O líder do PSD percebeu que existia desconforto no partido e no grupo parlamentar social-democrata se neste ano teimasse em não apresentar propostas durante a discussão do Orçamento do Estado (OE) para 2017, tal como fez no ano passado. Pedro Passos Coelho sossegou ontem os deputados ao garantir-lhes que serão apresentadas, durante a discussão na especialidade do OE, "propostas estruturantes" para o país..A bancada laranja vai votar na generalidade contra um Orçamento que, ontem na reunião com os deputados, Passos reiterou que é um "disparate" que não merece "remendo". E só avançará com propostas estruturantes alternativas durante o debate na especialidade para não desviar o debate das medidas do Orçamento de António Costa e parceiros que o apoiam no governo, BE e PC, para as do PSD..Das palavras de Passos, que não apresentou nenhuma proposta concreta na reunião com a bancada, alguns deputados inferiram que o líder tenciona apresentar um pacote de medidas em paralelo à discussão na especialidade do OE, para vincar bem a diferença em relação ao caminho que a esquerda traçou para o país..Fonte próxima de Passos admitiu ao DN a recuperação de algumas das medidas do "pacote" de 222 propostas pelo PSD para o Plano Nacional de Reformas. O crescimento económico - que Passos tem vindo a acusar o governo de Costa de estar a travar - era uma das preocupações centrais do documento então apresentado..Entre outras medidas, coloca-se o foco nas startups, baseadas no conhecimento intensivo e elevada intensidade tecnológica; a capitalização e reestruturação das empresas e diversificar as suas fontes de financiamento; a criação de um ambiente fiscal favorável à atração de jovens empreendedores e "talvez" a reforma do IRC, como ontem admitiu Passos Coelho à saída da audiência com o Presidente da República sobre o OE 2017..Nesse plano de reformas alternativo ao do executivo de Costa, apresentado em abril, estavam ainda contempladas medidas na educação, saúde, área social e justiça e reforma do Estado, entre outras.."Estamos a ponderar as medidas a apresentar", afirmou uma fonte ao DN, garantindo que o grupo parlamentar não entrará na discussão do "pormenor". A inversão de estratégia de Passos Coelho é lida como "natural". "No Orçamento anterior era importante ficar claro que era deles, do PS, do BE e do PCP." Sendo certo que o OE 2016 foi feito muito em cima da queda prematura do governo de coligação PSD-CDS, o de Passos e de Portas, saído das eleições legislativas.."Agora que já está claro o caminho que eles têm para o país, é hora de demonstrar que este Orçamento de 2017 também tem fragilidades grandes e que há alternativa", sublinhou a mesma fonte..O próprio líder do PSD rejeitou ontem, após a audiência com o Presidente da República, a mudança de estratégia: "Não há nenhuma mudança de estratégia. Como digo, nós não entraremos no leilão orçamental. Isso não nos impedirá de mostrar que pode haver alternativas do ponto de vista estrutural para o futuro do país.".Também antes, o líder parlamentar do PSD reiterava que "a decisão do grupo parlamentar e da direção nacional do partido é de não apresentarmos propostas de alteração que visem entrarmos naquilo que podemos designar o leilão das propostas orçamentais, porque temos uma noção: este Orçamento faz escolhas, as escolhas foram feitas com base na estratégia - ou falta dela - do PS, do PCP e do BE"..Luís Montenegro ressalvou, no entanto, que o PSD irá apresentar medidas e propostas em sede de especialidade em "áreas estruturantes" que possam dar ao OE para 2017 "uma visão de futuro" e apontar caminhos para o país ter mais crescimento na economia e no emprego e se esbaterem as desigualdades sociais..Em Bruxelas, o primeiro-ministro reagiu à novidade das propostas do PSD. António Costa disse estar sem qualquer expectativa sobre o contributo do PSD para o OE 2017. "Aquilo que temos ouvido o PSD dizer e conhecíamos que era a vontade do PSD, não tenho nenhuma expectativa positiva", afirmou.."Se é para repor os cortes nos vencimentos, se é para fazer os cortes nos vencimentos, se é para fazer o corte de 600 milhões de euros nas pensões, são propostas que não geram nenhuma expectativa positiva que serão certamente rejeitadas pela maioria na Assembleia da República", considerou..Por cá, em Lisboa, o líder parlamentar socialista dizia que o PS está disponível para integrar as propostas do PSD - e também do CDS - no OE 2017, durante a discussão na especialidade. Carlos César, que falava após a audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, frisou que a sua bancada tem abertura para melhorar o Orçamento naquilo em que seja entendido que ele deve ser melhorado, como aceitar propostas de qualquer partido, sem exceção.