Pandemia, eleições e bazuca marcam 2022. O que esperar?
As filhas são a grande preocupação de Joana Carvalho e de Luís Dias. Preocupa-os que não venham a ter a mesma liberdade de movimentos que eles tiveram em crianças pois ficar em casa tem sido a realidade da pandemia. Maria Inês, a mais nova, tinha 3 meses quando apareceu o primeiro caso de covid-19 (2 de março), a Margarida, a mais velha, tem 3 anos. A liberdade é o que mais anseiam para 2022.
"Será que poderão andar livremente? A situação pandémica vai melhorar mas as minhas filhas não vão ter a liberdade que eu tive com a idade delas. Neste momento, não há um crescimento livre, temos sempre receio de alguma coisa", lamenta Luís Dias, 42 anos, especialista em seguros de vida.
Joana Carvalho, 39 anos, bancária, acrescenta as preocupações com os efeitos das alterações climáticas nas próximas gerações. Mas são os confinamentos e as limitações de circulação devido à covid-19 que a apoquentam de momento. Há um ano, o casal acabou por vender o apartamento onde viviam em Lisboa e comprar uma vivenda na Amadora.
"Tornou-se difícil viver num apartamento, que nem uma varanda tinha. Viemos da província [Abrantes], habituados a correr e a saltar na rua, ter espaço, liberdade. As minhas filhas sentiram muito o facto de estarmos fechados num apartamento, ao fim de dois meses tivemos de ir para Abrantes, estavam a ficar insuportáveis", conta a Joana. Mas não resolveu tudo.
"Não estar com os amigos, não me poder libertar da pressão do trabalho ao fim de semana, faz muita falta, afeta-me psicologicamente. Vivemos aprisionados em casa e, quando saímos, é com medo. Estou a chegar ao limite do cansaço", confessa Joana. Exemplifica o Luís: "Não pudemos assistir à festa de Natal da escola, a Maria Inês tem 2 anos e nunca fizemos uma festa de aniversário."
A nível da educação, a bancária e ex-professora primária, encontra vantagens para a faixa etária das filhas. "Aproveitaram os pais a tempo inteiro. Conseguimos dedicar-lhes tempo que, estando no local de trabalho, não era possível. Não sentiram tanto a pandemia como as crianças escolarizadas. Os pais não ensinam da mesma forma que os professores e isso vai sentir-se mais tarde, principalmente no 1.º ciclo.
O ensino à distância não lhes dá a mesma formação de base."
A Maria Inês nasceu e ficou confinada aos pais e irmã. Quando começaram a encontrar-se com pessoas, chorava. E teve uma adaptação mais difícil do que a irmã à escola, que está no jardim-de-infância.
O Luís ficou em teletrabalho, já as funções de gestora bancária não o permitiu à Joana. Teve de ser o pai a ficar com as crianças, nenhuma delas autónoma. Nem tem palavras para descrever as dificuldades, em conciliar com o trabalho, mas percebe-se bem pelas expressões.
Joana tem muitas dúvidas sobre como combater a nova doença. "A pandemia gera muitas incertezas, pensamos que está a chegar ao fim e surgem novas variantes, há um retrocesso", argumenta. Sente que lhe falta informação. "Acreditamos que a Direção-Geral da Saúde e os organismos que aprovam as vacinas o fazem porque são válidas, mas também nos deixam alguma incerteza sobre o impacto no futuro, pelo menos enquanto mãe."
A situação e as condições laborais da família não pioraram com esta crise, na empresa do Luís (de pequena dimensão) houve o cuidado de acompanhar os funcionários em casa, inclusive com a entrega de cabazes e cestos de fruta. A questão para o futuro é se os salários vão aumentar na mesma proporção do aumento do custo de vida. "A subida da inflação vai sentir-se nas famílias como nós da classe média, também os preços das matérias-primas, das energias, etc. O aumento dos ordenados não vai refletir a subida do custo de vida, isso preocupa-me", diz Joana. Luís Dias dá o exemplo da habitação secundária que têm em Abrantes e que vai sofrer obras. O orçamento que lhes fizeram há um ano já vai no dobro do valor.
Há eleições a 30 de janeiro, nada que suavize a preocupação do casal sobre o que aí vem. A bancária confia pouco na classe política. "Está muito descredibilizada, sinto que as pessoas não acreditam muito na política, mas também temos de pensar que fazemos parte dela. Quem nos representa depende de nós. Sou da opinião que quem não vota não pode criticar."
