Acredita que vai haver maioria para aprovar a Entidade da Transparência que o BE propôs?.Estamos muito confiantes de que isso é possível. Neste momento o debate tem evoluído ao longo dos trabalhos da comissão parlamentar da transparência no sentido de perceber que é necessária uma entidade específica quer para centralizar e validar as declarações de rendimentos e interesses quer para garantir o cumprimento dessas obrigações declarativas. Essa entidade específica tem de ter uma existência autónoma, trabalhando na alçada do Tribunal Constitucional..Com esta proposta o BE estará de certa forma a assumir que o sistema pelo qual os políticos e os titulares de altos cargos públicos declaram os seus rendimentos e interesses funciona mal?.Temos vários exemplos ao longo da história que demonstraram que o cumprimento da obrigação declarativa não foi cumprido. Ou que os dados entregues nunca foram validados porque não tinham grande relação com a realidade. Continham omissões ou informação errada e alguns desses casos ficaram conhecidos. Sabemos todos portanto que existe uma necessidade de reforçar quer as obrigações de transparência quer a capacidade de fiscalização. A nossa proposta desdobra-se em duas vertentes: alargamos o universo das pessoas que têm de revelar o seu património e rendimentos, alargamos a temporalidade das declarações - passarão a ser de atualização anual - e colocamos em cima da mesa a proposta de fazer uma fiscalização específica, debaixo da alçada do Tribunal Constitucional e com a presença de pessoas indicadas pelo Ministério Público. Com isto respondemos às diversas debilidades historicamente demonstradas. Tivemos por exemplo há dez anos um responsável da CMVM que nem sequer entregou a sua declaração ao Tribunal Constitucional. Isto mostra bem as debilidades do sistema..Essa Entidade da Transparência terá obrigação de divulgar as declarações que os políticos e os titulares de cargos públicos lhes entregarem, num site, por exemplo?.Toda a filosofia das nossas propostas é baseada na ideia do reforço da transparência e da possibilidade de fiscalização popular. É nossa proposta que essa informação seja disponibilizada na internet - mas obviamente com cautelas, por exemplo não revelando moradas ou outros dados pessoais. Isto é um salto de qualidade em relação ao que existe: o Tribunal Constitucional só permite a consulta pessoal das declarações e não faz cópias..E qual o timing para a nova Entidade da Transparência entrar em funções?.A nossa intenção é que a lei entre em vigor imediatamente, ou seja, não é para estarmos à espera de uma nova legislatura. Se nós chegamos a um consenso sobre ser necessário mais fiscalização e transparência então não faz sentido adiarmos para o futuro aquilo que podemos fazer hoje. No limite essa nova Entidade da Transparência teria de iniciar funções no princípio do próximo ano civil..Uma proposta do BE que não deverá vingar é a da exclusividade dos deputados. O Bloco admite viabilizar outras propostas que, não propondo a exclusividade, apesar de tudo apertam fortemente o crivo das incompatibilidades?.Temos duas propostas, com paradigmas diferentes. A nossa proposta de princípio é a que defende a exclusividade. Defendemos e praticamos essa exclusividade. Mas também sabemos que somos o único partido a propô-lo. E para não ficarmos fora do debate em relação aos impedimentos e incompatibilidades apresentamos um outro projeto em que não ficará a obrigação da exclusividade mas reforça as incompatibilidades. Assim não ficamos de fora do debate. O que notamos é que há passos positivos que estão a ser dados, por exemplo no apertar da malha sobre os deputados advogados. Esse debate vai no bom sentido.