Paulo Morais acusa Marcelo de fazer algo que a Transparência Internacional define como corrupção
O presidente da Frente Cívica, Paulo Morais, defende que a atuação de Marcelo Rebelo de Sousa no caso das duas gémeas luso-brasileiras que receberam tratamento para a atrofia muscular espinal no Serviço Nacional de Saúde, com um custo de quatro milhões de euros, representa aquilo que a Transparência Internacional define como corrupção.
Recordando que a Transparência Internacional apresenta a corrupção como "o abuso de poder delegado para benefício privado", o professor universitário, que foi candidato presidencial em 2016, acusa Marcelo Rebelo de Sousa de "destruir qualquer funcionamento de um Estado normal" ao "meter uma cunha" pelas crianças residentes no Brasil que receberam tratamento para a doença neurodegenerativa em 2020.
"Não compete ao Presidente da República tratar de casos individuais", realça Paulo Morais, referindo-se ao facto, assumido por Marcelo Rebelo de Sousa, de ter reencaminhado para a Casa Civil da Presidência da República e para a assessora para os Assuntos Sociais um mail do seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, onde se dava conta de que os pais das gémeas luso-brasileiras se queixavam de não terem obtido resposta do Hospital de Santa Maria ao solicitarem o tratamento com o medicamento Zolgensma, que é um dos mais caros do mundo. De igual forma, o Palácio de Belém reencaminhou documentação sobre a situação clínica das duas crianças para os chefes de gabinete do primeiro-ministro e do secretário de Estado das Comunidades.
Paulo Morais defende, em declarações ao DN, que qualquer "pedido de informação sobre doentes, alunos ou contribuintes individuais" tem o condão de "transformar a Presidência da República num alfobre de cunhas institucionalizado".
Para o presidente da Frente Cívica, o caso das gémeas luso-brasileiras pode representar um ponto de viragem no segundo e último mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. "O Presidente dos afetos acabou", sentencia, antecipando que o chefe de Estado possa vir a ser insultado na rua por quem acredite que "andou a tratar dos interesses dos amigos e dos familiares".
"Na opinião pública vai haver uma perceção de benefício familiar", acrescenta Paulo Morais, acrescentando que "se o filho mete cunhas é porque conhece o pai". Apontando uma "atitude nada republicana" ao Presidente da República, prevê que este "não vai conseguir acabar o mandato com dignidade"
Por outro lado, o presidente da Frente Cívica critica Marcelo por contribuir para uma "degradação da política" numa altura em que a confiança dos portugueses nas instituições "está abaixo de qualquer nível". "Estão a alimentar o populismo que dizem estar a combater", defende.