Religiões renderam-se definitivamente às tecnologias

Evangélicos e católicos celebram este domingo a Ressurreição de Cristo. Mesmo com os cultos e as missas, usam o "online" e os ecrãs para evitar ajuntamentos.
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O distanciamento social marca as celebrações religiosas, sobretudo em momentos de potencial aglomeração de pessoas, como é a Páscoa. Este domingo, os evangélicos e os católicos celebram a Ressurreição de Cristo, mas sem ajuntamentos e recorrendo às tecnologias. Na paróquia Nossa Senhora do Amparo (Benfica), instalaram dois ecrãs nos adros para que os crentes possam acompanhar as cerimónias quando esgota a lotação no interior da igreja, além da transmissão online. Na Igreja Evangélica de Sintra, haverá uma cerimónia simples e, pelo segundo ano consecutivo, não sobem ao alto de Santo Eufémia (Sintra) para o culto da Aleluia. As orações e festejos são feitas à distância e por via digital.

"Uma vez que há a possibilidade das pessoas virem à igreja, o que pedimos é que se apliquem as regras da Direção-Geral de Saúde (DGS), que já vinham de trás, para evitar gerar focos da covid-19", começa por explicar o padre Nuno Rosário Fernandes, pároco de Benfica e diretor do Departamento de Comunicação do Patriarcado.

Rituais católicos da Páscoa como passar o ramo ou beijar a cruz foram anulados, o resto fica ao critério de cada comunidade. "As paróquias têm-se organizado da melhor forma, proporcionando as celebrações com todo o cuidado, mas conferindo-lhes a homenagem que merecem. Tem-se apelado à criatividade para poderem chegar às pessoas fazendo tudo o que está previsto na Semana Santa". Significa que há serviços religiosos online, muitas celebrações presenciais com transmissão digital e o recurso a ecrãs para quem já só tem lugar no exterior.

Os pontos altos continuam a ser o Domingo de Ramos (há uma semana), a Ceia do Senhor (quinta-feira), a Paixão do Senhor (sexta), a Vigília Pascal e o Domingo de Páscoa, mas com lotação limitada. Neste segundo desconfinamento, as missas foram retomadas a 15 de março e seguindo as regras do primeiro (8 de maio de 2020): uso de máscara, higienização das mãos e 4 m2 por pessoa, desde que não sejam da mesma família.

Os fiéis voltaram às igrejas mas muitos ficaram à porta e o padre Nuno encontrou uma solução para a sua paróquia: "Atingia-se as 70 pessoas na igreja e já não podiam entrar mais. Vi que ficavam tristes por não acompanharem a celebração. Tínhamos os meios e o conhecimento na utilização das tecnologias adquiridos durante o primeiro confinamento e instalámos um ecrã no adro pequeno. Quem não tem lugar pode assistir na rua. Nesta Páscoa, instalámos um segundo ecrã, até porque é um dia em que as pessoas vêm à igreja e, este ano, não puderam ir à terra".

Este domingo realizam cinco missas e a das 12.00 é transmitida online, como aconteceu com a Ceia do Senhor, a Paixão do Senhor e a Vigília Pascal. As leituras e adoração só têm transmissão digital.
Nuno Rosário Fernandes sublinha que a assistência na paróquia de Benfica tem aumentado gradualmente, apesar da pandemia - que divide em duas fases distintas: o primeiro e o segundo confinamento. "Neste segundo, já estávamos habituados às regras e foi mais fácil adequarmo-nos a esta nova normalidade. As celebrações iniciaram-se numa segunda-feira, dia em que a igreja enchia na missa das 09.00. No primeiro dia, não havia muitas pessoas mas, depois, ganharam confiança e começaram a vir. A paróquia de Benfica tem sempre muitas pessoas a assistir.

Os evangélicos têm sentido uma grande diminuição da afluência, nomeadamente na Igreja Evangélica de Sintra, cujo pastor é António Calaim, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa. "Neste segundo confinamento, mantivemos os cultos, com as devidas restrições, mas as pessoas têm vindo em número reduzido. E nós também temos recomendado a transmissão online e evitamos ao máximo atividades presenciais". Cada igreja organiza os serviços, não existindo propriamente uma diretiva sobre a forma e quando se realizam.

Foi o que se passou com a Semana Santa, com orações para meditação colocadas nas plataformas digitais às 07.00. Espaço este promovido pela Comunhão de Igrejas de Irmãos de Portugal (CIP). A Ceia do Senhor, que a maior parte dos evangélicos homenagearam na quinta-feira, foi realizada online. E, pela mesma via digital, na sexta, houve o Hope Fest, uma celebração da Páscoa para partilhar histórias, testemunhos e música.

"Este ano ficará marcado pelo segundo em que os evangélicos não se reuniram bem cedo [ao nascer do sol], seja numa praia, no alto do monte ou numa praça, para em conjunto e como membros das diversas igrejas e comunidades, cantar, orar e refletir sobre a ressurreição de Jesus Cristo", diz António Calaim, que sublinha que esta é a festa mais importante para os cristãos evangélicos.

Na igreja de Sintra o encontro dava-se no alto de Santa Eufémia. Este domingo não o fazem e o culto é idêntico aos outros domingos, menos as mensagens para reflexão. Já celebram a a Ceia do Senhor em cada domingo e que, com a pandemia, ficou reduzida ao primeiro domingo do mês. Este ano, coincide com o Domingo de Páscoa.

Explica o responsável pela AEP: "Vai ser a altura apropriada para nos voltarmos a reunir nas igrejas e casa de oração, em pequenos grupos. Cumprindo as regras da DGS, vão juntar-se para celebrar a morte e a Ressurreição repartindo o pão e bebendo o cálice de vinho (com pequenos copos individuais).

ceuneves@dn.pt

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