Pandemia: nova vaga
Esta nova vaga de Covid-19 na variante Ómicron veio baralhar as eleições legislativas. Por um lado, favorece o governo e António Costa que estão em funções e aparecem todos os dias na televisão não podendo ser acusados de eleitoralismo. Mas, é importante, os nossos dirigentes reconhecerem erros e assumirem responsabilidades. Recordo-me, o ano passado, António Costa ter dito e assegurar que estávamos no princípio do fim da pandemia. Vários cientistas prognosticaram que na próxima Primavera, o vírus estaria controlado e muitos dirigentes apressaram-se a dizer que este final se devia à sua gestão.
Recordo-me de cientistas e governantes dizerem-nos que quando mais de 70% da população estivesse vacinada a imunidade de grupo seria altamente eficaz.
Há um cansaço generalizado pelas políticas tendentes a eliminar riscos e há um crescente mal-estar, manifestações e protestos com os negacionistas à cabeça. Na área económica a apreensão é generalizada.
Agora os cientistas e o governo dizem-nos que é preciso mais tempo. Enfim! Já percebi há muito tempo que andamos nisto às apalpadelas e sem uma luz clara ao fundo do túnel.
Estou cansado de ser cobaia, vamos ter que tomar 3.ª dose, 4.ª dose e as que forem necessárias. Este vírus nunca será controlado, mas sim atenuado na sua virulência com a vacina. Vamos ter que conviver com ele. A Covid-19 veio para ficar e a tolerância zero não vai existir. Irá morrer gente como morre de gripe e outras doenças (cancro) que deixamos lamentavelmente de falar nelas, por falta de cuidados de saúde.
As pessoas estão a ficar saturadas e desanimadas, porém, os hotéis e viagens para o final do ano têm uma enorme procura.
Essa fuga para a frente, a ânsia de viver mesmo correndo o risco de serem contaminados, faz-me pensar que estamos em burnout de restrições e medidas, já não ligamos a nada e não queremos saber.
A conclusão a que se chega é que a pandemia durará não sabemos quanto tempo, quando ou de que forma será alcançada a sua imunidade.
A politização da luta contra a pandemia e a eventual vitória contra ela, mostra que o governo não vai poder tirar dividendos disso.
Seria melhor antes de se falarem e criarem falsas expectativas conhecer os efeitos reais da variante ómicron de SARS-Cov-2, que incorpora até 30 mutações do vírus original, e a resposta aos seus efeitos nas diversas vacinas.
Vivemos numa época em que as decisões políticas dependem da interpretação e do efeito que causam aos cidadãos. Temos obrigações, mas também "temos direitos". Temos direito que não nos mintam, não criem falsas expectativas e "temos direito" quando não sabem, digam que não sabem. Não se envergonhem de ser humildes, quer cientistas, quer políticos.
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores