Num tom muito crítico, o relator do Parlamento Europeu do boletim sobre a actuação de Ancara, José Inácio Sánchez Amor lamenta o que diz ser uma "deterioração dos padrões democráticos", na Turquia, nomeadamente, tratando-se de um "país candidato à adesão à União Europeia".."Ser candidato significa convergir com a União Europeia em interesses, em valores, em análise e em propostas", apontou o relator do documento, lamentando que a experiência "nos últimos anos" com a Turquia "tem sido uma contínua divergência em todos os aspectos da relação"..No texto, os eurodeputados expressam "grande preocupação que, nos últimos anos, o Governo turco tem enveredado pelo caminho do distanciamento contínuo e crescente em relação aos valores e normas da UE, pese embora a Turquia seja um país candidato".."Ações unilaterais levadas a cabo no Mediterrâneo Oriental, bem como declarações determinadas e, por vezes, provocadoras, proferidas contra a UE e os seus Estados-Membros, fizeram com que as relações UE-Turquia atingissem o ponto mais baixo de sempre", lamentam, numa altura em que está em cima da mesa a ideia de negociações para um acordo para uma união aduaneira com a Turquia..O autor do texto deixa vários recados ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, nomeadamente a ameaça de rejeição da oferta de Charles Michel de uma aproximação da Turquia ao mercado interno. .A aprovação dependerá de as negociações que vão ser encetadas pela presidência portuguesa da União Europeia contemplarem "reformas democráticas".."Parlamento já disse como quer [o acordo]. (...) E, mais vale que o Conselho entenda isto, e já tive oportunidade de o dizer ao ministro português, [Augusto Santos Silva]. Comecem desde já a trabalhar esse dossier, porque este Parlamento não vai aceitar uma nova união aduaneira com a Turquia, se não se fizerem ao mesmo tempo reformas democráticas que o processo de adesão infelizmente não está a conseguir", avisou Sánchez Amor..Na sua intervenção no Parlamento Europeu, ontem, o ministro Augusto Santos Silva disse que partilha as "graves preocupações com recentes desenvolvimentos na Turquia", embora expresse expectativa em relação a "uma agenda positiva"..O ministro falava como representante do Conselho da União Europeia, num debate sobre a Turquia com eurodeputados em Bruxelas, admitiu que "os recentes desenvolvimentos na Turquia, têm colocado a o país cada vez mais distante dos valores europeus, e portanto também cada vez mais distante de um diálogo produtivo com as instituições europeias"..Porém considera que "nos últimos meses e nas últimas semanas", tem havido "desenvolvimentos positivos" como a "descontinuação das atividades de exploração de hidrocarbonetos em águas territoriais de Estados-membros da UE", bem como a "cessação" um discurso perigoso.."Esses elementos positivos devem ser aproveitados para ver se conseguimos construir uma agenda positiva de relacionamento com a Turquia", defendeu, deixando o aviso de que tal "não significa evidentemente que a UE não recorra a todos os seus instrumentos para defender os seus interesses e os interesses dos seus Estados-membros"..Numa conferência de imprensa em Bruxelas, o relator deu exemplos da "deterioração dos padrões democráticos", que tem vindo "a agravar-se", dizendo que "qualquer mínima bolha de crítica na Turquia é reiteradamente massacrada pelo aparelho do Estado, pela polícia, pelos procuradores, pelos juízes, dando lugar a uma deterioração que é absolutamente incompatível com essa vontade [de uma agenda positiva] ultimamente proclamada pela União Europeia"..É por essa razão que José Inácio Sanchez Amor apela a que o Parlamento, Comissão e o Conselho "unifiquem uma posição", e deixa um recado à presidência portuguesa da União Europeia.."Qualquer oferta de uma agenda positiva coma Turquia têm de ter uma forte condicionalidade democrática", defendeu.