Pedaços do asteroide Benu estão a caminho de casa

Sonda da NASA recolheu amostras de asteroide, que vão servir para estudar a história do sistema solar e procurar pistas sobre a origem da vida na Terra
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É mais um sucesso espacial para a NASA, e mais um passo para se conhecer melhor a origem e a história do sistema solar e, quem sabe, da própria vida que um dia surgiu no terceiro planeta a contar do Sol.

Aconteceu nesta terça-feira, era já noite em Portugal. A 321 milhões de quilómetros da Terra, e entregue a si própria, pois tinha sido previamente programada para isso, a sonda OSIRIS-Rex passou brevemente de raspão junto ao asteroide Benu e conseguiu recolher em poucos segundos alguns fragmentos e poeiras da sua superfície.

O objetivo era obter 60 gramas de amostras do solo do velho asteroide, mas só dentro de uma semana se saberá exatamente que porção a sonda conseguiu de facto arrecadar. Se se verificar que as amostras conseguidas são insuficientes, a equipa da missão tentará um segundo mergulho para obter mais material do solo do asteroide, mas escolherá um novo local para o fazer.

Seja como for, este é já um marco na história da exploração espacial, a par da missão japonesa Hayabusa2, que no ano passado colheu pela primeira vez poeiras e materiais de um asteroide, o Ryugo, e cuja chegada à Terra está prevista já para dezembro.

Depois da temerária descida da sonda OSIRIS-Rex até à superfície de Benu, cujos comandos estavam já programados e que, para a equipa que aguardava no centro de controlo da missão, constituiu uma ansiosa espera de quase cinco horas, a sonda afastou-se rapidamente do alvo, e regressou a uma órbita segura em torno do asteroide.

É aí que vai permanecer agora durante algum tempo. Se não for necessário repetir a recolha de amostras, a sonda preparará então o regresso a casa, com o seu precioso tesouro a bordo. A sua chegada está prevista para 24 de setembro de 2023.

Nas amostras do chão de Benu, os cientistas vão procurar novas respostas sobre a origem e a história do sistema solar, uma vez que os asteroides, pela sua natureza, preservam a memória desse passado longínquo: os materiais de que são feitos são uma espécie de relíquia intocada desse passado.

Nesses fragmentos do astroide Benu os cientistas esperam encontrar também novas pistas acerca da forma como a água e a vida se combinaram na Terra para aqui pudesse surgir e florescer a vida.

O Benu foi o alvo escolhido para esta missão porque está relativamente próximo da Terra e porque é suficientemente antigo para fornecer bons dados. Os cientistas estimam que ele se formou nos primeiros 10 milhões de anos da história do sistema solar, há cerca de 4,5 mil milhões de anos.

As amostras que foram agora recolhidas pela sonda da NASA não serão, no entanto, todas analisadas após a sua chegada à Terra. Algumas serão preservadas para estudos futuros.

Tal como aconteceu com as pedras e poeiras da Lua trazidas pelos astronautas das missões Apolo, em que algumas delas ficaram intocadas para poderem ser estudadas com as novas tecnologias que vão sendo desenvolvidas, assim acontecerá também com as amostras do asteroide Benu recolhidas nesta missão.

Como explica Lori Glaze, a diretora da divisão de ciências planetárias da NASA, isso "permitirá que os nossos futuros cientistas planetários façam perguntas sobre as quais não podemos sequer pensar hoje, usando técnicas de análise que ainda não foram sequer inventadas".

Foram quatro anos de um longo voo, dois dos quais passados em torno de Benu, a mapear e a estudar a sua superfície, para identificar o local que menores riscos representava para a missão.

O local escolhido, batizado como Nightingale, apesar de não ser tão plano como os responsáveis da missão desejariam - afinal Benu revelou um solo mais rugoso do que os cientistas estavam à espera -, acabou por funcionar sem problemas.

A manobra decorreu sem percalços, mas a espera ainda foi longa. A primeira fase da descida, em que a sonda levava já a postos o braço articulado que lhe serviu para tocar a superfície e recolher o material, durou quatro horas, durante as quais a OSIRIS-Rex percorreu 850 metros.

Em seguida, a 125 metros da superfície, a sonda colocou-se na posição correta para poder executar a recolha de amostras com o braço articulado, de pouco mais de três metros. A nave acionou então os motores para fazer uma descida ainda mais lenta em direção ao alvo, e que durou quase 20 minutos no total. Tocou então o solo durante escassos 16 segundos, e isso bastou para fazer a recolha das amostras. Esgotado o tempo, a sonda voltou a acionar os motores e voou para longe do solo, regressando à órbita de Benu.

A confirmação, 18 minutos depois (o tempo que os sinais da sonda levam a chegar à Terra) de que tudo tinha decorrido como planeado, desencadeou um aplauso emocionado no centro de controlo da missão e a equipa pode enfim suspirar de alívio. Eram 22.12 (21.12 em Lisboa).

"Correu tudo perfeitamente", comentou, emocionado, o chefe da missão, Dante Lauretta. "Esta tarde escrevemos uma página da História".

Thomas Zurbuchen o administrador da NASA para as missões científicas congratulou-se igualmente com o sucesso da operação. "É um feito incrível. Um pedaço de rocha primordial que testemunhou toda a história do sistema solar está pronto para vir para casa para várias gerações de descobertas científicas. Mal podemos esperar para ver o que se segue".

O que se segue, se não for necessário repetir o mergulho no dia 12 de janeiro, é o regresso da nave a casa. Mas essa será uma etapa mais tranquila. E com a chegada dos pedacinhos do Benu à Terra, uma nova aventura há de então começar.

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