O especialista em seguros entende que nada vai mudar independentemente do resultado da votação. "Se alterar, vai ser para o PSD e vai ficar como está porque não vão ter maioria. E, embora a minha orientação política seja a que está no governo, não acredito que consigam fazer melhor, mas também não acredito que os outros consigam fazer melhor." Tem concorrido nas listas do PS como independente às eleições autarcas a freguesias de Abrantes, de onde é natural.
A Joana quer que ganhe o PSD. "Não haverá grandes alterações, mas tenho esperança de que vire à direita. Vejo mais abertura para aprovarem orçamentos como bloco central. O PS a ter de ceder à esquerda para validar orçamentos é mais do mesmo."
Em relação aos fundos financeiros que virão da União Europeia até 2026 para minimizar os efeitos da pandemia, a questão principal é saber como serão aplicados. "Estou dentro da parte económica e aumentar ordenados mínimos não vai fazer que o país evolua. Temos de dar apoio às empresas, baixar os impostos, para que possam aumentar os trabalhadores e criar postos de trabalho, a economia passa por aí. Os ordenados mínimos têm aumentado e os médios continuam na mesma. As empresas têm uma carga fiscal imensa. Mas atenção, defendo que as empresas com grandes lucros distribuam parte pelos trabalhadores."
É também pessimista a visão do Luís, até pela experiência que tem de outros apoios. "Na minha aldeia, Mação, os incêndios destruíram tudo há quatro anos, a mim e a toda a gente, os meus pais perderam o que era o sustento. Chegou montes de fundos e 90% da população não recebeu nada. Para onde foi esse dinheiro? Acredito que aja quem beneficie mas o apoio não chegou a quem perdeu tudo. Temo que os dinheiros da bazuca também não vão chegar a todos."
Apesar de todas as objeções, acreditam que o ano que se inicia será positivo. É quase uma questão de fé para Luís Dias: "Somos um povo que reage sempre às dificuldades, falo por cá por casa. Vamos fazer tudo para que a coisa evolua."
A Joana tem esperança de que 2022 possa ser de viragem. "Se a pandemia ficar controlada, vamos conseguir dar a volta. É claro que temos sempre questões mundiais que têm impacto no país: as alterações climáticas, as guerras comerciais, mas vamos conseguir."
Natália Mendes, 54 anos, faz controlo de qualidade numa fábrica da indústria alimentar. Paulo Mendes, 55, é dono da Jardim Mendes. Vivem no concelho de Pombal, Leiria, e há 12 anos que trocaram a cidade pelo campo. "Ganhou-se em conforto, em qualidade de vida, não tem nada que ver viver na aldeia ou na cidade. Na aldeia, adormeço a ouvir os grilos, acordo a ouvir os passarinhos. Temos privacidade, ar puro, é um modo de vida completamente diferente", diz o Paulo, que regressou às origens.
Ambos têm trabalhos impossíveis de se realizarem à distância e «« continuaram quase na normalidade apesar da pandemia. Têm dois filhos. O Igor, 26 anos, tirou o mestrado em Auditoria Financeira e trabalha há três anos em Lisboa. O Edgar, 20, frequenta o 3. º ano do curso de Engenharia Biomédica, no Instituto Superior Técnico.
Natália trabalha numa fábrica na cidade e a principal dificuldade foi manter a produção. "Foi bastante desgastante, tivemos de garantir o trabalho das colegas que ficarem em casa para dar assistência à família. A empresa não parou", explica. Mas o confinamento teve reflexos nos hábitos dos consumidores, originando uma quebra de produção. Ficou alguns dias em casa ao abrigo do programa de Apoio Extraordinário à Retoma Progressiva.
A atividade de Paulo Mendes não sofreu quebras. "Trabalhamos ao ar livre, não precisamos de interagir com ninguém, temos as nossas ferramentas. É só uma questão de ter os cuidados sugeridos pelas autoridades de saúde."
Assim correu 2020. Em 2021, houve, até, um aumento grande de trabalho e não só na área de jardinagem. "Toda a gente diz que há mais trabalho. A construção de piscinas teve um boom, talvez pelo facto de as pessoas não poderem sair para o estrangeiro devido às restrições. Foram reabilitadas muitas casas, fizeram-se jardins. A covid pôs as pessoas a reequacionar uma série de questões", explica o Paulo.
