Um dia depois de Antonio Tajani, o presidente do Parlamento Europeu (PE) garantir em Londres que se o Reino Unido desistir de sair da União Europeia os restantes 27 o irão receber de braços abertos, Guy Verhofstadt teve um discurso bem mais duro com os britânicos. Para o coordenador do PE para o brexit, ao antecipar as eleições, Theresa May está apenas a "tentar reforçar o seu domínio sobre o Partido Conservador e a aproveitar o facto de os trabalhistas estarem em crise para garantir mais cinco anos no poder antes de chocar com a realidade do brexit". E, garante o líder da Aliança dos Liberais e Democratas para a Europa, seja qual for o resultado das legislativas britânicas de 8 de junho, não irá mudar em nada as negociações com Bruxelas..Num artigo publicado hoje no Observer, a edição de domingo do The Guardian, mas cujos excertos foram ontem divulgados, Verhofstadt garante que "a teoria, defendida por alguns, segundo a qual Theresa May convocou eleições sobre o brexit de forma a garantir um acordo melhor com a UE não tem qualquer sentido". Sublinhando que tanto os políticos como os media britânicos parecem "ainda não ter percebido como o artigo 50 [do Tratado de Lisboa, que depois de acionado dá dois anos para negociar a saída de um Estado membro] funciona na prática", o político belga explica: "A eleição de mais deputados conservadores vai dar a Theresa May mais hipóteses de garantir um acordo melhor para o brexit? Para aqueles que se sentam à mesa em Bruxelas, isso é irrelevante.".Com as sondagens a darem 20 pontos de vantagem aos tories sobre o Labour de Jeremy Corbyn, May decidiu antecipar as eleições previstas para 2020. Uma decisão que a própria justificou com a necessidade de reforçar a sua posição para negociar o brexit. Na chefia do governo desde 13 de julho de 2016, May não passou pelo voto popular, tendo sucedido a David Cameron após a demissão do primeiro-ministro na sequência da vitória do brexit no referendo de junho e depois de os rivais na corrida à liderança dos tories terem desistido..Em campanha em Dudley, no Centro do país, a primeira ministra garantiu que os tories são "um partido dos impostos baixos", mas recusou confirmar que não irá aumentá-los depois das eleições. A questão surgiu depois de os trabalhistas denunciarem que May está a preparar uma "bomba fiscal"..Enquanto no terreno os candidatos se centram na política interna, em Bruxelas o brexit é o único assunto. "Tal como no referendo, que muitos líderes europeus viram como uma guerrinha entre conservadores que saiu fora de controlo, muitos no continente veem estas eleições como novamente motivadas por maquinações internas nos tories", escreveu Verhofstadt. Mostrando-se pessimista, este afirma que "a menos que o governo britânico peça acordos transitórios nesse sentido e todos os 27 concordem, [depois do brexit] os cidadãos britânicos não terão mais direito de ir de férias, viajar ou estudar na UE do que os turistas vindos de Moscovo ou os estudantes de Bombaim".