Parlamento dá tacada à antiga estrela de críquete Imran Khan

Imran Khan foi demitido do cargo de primeiro-ministro do Paquistão depois de perder uma moção de censura no parlamento, em resultado de semanas de tumultos políticos.
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O presidente interino do Parlamento, Sardar Ayaz Sadiq, disse que 174 deputados tinham votado a favor, "consequentemente, a moção de censura passou". Não ficou imediatamente claro quando será escolhido um novo primeiro-ministro, mas o líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N) Shehbaz Sharif deverá ser o escolhido para liderar o país com 220 milhões de habitantes.

Nenhum primeiro-ministro cumpriu um mandato completo no Paquistão, mas Imran Khan é o primeiro a perder o cargo desta forma. Khan, de 69 anos, tentou tudo o que pôde para se manter no poder - incluindo dissolver o parlamento e convocar uma nova eleição - mas o Supremo Tribunal considerou todas as suas ações ilegais na semana passada, e ordenou que a assembleia se reunisse novamente e votasse.

Houve drama até à meia-noite do prazo ordenado pelo Supremo Tribunal, com o presidente da assembleia - fiel de Khan - a demitir-se no último minuto.

No final de contas, a sessão continuou até domingo, com um substituto. "Vamos pôr um bálsamo nas feridas desta nação", disse Sharif imediatamente após o resultado ter sido anunciado.

Khan, que não estava presente, perdeu a sua maioria na assembleia de 342 deputados através de deserções dos parceiros da coligação e membros do seu próprio partido, e a oposição tinha precisado apenas de 172 votos para o despedir.

Os ânimos levantaram-se quando Sharif insistiu na realização imediata de uma votação - como ordenado pelo Supremo Tribunal na quinta-feira -, mas os fiéis de Khan exigiram primeiro uma discussão sobre as alegações do seu líder de que tinha havido interferência estrangeira no processo.

Khan insiste ter sido vítima de uma conspiração de "mudança de regime" envolvendo os Estados Unidos. Disse que o PML-N e o Partido Popular do Paquistão (PPP) - dois partidos dinásticos por norma rivais e que se uniram para o destituir - tinham conspirado com Washington para aprovar uma moção de censura devido à sua oposição à política externa dos EUA, particularmente em nações muçulmanas como o Iraque e o Afeganistão.

Também acusou a oposição de comprar apoio na assembleia com " venda de deputados como cabras e ovelhas".

O ministro dos Negócios Estrangeiros Shah Mehmood Qureshi acusou a oposição de conduzir o país por um caminho perigoso. "A história vai expor todos aqueles que prepararam o terreno para este movimento derrubar o governo", disse, enquanto a oposição entoava "votar, votar".

Quem assumir o controlo do país terá ainda de lidar com as questões que atormentaram Khan - uma inflação crescente, uma rúpia débil e uma dívida paralisante.

O extremismo religioso também está em ascensão, com os talibãs do Paquistão encorajados pelo regresso ao poder, no ano passado, do grupo islamista no vizinho Afeganistão.

Quanto tempo durará o próximo governo é outra questão. A oposição disse anteriormente que queria eleições antecipadas - que devem ser convocadas até outubro do próximo ano - mas a tomada do poder dá-lhes a oportunidade de estabelecer a sua própria agenda.

Publicamente, os militares parecem manter-se fora da corrente disputa, mas já houve quatro golpes desde a independência em 1947 e o país passou mais de três décadas sob o domínio do exército.

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