O maior problema é mesmo a falta de mão-de-obra. "Temos uma taxa de desemprego de 6,5% e há empresas em todo o lado a pedir funcionários, o que é incompreensível", sublinha Paulo Mendes.
As eleições estão à porta e sem grandes esperanças para Paulo: "Tenho falado com muitas pessoas que também não demonstram grandes expectativas, é a mesma dificuldade de sempre. Temos um clima fantástico, um povo maravilhoso, é pena que a classe política, a organização do país, não permita que as pessoas sejam mais felizes, desde logo, pelos salários baixos. Os portugueses são vistos no estrangeiro como excelente trabalhadores e cá não conseguimos evoluir muito, a classe política não ajuda, isso vê-se até na abstenção."
O ideal seria que "o país evoluísse no sentido de proporcionar maior qualidade de vida a todos os portugueses", mas não está muito confiante, "até pelo passado recente". "É mais do mesmo", acrescenta Natália Mendes.
O empresário gostava que a configuração do parlamento mudasse. "Seria bom que as eleições de 30 de janeiro fossem uma oportunidade para o país levar um abanão, seria bom quer para a classe política quer para a sociedade civil. Seria bom para o país melhorar em todos os aspetos: os salários, o SNS - há pessoas que não têm médico de família, o que é impensável, há muito a melhorar."
A confiança do casal é maior no que diz respeito ao combate à pandemia. "A covid deixa-nos receosos em relação ao futuro, mas estou confiante que tudo irá correr pelo melhor", argumenta a Natália. Acredita na "eficácia da vacina e no bom senso das pessoas".
Paulo Mendes tem confiança na ciência. "Será uma questão de tempo para que a pandemia seja ultrapassada: através das vacinas, de um medicamento eficaz e/ou porque o vírus se vai dissipando."
O mais difícil será recuperar os efeitos da doença na economia. "Espero que o país recupere de forma a que a vida das pessoas possa melhorar. Espero que os nossos políticos estejam à altura da situação, nomeadamente em relação aos dinheiros que vêm da Europa, seria muito bom que o país desse um salto qualitativo", diz o Paulo.
Refere-se aos fundos comunitários e que já começaram a chegar a Portugal, mas a sua aplicação suscita-lhe muitas dúvidas: "Estou um bocado receoso que não seja bem aplicado, que seja uma oportunidade perdida. Temos as coisas do costume, a corrupção, o desvio de fundos, parece que é uma questão endémica ao nosso país."
Uma coisa que preocupa particularmente o pequeno empresário é o país crescer a diferentes velocidades. Refere-se ao abandono do interior, à falta de infraestruturas, à desertificação. "Tinha de se pensar o país de uma outra forma."
Gostaria de ver "mais isenção e rigor na gestão da coisa pública". Entende que um dos problemas do país é a carga fiscal ser muito elevada. "Sendo o sistema empresarial constituído por pequenas e médias empresas, a carga fiscal é um entrave ao progresso, o futuro passa pelo desagravamento fiscal."
Natália Mendes espera que os fundos comunitários façam a diferença. "Se esse dinheiro vem, é bom que sirva para equilibrar a economia, ajudar empresas que estão em vias de falência; evitar mais desemprego."
Daniela Marado tem estado na cratera do vulcão pandémico, é médica internista no Hospital dos Covões (Hospitais Universitários de Coimbra, HUC). Tem 41 anos. Filipe Palavra, 40 anos, é de neurologia pediátrica no Hospital Pediátrico (HUC). São pais da Inês, de 9, e do João, de 6 anos.
"Estive a trabalhar em covid desde sempre, foi difícil lidar com a quantidade avassaladora de doentes em tão curto espaço de tempo, mas o ambiente de trabalho é bom. Ajuda muito a união entre os membros da equipa. As pessoas, perante as diversidades, ficam mais coesas e foi o que nos fez prosseguir em frente", conta a Diana.
A realidade do hospital pediátrico é diferente. "Desde cedo, percebemos que esta era uma pandemia que não atingiria de forma avassaladora nem grave a população pediátrica. Estivemos em teletrabalho pouco tempo, mantivemos a atividade clínica de uma forma regular", recorda o Filipe. Ele e outros médicos das áreas menos afetadas acabaram por se oferecerem para fazer urgência hospitalar. As mais envolvidas foram a medicina interna, intensiva e a pneumologia.
