Papa diz que Igreja deve admitir história de abusos e agradece aos denunciantes

O Papa Francisco apelou a uma "igreja viva que possa olhar para a sua história e reconhecer uma justa parte de autoritarismo masculino, dominação, várias formas de esclavagismo, abuso e violência sexista".
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A Igreja Católica Romana deve reconhecer a sua história de domínio masculino e abuso sexual de mulheres e crianças para conseguir recuperar a sua reputação perante a nova geração, ou arrisca-se a tornar-se um "museu", defende o Papa Francisco.

Após o Sínodo dos Bispos sobre os jovens, numa exortação publicada com o nome de "Christus vivit", o Papa enfrentou as inúmeras críticas sobre a resposta da Igreja à crise de abuso sexual que se alongou durante décadas e que já forçou o pagamento de milhares de milhões de dólares em indemnizações.

Francisco emitiu o documento inspirado pelo encontro de bispos realizado em outubro do ano passado, dedicado a melhorar o ministério dos jovens católicos.

O encontro foi marcado por exigências para melhorar os direitos das mulheres e o documento final dos bispos considerava a necessidade de as mulheres assumirem posições de responsabilidade e tomada de decisão na Igreja como "um dever de justiça".

No capítulo intitulado "Pôr fim a todo o tipo de abusos", o Papa recordou que o sofrimento das vítimas "ninguém pode curar".

No mesmo documento, o papa diz que as mulheres têm "queixas legítimas" para exigir mais justiça e igualdade na Igreja Católica, mas não chega a endossar pedidos dos próprios bispos para dar às mulheres funções de decisão. "Uma Igreja viva pode olhar para a sua história e reconhecer uma justa parte de autoritarismo masculino, dominação, várias formas de esclavagismo, abuso e violência sexista", escreveu o Sumo Pontífice.

O papa Francisco agradeceu ainda "a valentia" de quem denunciou os abusos sexuais perpetrados pelo clero porque ajudou a Igreja a "tomar consciência do sucedido" e da necessidade de reagir.

"Com esta perspetiva, podemos respeitar os direitos das mulheres e oferecer apoio convicto a uma maior reciprocidade entre homens e mulheres, mesmo não concordando com tudo o que alguns grupos feministas propõem," escreveu.

Alguns grupos feministas tinham pedido a abertura da igreja ao sacerdócio feminino, um pedido que foi categoricamente descartado com base no argumento de que Jesus escolheu apenas homens como seus apóstolos.

Ainda no mês passado, as responsáveis pela revista feminina do Vaticano, Women Church World, formada por mulheres, deixaram os seus cargos por considerarem que existia uma campanha do Vaticano para as desacreditar e para as colocar "sob o controlo direto dos homens".

O Papa Francisco apelou também à população jovem para que não desista da Igreja, no rescaldo do escândalo dos abusos sexuais que atingiram a comunidade católica, mas para trabalhar com a esmagadora maioria dos padres e outros clérigos que permaneceram fiéis à sua vocação.

O Papa reconheceu as razões que afastam os jovens da igreja, "escândalos sexuais e financeiros e um clero mal preparado para se envolver efetivamente com as sensibilidades dos jovens". À Igreja Católica cabe atrair novos crentes, os jovens, explicando melhor a sua doutrina e fazer mais do que simplesmente condenar o mundo, não se deixando ficar presa no tempo, considerou o Pontífice.

"Uma igreja sempre na defensiva, que perde a sua humildade e deixa de ouvir os outros não deixa espaço para perguntas, perde a juventude e transforma-se num museu," afirmou o Papa Francisco.

Com Lusa.

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