O Papa Francisco quer que a Europa reflita se o seu património é "parte de um museu" ou se "ainda é capaz de inspirar a cultura e de doar os seus tesouros à humanidade inteira"..A pergunta foi feita pelo Papa numa mensagem gravada e transmitida, em vídeo, na Karlsplatz, no centro de Munique. Na capital da Baviera (Alemanha), terminou ontem o congresso Juntos pela Europa, iniciativa que reúne cerca de 300 movimentos e comunidades de diferentes igrejas cristãs - católicas, ortodoxas, protestantes, anglicanas e igrejas livres..Dirigindo-se a cerca de quatro mil pessoas concentradas na praça - além dos participantes, também outra s pessoas que apareceram para a sessão final, incluindo mais de um milhar de jovens -, o Papa afirmou que a Europa vive grandes problemas, que os cristãos de diferentes igrejas devem saber enfrentar com o "acolhimento e a solidariedade em relação aos mais débeis e desfavorecidos, construindo pontes e ultrapassando conflitos"..Aludindo aos refugiados que procuram proteção no continente, Francisco insistiu na ideia de uma Europa que coloque no centro a pessoa humana, através do acolhimento e da cooperação económica, cultural e social..Na mensagem final do congresso, os participantes insistem em que a Europa não pode tornar-se "uma fortaleza e erigir novas fronteiras", acrescentando: "Não há alternativa ao viver juntos.".As "experiências terríveis de duas guerras mundiais" servem para mostrar onde pode acabar a lógica dos egoísmos nacionais ou culturais, avisam os participantes. Mas também para os responsáveis das igrejas cristãs vai um apelo, um ano antes de se assinalarem, em 2017, os cinco séculos do início da Reforma protestante de Martinho Lutero: "Pedimos aos responsáveis das igrejas que ultrapassem as divisões. Enquanto cristãos, queremos viver juntos, na reconciliação e em plena comunhão.".Ambas as mensagens - acolhimento à diversidade cultural, incluindo os refugiados; e importância de um testemunho unido dos cristãos numa Europa que se esboroa - foram repetidas sistematicamente pelos diferentes intervenientes na sessão final, bem como nas músicas e danças executadas por bandas e grupos de jovens..Marco Impagliazzo, presidente da Comunidade de Santo Egídio, deu um exemplo ao DN de um projeto no qual a comunidade (católica) se envolveu com igrejas evangélicas: pedir ao governo italiano a suspensão de Schengen por motivos humanitários para conceder um milhar de vistos a refugiados em situação de extrema vulnerabilidade - doentes, deficientes, mães com crianças, de modo a estabelecer corredores humanitários seguros. A viagem aérea é paga por aquelas organizações e a integração é feita pela inserção em comunidades locais..O projeto pode ser copiado por outros países, diz o responsável da Comunidade, que atualmente está também envolvida nas negociações para preservar a paz em Moçambique. Neste momento, os grupos de Santo Egídio na Polónia e em França estão a envidar esforços para que os seus governos aceitem a ideia. "Espero que Portugal também", diz..Um gesto previsto para o final da tarde - pegar num pequeno lanche com pão, maçãs e salsichas, para ir conversar sobre temas como os refugiados ou o brexit com pessoas disponíveis e de passagem na rua - acabou por ficar quase sem efeito, por causa da forte chuva que começou a cair quando os participantes se preparavam para o fazer.