À entrada do Parque Mayer, no coração de Lisboa, meia dúzia de gatos quase parecem estar a aproveitar, em dia de São Martinho, o fim de tarde que sabe a verão. São um prenúncio da tranquilidade que reina no recinto que chegou a ser conhecido como a Broadway portuguesa, apesar de a conclusão da reconstrução do Cineteatro Capitólio, iniciada no primeiro trimestre de 2012, estar prometida para o último mês deste ano, depois de ter chegado a ser anunciada para o final de 2009..A data foi divulgada na terça-feira na Assembleia Municipal de Lisboa pelo vereador do Urbanismo na câmara municipal (CML), Manuel Salgado (PS), e não foi a única novidade partilhada com a cidade: no próximo dia 9, irá a reunião do executivo o lançamento da empreitada de reabilitação do Teatro Variedades e, neste momento, está "em execução a renovação exterior do Teatro Maria Vitória". Projetos que, ainda assim, não são suficientes para convencer o presidente da Junta de Freguesia de Santo António. "É a câmara que os vai explorar?", frisa Vasco Morgado (PSD)..A pergunta fica sem resposta e poderá ser fundamental para compreender qual será o futuro do Parque Mayer. O autarca acredita que o espaço inaugurado em 1931 - e que chegou a ter um quarto teatro, o ABC, demolido no início deste ano - poderia renascer como "aldeia cultural", mas ressalva que, para que tal aconteça, é necessário um "chapéu-de-chuva" maior do que a junta de freguesia que lidera, ao nível da CML ou "até de um ministério"..Falta de respostas.De acordo com Vasco Morgado, a intenção seria transformar o recinto localizado na Avenida da Liberdade "numa aldeia cultural virada para fora". "Se já ganhamos prémios no estrangeiro de música, de ballet e de atores - as áreas que temos em conservatórios, que funcionam sem condições -, devíamos criar ali de raiz valências viradas para a arte", explica, precisando que, para além da construção desses espaços, poderia ali renascer o Museu do Brinquedo e abrir um polo do Museu do Teatro..A intenção, acrescenta, tem sido bem acolhida pelos agentes culturais, mas faltam respostas das outras instâncias do poder político, que, defende, pensam apenas em ciclos eleitorais. "O Parque Mayer tem a força de fazer cair executivos e de os eleger", desabafa, numa referência ao chamado caso Bragaparques, que, em 2007, precipitou a queda do executivo então liderado por Carmona Rodrigues (PSD)..Em causa estava a permuta, aprovada em 2005 pelo executivo, entre parte dos terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa, propriedade municipal, e o Parque Mayer, detido pela Bragaparques, e a realização da hasta pública dos restantes. Em abril de 2007, o então presidente da CML seria, a par dos vereadores Fontão de Carvalho e Eduarda Napoleão, constituído arguido por prevaricação de titular de cargo político. Há cerca de um ano, foram todos absolvidos..Por essa altura, já o atual executivo - à data liderado por António Costa (PS) - acordara pagar à Bragaparques 101 milhões de euros até 2023 pela posse dos dois ativos e o projeto de Frank Gehry, promovido por Pedro Santana Lopes - que entre 2002 e 2005 alternou com Carmona Rodrigues na presidência da CML - fora definitivamente guardado na gaveta..O plano do conceituado arquiteto norte-americano considerava o novo Parque Mayer o atravessar de um espelho como o de Alice no País das Maravilhas, prevendo, para tal, a construção de duas torres e a reabilitação do Capitólio. António Costa abandonaria a ideia em 2007, alegando que o projeto estava "datado e ultrapassado" e abrindo, na mesma ocasião, um concurso de ideias que culminou na elaboração e na aprovação de um plano de pormenor para a área..O documento, publicado em Diário da República em abril de 2012, previa, além da reconstrução do Capitólio, a reconversão do Variedades num auditório com 600 lugares e a demolição do ABC - já concretizada - e do Maria Vitória, o único em funcionamento e cujo exterior está, afinal, a ser renovado..Naming como fonte de receita."O Variedades é imprescindível que fique de pé, em conjunto com o Capitólio. Mas é a câmara que os vai explorar? Porque também ninguém sabe. E há algum produtor teatral que queira explorar uma sala com 500 lugares [como o Capitólio]? Não. Ou então não é um teatro e é uma sala de espetáculos", avalia Vasco Morgado, frisando que o projeto que, em alternativa, defende não teria de ser executado apenas de uma vez e só com recurso a investimento público.."Quem é que diz que o Parque Mayer não pode ter um naming?", dispara, antes de exemplificar com o Teatro Tivoli que, em 2012, passou a chamar-se Teatro Tivoli BBVA na sequência de um acordo entre o banco espanhol e a produtora que adquirira o espaço. O DN questionou a CML sobre os seus planos para o Parque Mayer, mas não obteve resposta.