O Papa Francisco afirmou hoje que, no combate ao vírus Zika, pode ser justificável a utilização de métodos contracetivos, como o preservativo, naquilo que pode ser entendido como um discurso que se afasta da doutrina vigente na Igreja Católica..Na viagem de regresso à visita ao México, Francisco reiterou a oposição da instituição que lidera ao aborto de fetos com microcefalia, doença que estará ligada à infeção pelo Zika. E acabou por dizer que o recurso a métodos contracetivos artificiais para evitar a gravidez, em situações extremas, será aceitável..O Papa reiterou que, na sua perspetiva, o aborto é crime em qualquer circunstância - chamou mesmo à interrupção voluntária o "demónio absoluto" - e que "evitar a gravidez não é um mal absoluto" pelo que, em situações de extremo risco, a utilização de métodos contracetivos é "o menor dos males"..O aborto "é matar uma pessoa para salvar a outra. É o que faz a máfia... É o demónio absoluto", disse Francisco, citado pelo jornal britânico The Guardian, que acompanha o sumo pontífice nesta visita..O Papa fez questão de lembrar que não é a primeira vez que a igreja católica abre a porta, em casos excecionais, à utilização de métodos de contraceção. E referiu Paulo VI que permitiu que freiras em África tomassem a pílula quando estivessem em regiões onde corressem alto risco de serem violadas..A Organização Mundial de Saúde estima que pelo menos quatro mil bebés nasceram nos últimos meses com microcefalia, doença em que o bebé nasce com a cabeça anormalmente pequena, uma malformação que, segundo vários cientistas, estará ligada à infeção da mãe durante a gravidez pelo vírus Zika.