PCP admite solução alternativa em Carnide, mas tem de haver Feira Popular em Lisboa
O PCP está disponível para encontrar uma solução alternativa ao projeto previsto para Carnide, que previa uma nova Feira Popular inserida num parque verde, desde que a Câmara de Lisboa não deixe cair a intenção de avançar com um parque de diversões na cidade. Os comunistas lembram que já sugeriram no passado uma localização alternativa para a Feira Popular - na frente ribeirinha junto à Expo, no extremo oriental da cidade - mas manifestam "grande abertura para considerar outras localizações", nas palavras do vereador João Ferreira.
A posição dos vereadores do PCP pode ser determinante para os planos de Carlos Moedas que, na última segunda-feira, afirmou à Rádio Renascença que não tenciona avançar com o plano do anterior executivo, que previa a integração de um espaço de diversões num parque verde de 20 hectares, na freguesia de Carnide. "O conceito de Feira Popular hoje já não faz o mesmo sentido do que há 20 ou 30 anos atrás. Nós temos de repensar esse conceito. Sobretudo temos de ter ali um parque verde com equipamentos para as pessoas. Faz muito mais sentido neste momento", afirmou o presidente da autarquia. Uma intenção que está expressa no programa eleitoral de Carlos Moedas, que aponta o objetivo de "transformar o atual projeto da Feira Popular, para prever um novo Parque Urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma nova piscina exterior natural em Carnide, de grande dimensão, ambientalmente inovadora". "Este programa de recreio e lazer será complementado por equipamentos culturais e pela reconversão da Av. Prof. Francisco da Gama Caeiro, com vista a ligar o Bairro Padre Cruz à cidade através de uma avenida urbana", refere o texto com que Moedas se apresentou às eleições.
PS e Bloco de Esquerda manifestaram-se totalmente contrários à intenção do autarca. Para os socialistas, "desistir da Feira Popular, mais a mais sem qualquer sustentação como fez hoje Carlos Moedas, representa uma quebra com o imaginário afetivo da cidade, a história de Lisboa e as pretensões dos lisboetas". Já para o Bloco de Esquerda, Carlos Moedas "desistiu de governar" para os lisboetas, "concentrando-se apenas no turismo e no imobiliário".
Já o presidente da junta de freguesia de Carnide, Fábio Sousa (eleito pela CDU), não se opõe à mudança de planos, face ao estado atual de abandono dos terrenos. "Aquilo está assustador. Canas e caniços altíssimos, ao lado de uma quantidade gigante de árvores que foram plantadas -- e bem -, mas de que não temos a certeza da periodicidade das regas", apontou o autarca à Lusa, acrescentando que o "empreiteiro deixou no terreno várias caixas de materiais inflamáveis, além de existirem no espaço lagoas com água a céu aberto e sem proteção nem vigilância".
João Ferreira, vereador do PCP na Câmara de Lisboa, corrobora que "os terrenos estão numa situação deplorável", e admite uma solução diferente da que estava até agora prevista, que "vá ao encontro das necessidades" não só de quem vive nas imediações, mas da própria cidade. Numa nota emitida ontem, os vereadores do PCP manifestam "disponibilidade para discutir alternativas para aquele espaço", mas "considerando que qualquer projeto diferente para os terrenos de Carnide deve ser acompanhado de uma proposta de localização alternativa para a Feira Popular".
Já o Livre lembra que o lançamento do "concurso de concessão para a nova Feira Popular de Lisboa, integrada no parque verde como um polo de desenvolvimento local" era uma promessa eleitoral da coligação às autárquicas que firmou com o PS. E, embora admita que "possam ser outros os planos" de Moedas, o Livre sublinha que tinha a "expectativa de que o Presidente Carlos Moedas nada decidisse sem ouvir as pessoas - até porque tem sido invariavelmente esse o mote invocado pelo presidente, nas suas tomadas de decisão". "Um parque de diversões, feito de raiz, com uma forte vertente ecológica, pode ser um local de convívio e de diversão muito importante na vida da cidade, que pode juntar diferentes gerações de pessoas, quer não só as que vivem em Lisboa, como as que estão de visita", sublinha o vereador eleito, Rui Tavares, numa nota ao DN.
O projeto para a nova Feira Popular foi anunciado em 2015 por Fernando Medina, treze anos depois do encerramento do parque de diversões que existiu durante mais de três décadas em Entrecampos. Com um investimento previsto na ordem dos 70 milhões de euros, Medina falou então num projeto "muito ambicioso" para "abrir o mais rápido possível". Em novembro de 2016 foi feita uma cerimónia de arranque das obras e a conclusão do Parque Verde (não da Feira Popular) chegou a ser apontada para 2018. Ao que disse depois Medina, o projeto atrasou-se logo de início pela necessidade de arranjar instalações alternativas para o Clube Atlético e Cultural, que tinha o campo naqueles terrenos. O concurso para a concessão do novo parque de diversões não chegou a avançar, com a autarquia a invocar a situação de pandemia.
O processo seria depois sujeito a consulta pública, com uma maioria de opiniões discordantes entre a meia centena de contribuições, segundo concluiu então o relatório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR). Ontem, na sequência das declarações de Carlos Moedas, o presidente da Associação de Moradores do Bairro Novo de Carnide e Quinta do Bom Nome, Carlos Durão, disse à Lusa ver com "grande esperança" a solução de um parque verde com equipamentos de lazer.