O PCP vai requerer hoje a audição parlamentar da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque e do governador do Banco de Portugal, para prestarem esclarecimentos sobre as garantias que deram que não haveria prejuízo na resolução do BES..O anúncio dos pedidos de esclarecimentos urgentes, na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, foi feito em conferência de imprensa na Assembleia da República pelo deputado comunista Miguel Tiago, que recordou que o PCP tem agendada para 3 de fevereiro a discussão em plenário de um projeto de resolução com vista à manutenção do Novo Banco na esfera pública e com nova estratégia.."Torna-se cada vez mais importante compreender e exigir responsabilidades e esclarecimentos àqueles que prometeram aos portugueses que não iriam pagar um único tostão pela liquidação do BES. Lembramo-nos de ouvir de Carlos Costa, Maria Luís Albuquerque e até Cavaco Silva [ex-Presidente da República], várias vezes, garantias sobre o não custo para os portugueses desta solução", afirmou..O parlamentar do PCP considerou ser "importante saber exatamente de que dados, informação dispunham, que garantias tinham e de quem eram".."É preciso saber o que os responsáveis da altura sabiam sobre o BES que lhes permitia dizer que não iria haver custos e compreender como foi conduzido o processo do ponto em que é aplicada uma medida de resolução e todos nos dizem que não tem capital público e será vendido por um valor que compensa - mentira", condenou, lamentando que os contribuintes estejam hoje "confrontados com praticamente o oposto"..A intenção dos comunistas passa por, segundo Miguel Tiago, "também clarificar a posição dos restantes partidos" na matéria.."Defender uma nacionalização temporária é o mesmo que defender uma privatização futuro e o PCP não defende privatizações", vincou, confrontado com recentes declarações da líder do BE, Catarina Martins..Questionado sobre as notícias de um representante português de um consórcio internacional e ex-quadro da Goldman Sachs, António Esteves, disposto a adquirir crédito malparado à banca portuguesa no valor de 15 mil milhões, o deputado do PCP desconfiou.."Tem que se ver no concreto qual é a carteira de crédito e a oferta e garantir que não se passa o que se tem vindo a passar no sistema bancário português. A própria empresa para que trabalha agora Maria Luís Albuquerque [grupo britânico Arrow Global] anda a comprar lotes de dívida em Portugal de 300/400 milhões de euros por 50, por exemplo, e vai vendê-los por 60. Se os vende a quem devia os primeiros 500, na verdade, o que fez foi vender uma dívida de 500 por 50 e ainda fez dinheiro com isso. Quem pediu os 500 e não pagou, pagou a dívida com o próprio crédito e ainda ficou com uns trocos", descreveu..Sobre o facto do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações Sérgio Monteiro também ter estado envolvido no eventual processo de venda do Novo Banco, Miguel Tiago descartou a hipótese de o convocar para ser ouvido no parlamento para já porque não é "intenção" do PCP "obter informações sobre o processo de venda" nem gerar "perturbações".."Num futuro, em que esta questão esteja noutra fase, tentar então, aí sim, compreender o processo de venda em que já nos parece que Sérgio Monteiro estaria mais em condições de dar um contributo e justificar os 30 mil euros que ganha para vender um banco que, no fim de contas, vai valer tanto como o salário dele", concluiu.