Parlamento iraquiano exige saída de tropas da coligação internacional

Deputados contam com o apoio do primeiro-ministro. Nas ruas os jovens iraquianos insurgem-se contra a presença dos EUA mas também do Irão.
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O parlamento iraquiano votou favoravelmente para pedir ao governo que expulse milhares de soldados norte-americanos, em resultado do ataque executado por drones dos EUA em Bagdad e que resultou no homicídio do general iraniano Qassem Soleimani. O primeiro-ministro interino Adel Abdel Mahdi assistiu a uma sessão parlamentar extraordinária que definiu o ataque norte-americano como um "assassínio político".

Mahdi assistiu a uma sessão que demonstra como o país se encontra dividido. Os curdos e quase todos os sunitas boicotaram a sessão que juntou 168 deputados, num parlamento iraquiano com 329 lugares.

Já os deputados mais alinhados com Teerão e com as milícias Forças de Mobilização Popular do Iraque (Hashed al-Shaabi) exigiam a expulsão imediata de todas as forças estrangeiras, uma reivindicação que não inclui os iranianos.

Cerca de 5.200 soldados americanos estão estacionados em bases iraquianas para apoiar as tropas locais, com o objetivo de erradicar o Estado Islâmico. Os soldados fazem parte da coligação internacional, presente no território a convite do governo iraquiano, em 2014, para ajudar a combater grupo terrorista.

"O parlamento votou para que o governo se comprometa a cancelar o seu pedido de ajuda à coligação internacional para combater o Estado Islâmico", anunciou o presidente da assembleia, Mohammed Halbusi.

O executivo iraquiano terá ainda de aprovar qualquer decisão, mas o primeiro-ministro havia indicado anteriormente que apoiava a expulsão ou a revisão do mandato das tropas estrangeiras através de um processo parlamentar.

"Se as forças dos EUA acabarem por se retirar, poderá dar a Soleimani uma vitória póstuma", disse à AFP Tom Warrick, do think tank Atlantic Council.

Coligação suspende operações militares

Entretanto, a coligação liderada pelos EUA anunciou que estava a suspender as operações no Iraque devido aos ataques com rockets às suas bases. "Isso limitou a nossa capacidade de realizar treinos com parceiros e de apoiar as suas operações contra o Estado Islâmico e, portanto, fizemos uma pausa nessas atividades, sujeita a uma revisão contínua", anunciou em comunicado a coligação.

Ao mesmo tempo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Iraque convocou o embaixador dos EUA, Matthew Tueller, para condenar o ataque americano em solo iraquiano. "Foi uma violação flagrante da soberania iraquiana", e "contradizem as missões acordadas pela coligação internacional", disse o ministério numa declaração.

O MNE iraquiano também informou que apresentou uma queixa ao Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o ataque que atingiu Qassem Soleimani, outros quatro guardas da revolução iranianos e cinco membros da milícia Hashed al-Shaabi, pedindo àquele órgão da ONU para condenar as mortes.

"Não ao Irão, não à América!"

Manifestantes iraquianos inundaram as ruas no domingo para denunciar tanto o Irão como os EUA como "ocupantes", receosos de que o conflito entre os países rivais faça descarrilar o seu movimento antigovernamental. Durante mais de três meses, manifestações dominadas pela juventude na capital e pela maioria xiita do sul protestaram contra a classe dirigente iraquiana, que classificam de corrupta e subordinada ao Irão.

"Não ao Irão, não à América!" cantaram centenas de jovens enquanto marchavam pelo centro da cidade de Diwaniyah. "Estamos a tomar uma posição contra os dois ocupantes: Irão e os EUA", disse um manifestante à AFP. "Recusamos uma guerra por procuração em território iraquiano e a criação de crise após crise", disse o estudante Raad Ismail.

Na cidade de Carbala, o estudante Ahmad Jawad criticou quer a morte de Soleimani quer a violência que se seguiu. "Recusamos que o Iraque se torne um campo de batalha para os EUA e o Irão, porque as vítimas deste conflito serão iraquianos", disse.

Os manifestantes exigem também eleições parlamentares antecipadas com base numa nova lei eleitoral. "Queremos um país", disse por sua vez o estudante Ali Hussein. "Está provado que não existe Estado no Iraque", lamentou.

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