Nova derrota para Boris: Parlamento recusa encerrar durante conferência dos Conservadores
Boris Johnson sofreu esta quinta-feira mais uma derrota na sua guerra com o Parlamento: os deputados chumbaram a moção do governo no sentido de interromper os trabalhos parlamentares durante alguns dias, na próxima semana, para que o Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro, possa realizar a sua conferência anual em Manchester. Esta está prevista para entre os dias 29 de setembro e segue-se às conferências do Labour e do Partido Liberal-Democrata. O resultado da votação na câmara dos Comuns foi de 306 votos a favor e de 289 contra. Uma diferença de 17.
O Parlamento britânico regressou aos trabalhos esta quarta-feira, depois de o Supremo Tribunal ter declarado ilegal o pedido de suspensão do mesmo feito por Boris Johnson à Rainha Isabel II. Ontem, durante mais de 12 horas, os deputados estiveram a debater vários temas, do Irão à falência da Thomas Cook, mas foi o Brexit que concentrou todas as atenções. Boris Johnson esteve três horas na câmara dos Comuns, a debater com os deputados, tendo sido instado a desculpar-se por ter aconselhado a monarca a ordenar um encerramento ilegal do Parlamento do Reino Unido.
Boris Johnson, que apesar de tudo vê o seu partido liderar as sondagens, não só não pediu desculpas, como garantiu que vai cumprir o Brexit porque é isso que o povo britânico quer porque foi para isso que votou em 2016. Acusando o Parlamento de parecer estar a querer travar a saída do país da União Europeia, agora prevista para 31 de outubro, o chefe do governo e líder dos Conservadores surgiu apostado em prosseguir a sua estratégia de O Parlamento versus O Povo. Voltou a classificar a lei aprovada pelos deputados, no sentido de evitar um No Deal Brexit, de Lei da Rendição, Lei da Humilhação, Lei da Capitulação. E a desafiar os partidos da oposição, que não se entendem, a apresentarem uma moção de censura contra si.
Vários deputados condenaram a retórica inflamada usada pelo primeiro-ministro nos debates e insinuaram que ela está a contribuir para o aumento de ameaças de morte que alguns eleitos têm vindo a receber. O líder do Labour, Jeremy Corbyn, sugeriu ao speaker da câmara dos Comuns, John Bercow, que os líderes de todos os partidos se juntassem num compromisso destinado a garantir que este tipo de retórica não voltará a ser usado.
As declarações de Boris Johnson foram condenada até pela sua própria irmã, Rachel Johnson, que as considerou "de muito mau gosto". Especialmente as relativas à deputada trabalhista Jo Cox, morta em 2016, por um militante de extrema-direita. Quando vários deputados lembraram a colega assassinada à facada e a tiro o primeiro-ministro declarou: "A melhor forma de honrar a memória de Jo Cox é fazer aquilo que é melhor para unir este país, e penso que isso é concretizar o Brexit".
A retórica inflamada do primeiro-ministro será, por isso, alvo do debate desta quinta-feira à tarde. Tal como o tema da democracia e dos direitos dos eleitores, introduzido pelo governo, para defender o resultado do referendo de 2016. Em relação aos trabalhos parlamentares da próxima semana, dado o chumbo da moção do Executivo de Boris Johnson. o ministro dos Assuntos Parlamentares, o brexiteer radical Jacob Rees-Mogg, agendou temas que não diretamente o do Brexit: na segunda-feira os deputados irão debater a ausência de governo na Irlanda do Norte, na terça-feira irão votar em vários instrumentos, na quarta-feira irão debater, sem segunda leitura, a lei sobre a violência doméstica, na quinta-feira irão realizar um debate geral sobre a saúde mental nas mulheres e a despesa do Ministério da Defesa britânico.
Apesar da conferência dos Conservadores, Rees-Mogg garantiu, de forma provisória, que Boris Johnson estará nos Comuns, na quarta-feira, para a habitual sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro por parte dos deputados britânicos. Apesar disso, Paul Waugh, editor de política do Huffington Post Uk, citou fontes dos Conservadores para afirmar que o chefe do governo pretende manter o seu discurso na conferência do partido conforme estava previsto, ou seja, para quarta-feira.
Em relação ao Brexit mudou alguma coisa com a reabertura do Parlamento? Não, é a resposta. Boris Johnson acusa mesmo a câmara dos Comuns de estar paralisada - chamou-lhe zombie - de ser incapaz de encontrar um acordo alternativo, de ser incapaz de votar uma moção de censura e de provocar eleições antecipadas no Reino Unido. Esta sexta-feira, o ministro britânico para o Brexit, Steve Barclay, desloca-se de novo a Bruxelas para se reunir com o negociador chefe da UE para o Brexit, o francês Michel Barnier, para discutir alternativas ao backstop, controverso ponto sobre o mecanismo de salvaguarda que visa impedir o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
Londres, face a um ultimato do presidente francês e da presidência finlandesa do Conselho da UE, apresentou até agora quatro propostas alternativas sobre o backstop. Mas só à Comissão. Não quer que esta as partilhe, para já, com a UE27. Boris Johnson diz respeitar - mas não concordar - com a decisão do Supremo Tribunal britânico, por considerar que o regresso do Parlamento e os seus debates infindáveis em nada contribuem para ajudar a encontrar um novo acordo com a UE27. O primeiro-ministro tem dito que "há progressos" nas negociações com a UE27, Barnier, por seu lado, continua a dizer que Bruxelas continua à espera de propostas válidas do ponto de vista legal e funcional da parte dos britânicos.
Enquanto tudo isto acontece, o relógio continua a trabalhar e a data para o Brexit, 31 de outubro, está cada vez mais próxima.