"Para chegar aos sucessos, temos inúmeros insucessos"

Joaquim Barbosa, investigador--colaborador no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, terminou um primeiro projeto de videomonitorização costeira há quatro anos. Em Mira, está a ser desenvolvida uma nova versão, que servirá também para corrigir alguns erros.
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Este projeto surge no seguimento de um outro que desenvolveu. Que projeto era esse?

Candidatei um projeto à Fundação para a Ciência e a Tecnologia que usava o vídeo para recolha de dados constantes, o que seria muito importante para o estudo durante eventos extremos. Havia um sistema no mercado, mas o preço era muito elevado. Porque não construir um de raiz? O processo decorreu ao longo de três anos e foi uma aprendizagem muito grande. Havia pormenores técnicos que não eram referidos em termos bibliográficos, mas são essenciais para o sistema funcionar. Não havia, por exemplo, um sistema de energia extra. O projeto funcionou nas torres de Ofir. Não concebemos que os cortes de energia ultrapassassem os 20 minutos. Tivemos uma grande surpresa quando, um mês após uma tempestade, não tínhamos dados. O sistema foi abaixo, o UPS não foi suficiente e ficámos sem dados. Mas isso ajudou-nos a ter uma série de aprendizagens.

Este projeto é uma nova versão?

Sim. Mas, se virmos o anterior e o atual, o conceito é completamente diferente. Foi a aprendizagem do outro que fez a diferença. Muitas vezes consideramos que para fazer ciência, para investigar, só temos de ter sucessos. Andamos sempre à procura dos sucessos da investigação, mas, para chegar a esses sucessos, temos inúmeros insucessos. Houve algumas opções que na altura não foram as melhores. Tentámos perceber porquê, melhorá-las e agora implementámos novas ideias e formas de resolver os problemas.

Quais as potencialidades da videomonitorização?

Cada vez mais, para trabalhar a monitorização, estamos a analisar e recolher dados com base na deteção remota, ou seja, não precisamos de tocar nos objetos para estudar o fenómeno ou o processo. E a videomonitorização é uma forma de deteção remota. Para além das imagens de satélite e da fotografia aérea, esta é uma forma de recolher dados dessa maneira. Em termos de potencialidade, se o sistema funcionar em pleno, com a capacidade de adquirir dados ao longo do tempo, pode funcionar autónomo, processar e enviar dados de forma automática, cobrir uma área significativa que, por outros métodos, tinham um custo superior e exigiam mais recursos humanos.

Pode ser usada noutras áreas?

Sim, uma das quais poderá ser a monitorização de áreas fluviais ou estuarinas. E poderá, ainda, dependendo do sensor, ser aplicada noutras áreas. É transpor a tecnologia espacial para a vertente terrestre. Poderá ser. São hipóteses. Estamos a desenvolver um protótipo para um determinado fim, porque, se desfocamos, a probabilidade de insucesso aumenta.

Em Portugal, estamos a acompanhar o que se faz lá fora?

Em alguns aspetos, sim, mas há outros onde estamos a correr atrás, claramente. Há zonas costeiras que têm sistemas de videomonitorização implementados e nós não. O Mozko, primeiro projeto na área, começou nos anos 90.

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