O ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos voltou a afastar qualquer hipótese de acordos de governação ou incidência parlamentar com o PSD caso venha a ser eleito secretário-geral do PS, apontando ao partido liderado por Luís Montenegro uma "trajetória de radicalização" por estar preocupado em competir com o Chega pelo eleitorado de direita".."O PSD tem apresentado nos últimos dias, no congresso e na Assembleia da República, uma linguagem radicalizada, extremada, hiperbólica e panfletária, que em muitas situações ultrapassa o seu parceiro não assumido no Parlamento", disse Pedro Nuno Santos, na sede nacional do PS, no Largo do Rato, em Lisboa, após entregar a moção de estratégia da sua candidatura à sucessão de António Costa..Para o candidato à liderança socialista, que se voltou a apresentar como aquele que está em melhores condições de "mobilizar a maioria do povo português para um projeto vencedor e mobilizador", está afastada qualquer hipótese de um bloco central com o PSD. "A democracia portuguesa precisa de válvulas de escape, o que implica que os dois partidos não estejam comprometidos com a mesma governação. Isso só iria beneficiar o partido da extrema-direita. E nós não participamos nisso. Além de que há diferenças significativas em matéria de política económica e social", justificou, sublinhando distâncias em relação a José Luís Carneiro, a quem não reconheceu enquanto principal adversário na disputa interna, pois atribuiu esse estatuto ao PSD..Apesar disso, o antigo ministro das Infraestruturas referiu-se à recusa de repetição da geringonça que tem sido defendida por José Luís Carneiro, dizendo que "se há candidatura que não fecha nenhuma porta, nem à esquerda nem aos centro, é a minha". Ainda que com "o partido de centro-direita" chamado PSD admita "forjar acordos de regime sobre matérias que devem ter um amplo consenso, de soberania e de política externa, onde há entendimentos de décadas que devem ser preservados"..Cerca de duas horas depois de o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, se ter definido como o candidato à liderança socialista mais capaz de construir consensos após as legislativas de 10 de março de 2024, Pedro Nuno Santos rebateu que "o debate político não se deve reduzir a uma falsa dicotomia entre radicalismo e moderação, mas sim em quem tem capacidade para mobilizar o povo português para resolver os problemas do país, e nós achamos que quem a tem é a nossa candidatura e o PS"..Pedro Nuno Santos pôs em causa uma sondagem que indicou José Luís Carneiro como o candidato a secretário-geral do PS - que será eleito pelos militantes do partido nas eleições diretas de 15 e 16 de dezembro - que os portugueses querem ver como primeiro-ministro. "Quando olhamos para o eleitorado que deu maioria absoluta ao PS em 2022, o candidato preferido sou eu. Se acrescentarmos o eleitorado do PSD, do Chega e da IL o resultado é outro, mas isso é compreensível. Não gostam de líderes do PS e não votam em líderes do PS", referiu, ladeado pela ex-ministro Alexandra Leitão, coordenadora da sua moção de estratégia, e por Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos..Pedro Nuno Santos apontou que é necessário reformar o Estado social para "continuar a responder às aspirações do nosso povo na saúde e na habitação", mas não esqueceu a mobilidade sustentável e a aposta numa Administração Pública mais qualificada..Destacou o "compromisso claro com a melhoria dos salários", o que implica não só concertação entre empresas e trabalhadores, mas também a existência de uma economia centrada em setores que criem mais valor acrescentado..E, concordando com José Luís Carneiro num referendo à regionalização, condenou Luís Montenegro por se opor, numa "perspetiva centralista que o PSD sempre teve e que prejudica o desenvolvimento harmonioso do território nacional"..Também acordada pelo candidato foi a questão da reposição gradual do tempo de serviço de funcionários públicos que foi congelado por imposição da troika. Tal como o líder social-democrata Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos comprometeu-se com uma reposição gradual..leonardo.ralho@dn.pt