Contactada pela agência Lusa sobre o anúncio da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), feito hoje, sobre a inventariação e classificação das 85 obras de Joan Miró, Gabriela Canavilhas comentou: "Ele [Jorge Barreto Xavier] não tinha alternativa". ."Esta não é uma vontade do secretário de Estado, é uma capitulação devido à decisão judicial que ainda aí vem. Ele disse várias vezes, até no parlamento, que a coleção não tinha valor e não interessava ao Estado português", acrescentou..Jorge Barreto Xavier anunciou hoje ter solicitado à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) a abertura do processo de inventariação e classificação da coleção de arte Miró, do antigo Banco Português de Negócios (ex-BPN). .De acordo com uma nota de imprensa da SEC, esta decisão surge "na sequência da decisão judicial do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa" (TACL). .A nota indica que, na sequência dessa decisão, Jorge Barreto Xavier pediu à DGPC a abertura do procedimento de inventariação e classificação das obras de Joan Miró das sociedades Parvalorem e Parups, SA.."A abertura deste procedimento permitirá, de uma vez por todas, clarificar a matéria relativa ao conjunto de obras em causa", acrescenta a mesma nota da SEC..Gabriela Canavilhas, um dos rostos do PS que tem vindo a liderar um dos movimentos de contestação à saída das obras do país e à venda em leilão, defendeu sempre a inventariação e classificação da coleção.."É uma excelente notícia. Só receio que o processo decorra sem transparência e sem a liberdade total que estes processos exigem. Confio na independência e na competência dos especialistas da DGPC, para garantir que irá decorrer com total imparcialidade", afirmou ainda..A deputada socialista disse ainda recear que, mesmo que a DGPC proponha a classificação, "que a tutela exerça o seu direito de a recusar, mas aí já sairia fragilizada perante a comunidade artística internacional".."Isso teria um preço político insuportável", sustentou..Em maio, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa (TACL) decidiu manter o "decretamento provisório" que impede a saída da coleção Miró do país e, na mesma altura, a leiloeira Christie's decidiu anular o leilão das obras, marcado para junho, não tendo até hoje anunciado nova data..As obras do artista catalão, avaliadas em 35 milhões de euros, estão na posse da Parvalorem e da Parups desde 2010, quando as empresas foram criadas pelo Estado, para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-BPN, nacionalizado em 2008.