"Para aqueles agentes fardados nós não éramos pessoas"

Flávio Almada, uma das vítimas da violência policial, recordou a "humilhação". A polícia "deixou de ser sinal de segurança"
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Estudante do ISCTE, mediador social da Associação Moinho da Juventude, na Cova da Moura, rapper (LPC), Flávio Almada foi uma das seis vítimas da violência policial naquele dia 5 de fevereiro de 2015. Em fevereiro último, quando se completavam dois anos sobre os incidentes, acedeu a falar ao DN sobre a "humilhação", a "tortura" a que foi sujeito.

"A primeira coisa que me vem à cabeça é a negação da humanidade aos africanos. Para aqueles agentes fardados nós não éramos pessoas. Nunca vou esquecer a cara do agente que nos disse que se pudesse exterminar-nos-ia todos, ou seja, que matava todos os africanos, que ele chamou de "raça do caralho". Eu já tinha ouvido essas histórias por parte de muitos jovens. Mas sentir na pele é outra coisa. É um ódio que nos têm e que eu não sei explicar", recordou. Contava que, apesar do trabalho desenvolvido entre a associação e a PSP em anos passados, "a polícia deixou de ser um sinal de segurança" no bairro. "Sempre que os vejo lembro-me da tortura e da humilhação", sublinhava, manifestando a sua descrença na justiça: "O pior disso tudo foi a narrativa à volta do acontecimento. Há sempre uma busca pela absolvição desses agentes que violam a lei (...) Ficou patente que para a polícia portuguesa africano e criminoso são sinónimos, que podem ser torturados e humilhados, e os agentes perpetradores saem impunes. No máximo apanham uma pena administrativa. Isto é, quando o caso provoca escândalo."

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