometemos e as cicatrizes que carregamos fazem parte das nossas vidas", destacou.

Segundo este ex-ministro, "mais importante do que ter consciência dos erros é saber o que fazer com eles".

"Quem os comete, deve com eles aprender. E quem aprende com os erros, está preparado para os evitar e melhor decidir no futuro. Quem decide e faz não pode ter medo de os cometer", acrescentou, recebendo muitas palmas.

"Aqueles que não fazem e não decidem e que se limitam a gerir, esses raramente cometem erros", afirmou o candidato a líder do PS, admitindo que "este é um momento difícil" para o PS e "para a democracia".

"Não vou ignorar que o quanto os acontecimentos da passada semana abalaram as instituições de República e a sua credibilidade perante os cidadãos", reconheceu para depois prometer: "O combate à corrupção constitui uma tarefa prioritária indeclinável do Estado".

Perante a sala principal de reuniões da sede nacional do PS a abarrotar de militantes e simpatizantes deste partido Sublinhou "a necessidade imperiosa da observância das regras do estado de direito democrático, como a presunção de inocência e a independência do poder judicial".

"A justiça é central para o funcionamento de uma democracia de qualidade, mas o PS não vai passar os próximo quatro meses a discutir um processo judicial", considerou, referindo-se à operação Influencer.

Apresentou-se como "neto de sapateiro e filho de empresário", referindo que cresceu com as "dificuldades das famílias trabalhadoras", falando na tradição industrial do seu concelho, São João da Madeira, no distrito de Aveiro, para elogiar a concertação e o diálogo.

"O setor do calçado foi sempre um dos maiores exemplos de concertação social, de acordos entre trabalhadores e empresários. Foi esta cultura de diálogo, de negociação e de concertação que me ajudou nos anos em que trabalhámos diariamente com os partidos que apoiavam o Governo do PS", disse.

Elogiou o primeiro-ministro, António Costa, que, segundo disse, "derrubou os muros" com a esquerda parlamentar. "Um dos melhores políticos que conheci", sublinhou.

Referiu-se ao papel do primeiro-ministro na pandemia. "Estes anos não foram apenas anos de gestão de crises", disse Pedro Nuno Santos.

E sobre os "maiores desígnios" de Costa disse: "emprego, emprego, emprego", atribuindo ao primeiro-ministro a criação de 600 mil postos de trabalho.

"Seria errado e injusto esquecer o legado dos governos de António Costa", destacou.

Pedro Nuno disse que iria apresentar, nos próximos meses, as ideias desta candidatura em diversas áreas e falou em "três preocupações centrais": "Em primeiro lugar, os salários. Sem salários dignos, os trabalhadores não se sentirão nem reconhecidos nem respeitados. Sem salários dignos não conseguiremos estancar a emigração dos jovens".

"Portugal só conseguirá ser um país desenvolvido e próspero se valorizarmos e respeitarmos todos os que hoje trabalham, bem como os idosos que trabalharam toda uma vida, e os jovens que farão o futuro do nosso país", afirmou.

Disse ainda que sem salários dignos no presente e pensões dignas no futuro "sem empresas fortes e rentáveis.

No que se refere à habitação, a segunda preocupação, disse "ainda estamos muito longe do parque público que precisa, é verdade, mas o trabalho que iniciamos não tem precedentes na história recente".

"Já depois da minha saída, o Governo adotou mais medidas para dar uma resposta imediata ao problema", enfatizou, referindo-se aos apoios às rendas.

A terceira prioridade da candidatura de Pedro Nuno Santos é a valorização do território, referindo que "os portugueses que vivem fora de uma estreita faixa do litoral sentem-se, há muitas décadas, cidadãos abandonados num território esquecido". "Damo-nos ao luxo de não aproveitarmos plenamente mais de 70% do território", lamentou.

Pedro Nuno Santos criticou depois a direita: "É muito importante lembrar que a direita não cumpre as suas promessas nem faz o que apregoa".

"A direita fala muito em controlo das contas públicas, mas no seu último governo começou o seu mandato com a divida pública nos 114% do PIB, e acabou com 131%", detalhou, entre aplausos. Acusou ainda a direita de ter cortado "salários e pensões quando prometeu que não o faria". "A direita cortou na saúde e na educação quando prometeu que não faria. Aumentou impostos quando prometeu que não o faria", reforçou.

"É muito importante lembrar todas estas promessas que a direita prometeu e não cumpriu porque ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer", declarou ex-ministro afirmando que a direita "não tem credibilidade".

Pedro Nuno Santos disse nos 50 anos do 25 de Abril "será a primeira vez que o país poderá eleger um líder que já nasceu em liberdade".

"Nessa data seremos muitos os milhões que, como eu, tiveram a sorte de viver toda a sua vida numa sociedade com as instituições essenciais de um Estado de direito democrático e social", disse.

Já no final da sua declaração, procurou descolar da ideia de ser esquerdista e radical.

"Muito se tem falado de uma suposta divisão no PS entre uma ala centrista e moderada e uma ala de esquerda e radical, mas esta discussão tem pouco sentido, alimenta conflitos artificiais e apenas serve a quem combate o PS. Na pluralidade que sempre existiu neste partido, o que está em causa não é uma disputa entre a moderação e o radicalismo", sustentou.

Pelo contrário, de acordo com Pedro Nuno Santos, na disputa que terá com o ainda ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, na corrida à liderança dos socialistas, "está em causa quem, num dado momento, está em melhores condições de unir o partido, é mais capaz de adequar os valores do PS a um dado contexto histórico, e é o melhor intérprete e executante do projeto de transformação do país de que o PS tem de ser o portador".

Pedro Nuno Santos entrou na sala às 18:12 com o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS Francisco César, um dos dirigentes socialistas mais ligados ao ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação.

Além de Francisco Assis, estiveram presentes o ministro da Educação, João Costa, a presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, Luísa Salgueiro, a presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, o ex-ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, os ex-secretários de Estado Hugo Mendes e João Paulo Rebelo, o líder da JS, Miguel Costa Matos, e a sua antecessora neste cargo Maria Begonha.

Na sede nacional do PS, estavam dezenas de deputados, entre eles os vice-presidentes da bancada Rui Lage, Carlos Pereira, a constitucionalista Isabel Moreira, e líderes federativos deste partido como Hugo Costa (Santarém), João Portugal (Coimbra), Eduardo Vítor Rodrigues (Porto), Luís Testa (Portalegre), entre outros.

Destaque ainda para a presença do dirigente da UTG José Abraão e da líder das mulheres socialistas Elza Pais.

Com Lusa

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