PCP pisca olho ao eleitorado do Chega e põe condições ao PS
O PCP recusa voltar a alinhar num acordo com o PS que não envolva alterações na legislação laboral. "Fecho acordo hoje se o Partido Socialista acompanhar as nossas propostas na Assembleia da República. Vamos ver qual é a posição do Partido Socialista sobre isso hoje - essa é a grande questão, o resto é só para a gente andar aqui a fazer cenários que não têm consequência nenhuma na vida das pessoas", disse aos jornalistas o secretário-geral do PCP, à margem de um ação de contacto com trabalhadores à porta da empresa Matutano, no Concelho de Alenquer, Distrito de Lisboa.
O PCP apresentou ontem no Parlamento quatro projetos de alteração da legislação laboral, nomeadamente em matéria de contratação coletiva, regulamentação do trabalho por turnos e valorização de quem trabalha por turnos e o fim dos cortes às horas extraordinárias, "feitos pelo Governo PSD/ CDS-PP [e] que o Governo socialista não quis repor".
Citaçãocitacao"Eu não confundo os propósitos dessas forças com as pessoas que, por esta ou aquela razão, pensam em apoiar eleitoralmente essa força. São duas coisas completamente distintas."
Raimundo desafiou o PS, mas pelo meio deixou claro que o PCP não conta com nada dos socialistas neste campo (leis laborais). "O que eu ouvi das declarações de Pedro Nuno Santos, ainda durante a campanha eleitoral do Partido Socialista, foi que devíamos manter estabilidade na legislação laboral", afirmou o líder comunista. Acrescen- tando: "O que significa instabilidade da vida destas pessoas, essa que é a grande questão. E, portanto, hoje é uma boa oportunidade para clarificar quais são os caminhos que cada um quer e a resposta condiciona aquilo o que vai ser amanhã." Ou seja: "O PS é só um e não vale a pena pensar que vem daí alguma solução para as nossas vidas."
Ontem, entrevistado no site da CDU, Paulo Raimundo ensaiou argumentos dirigidos aos eleitores (atuais e eventualmente futuros) do Chega. "Eu não confundo os propósitos dessas forças com as pessoas que, por esta ou aquela razão, pensam em apoiar eleitoralmente essa força. São duas coisas completamente distintas."
Citaçãocitacao"As pessoas que estão justamente indignadas, estão justamente sendo absolutamente traídas. Sentem-se maltratadas. O voto, para ser consequente com isto, tem de ser o voto no protesto, na indignação, mas também na esperança de abrir um novo caminho. E tudo isso só pode ser no PCP e na CDU."
Assim - prosseguiu - às pessoas a quem já "passou pela cabeça, eventualmente, apoiar essa força política", seria preferível que pensassem que "o seu voto seria bem melhor empregue, em muitas circunstâncias, naquela força de confiança, na força de protesto, na força de indignação, mas na força de esperança e de abrir um caminho novo" - ou seja, na CDU.
Protesto com esperança
"Podem-se pintar de todas as cores, podem falar alto, podem esbracejar, podem inventar todas as mentiras, que é uma coisa recorrente nestas forças [Chega, mas também a Iniciativa Liberal]. Mas a verdade é essa: é que nós sabemos de onde é que eles vêm e sabemos por que é que saíram. E sabemos o papel que o capital lhes está a dar. Estão a cumprir. Temos de reconhecer que estão a cumprir esse papel. E, portanto, no fundo, voltando à pergunta, as pessoas que estão justamente indignadas, estão justamente sendo absolutamente traídas. Sentem-se maltratadas. O voto, para ser consequente com isto, tem de ser o voto no protesto, na indignação, mas também na esperança de abrir um novo caminho. E tudo isso só pode ser no PCP e na CDU" porque de outra forma "é um voto perdido".
Votos inconsequentes
Para o líder comunista, as pessoas "indignadas" têm, portanto, três hipóteses: ou "fazem a vida o melhor que podem" e "não têm participação [e] intervenção política"; ou então "optam por votar em forças que, no fundo, exploram cada um desses problemas até ao limite, não para os resolver, não para os atacar, mas para se promoverem, e lá está, para cumprir o papel que o capital lhes disser que têm que cumprir", sendo esse "um voto de protesto sem nenhuma consequência"; ou, por último, votam na CDU, que é "o voto de protesto, o voto que deve refletir a justa indignação, mas simultaneamente, o voto que dá força àqueles que vão à raiz do problema."