Parque da Galé. Mais de 11 mil tentam travar encerramento 

Petição recolheu assinaturas suficientes para ir à Assembleia da República. Associação ambientalista ZERO já recebeu queixas e diz que estará "atenta".
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Mais de 11 mil pessoas assinaram uma petição pela continuidade do Parque de Campismo da Galé, no concelho de Grândola, um número suficiente para que o documento seja discutido pelo plenário da Assembleia da República, uma das entidades à qual o apelo é dirigido. No texto, os signatários pedem que "não seja atribuída à nova gerência uma licença que não seja para manter, preservar e dar continuidade ao bom funcionamento e serviço que este parque tem dado ao povo português".

"Para muitos é considerado o melhor parque de campismo em Portugal, e é alarmante que esteja neste momento nas mãos de um consórcio americano com um projeto que irá descaracterizar tudo o que conhecemos e amamos neste parque", refere a petição, sublinhando que "muitas famílias fazem deste parque o seu lar durante o período de férias". "Pedimos de forma humilde que não deixem que o parque seja desmaterializado e que mantenham o seu funcionamento nesta área protegida", apelam.

Há ainda uma segunda petição, com o mesmo objetivo, que recolheu até agora cerca de 1900 assinaturas. As duas iniciativas surgiram depois de o Jornal de Negócios ter avançado, no início de outubro, que o parque de campismo de 32 hectares foi comprado pela Discovery Land Company, empresa norte-americana especializada em resorts de luxo que é proprietária do projeto Costa Terra, contíguo ao parque. De acordo com a mesma fonte, os planos da empresa passam pelo desmantelamento do parque de campismo e pela construção de 292 residências (com um preço mínimo por lote de 3,4 milhões de euros), estando igualmente prevista a construção de um campo de golfe.

Na última quarta-feira, o presidente da Câmara de Grândola, António Figueira Mendes (da CDU), revelou que reuniu a 13 de outubro com responsáveis da empresa norte-americana, um encontro no qual a Discover Land Company comunicou que "qualquer eventual alteração no modelo de funcionamento" do parque ou nas respetivas instalações "será atempadamente comunicada aos utentes e coordenada com a estratégia turística da Câmara de Grândola". Na nota publicada no site da autarquia é referido que foi transmitido aos utentes "com contratos ativos que está a ser feito um diagnóstico rigoroso da atual situação do parque. Até à conclusão dessa análise, nenhuma alteração ocorrerá no modelo de funcionamento". "Após a conclusão dessa análise, todos os 38 postos de trabalho permanentes serão mantidos, todas as relações com fornecedores serão integral e escrupulosamente honradas e todos os contratos válidos e em vigor serão integral e escrupulosamente honrados", terá garantido a empresa ao autarca de Grândola, mas nada é dito quanto ao destino futuro daquele espaço.

José Paulo Martins, da associação ambientalista ZER, diz ao DN que a área em que está inserido o Parque de Campismo da Galé, na freguesia de Melides, não é reserva natural (que acaba logo a norte da lagoa de Santo André), mas pertence à Rede Natura 2000, que visa conservar os habitats naturais. Como é que se compreende a urbanização destes terrenos? "Para nós não se compreende. São projetos enormes, que avançam pelo interesse económico, por decisão política e por não haver uma sociedade civil que tenha força para contrariar isto", diz ao DN, avançando que a ZERO tem recebido perguntas e queixas sobre o possível desmantelamento do parque. E sublinha que não é possível fazer nada quanto à compra dos terrenos, um negócio entre duas entidades privadas, mas o mesmo não se aplica à futura urbanização: "Podem comprar, não podem é fazer o que quiserem ali."

"Vamos acompanhar o que se vai fazer", refere João Paulo Martins, lembrando que os planos aprovados para aquele local nem sequer são recentes.

O despacho que em 2006 aprovou o empreendimento Costa Terra, prevendo, nomeadamente, a construção de um campo de golfe, justifica a autorização face ao "debilitado desenvolvimento económico" do concelho, que, por outro lado, desfruta de "uma elevada riqueza em termos de património natural e paisagístico, apresentando inequívocas potencialidades do ponto de vista de uma atividade turística de grande qualidade". O despacho dizia então - há 15 anos - que o concelho de Grândola apresentava uma "reduzida oferta de estabelecimentos hoteleiros", pelo que o "número de unidades de alojamento de qualidade superior, envolvendo hotéis e aldeamentos turísticos de cinco estrelas, campos de golfe e outros equipamentos complementares, constitui uma profunda melhoria em termos da qualidade da oferta turística da região", concluindo pelo "inegável interesse público" do projeto.

O projeto turístico pertencia inicialmente ao empresário suíço Andreas Reinhart, tendo sido comprado pela Semapa, da família Queiroz Pereira, em 2008. Já em 2019, o projeto Costa Terra foi vendido à Discovery Land Company, que junta agora aos 200 hectares iniciais os 32 hectares onde se localiza o parque de campismo.

As áreas de campismo e de caravanismo do parque estão atualmente encerradas "para manutenção", não sendo apontada qualquer data para a reabertura.

susete.francisco@dn.pt

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