"Como a medicina interna é uma especialidade muito agregadora, assumiu um papel de liderança", explica a médica. O que teve consequências na gestão da vida familiar, até porque não puderam contar com os pais da Daniela devido à sua idade. E são o único suporte familiar, uma vez que Filipe não é de Coimbra, estudou na cidade e ficou. Assim, quando um entrava em casa, o outro saía.
"As crianças ou tinham pai ou tinham mãe", lembra o Filipe. Muitas horas passou a Daniela no hospital, até devido aos bancos na urgência. Em geral, faz duas urgências de 12 horas por semana, mas a covid e o excesso de trabalho obriga à alteração dos horários.
As crianças estão na escola e, "felizmente", só o João ficou uma vez de quarentena. "Tivemos sorte, conhecemos pais em que os filhos tiveram de ficar duas e três vezes em isolamento", comenta a mãe.
Nos primeiros meses da pandemia, eram grandes os cuidados: desinfetar tudo, calçado para usar em casa, depois relaxaram. "Contactar com vírus e bactérias acontece muito num hospital pediátrico, estou habituado a levar com conjuntivites, gastroenterites, pneumonias", explica o neurologista. Acrescenta a médica internista: "No início, tive muito medo, é o medo do desconhecido, depois, à medida que comecei a trabalhar em covid, foi-se diluindo e tive sempre a sensação que estava em segurança no meu trabalho."
Estão otimistas em relação à evolução da situação em 2022. "Temos uma situação privilegiada e que resulta da adesão massiva à vacinação. O que esperamos é que esta cobertura vacinal nos permita ter alguma normalidade no número de pessoas infetadas, ao ponto de não saturarem as enfermarias e as unidades de cuidados intensivos. E podermos estar disponíveis para as pessoas que têm outras doenças, para termos a consciência tranquila que não deixamos ninguém para trás, o que é muito importante para o SNS", defende Filipe Palavra.
Não deixar ninguém para trás não depende só dos profissionais e da evolução da epidemia, depende do reforço das equipas. Daniela observa que há muitos médicos a sair do SNS, e esse é um problema para 2022. "Se não tivermos a capacidade de recrutar pessoas, começamos a claudicar. Não adianta falar em resiliência quando não há pessoas", critica Filipe.
As consequências de praticamente dois anos de restrições no crescimento das crianças é outra coisa que os preocupa: "Os adultos têm retomado a sua vida mais ou menos normal, as crianças não. Como vai ficar a saúde mental destas crianças? Estão a ser privadas de contactos exteriores essenciais. Veem teatros por televisão, online, não há excursões. As escolas parecem prisões, à escola dos meus filhos, por exemplo, não pôde ir um assador de castanhas. Espero que a situação se altere com a sua vacinação. Se tivesse de pedir um desejo para 2022 era que as escolas se abrissem ao exterior."
As eleições legislativas merecem um "nim" de Filipe Palavra. Um "nim" de alguém com responsabilidades políticas, é presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Foz Coa, pelo PSD.
"Ainda tenho a expectativa que se consigam algumas conquistas, daí o meu "nim" inicial, agora, as más práticas estão enraizadas e não sei como vamos conseguir sair disto." A Daniela está descrente: "Enquanto a política não tiver pessoas honestas, não se consegue."
O marido considera que há pessoas honestas, só não estão nos locais certos. "Temos grandes políticos no país, mas são pessoas que trabalhavam, tinham as bases muito bem estruturadas, e fizeram da política uma carreira paralela às suas profissões. Neste momento, temos políticos a crescerem dentro das jotas, cuja única coisa que fizeram foi colar cartazes. Não têm a real perceção do que é estar no terreno, estão alheados da realidade."
A mesma desconfiança estende-se à aplicação dos dinheiros da "bazuca". Argumenta o Filipe: "Estas grandes injeções financeiras precisam de medidas estruturais e estruturantes. Se conseguir mudar a estrutura, investimos bem; se for para tapar o sol com uma peneira, investimos mal."
Por exemplo, o que irá acontecer no SNS? "Não podemos ter a noção de que se depositarmos muito dinheiro as coisas se resolvem, precisamos de pessoas, dar-lhes condições e uma carreira estruturada para que queiram ficar no SNS."
Sublinha Daniela: "A mudança faz-se com pessoas, o que foi importante na covid? Foi o capital humano, não foi o hospital XPTO, com uma casa de banho por quarto. Quando falamos nas condições de trabalho, não estamos só a pensar do ponto de vista remuneratório. Não queremos fazer mais que as tais horas extraordinárias, queremos ser reconhecidos pelo trabalho diferenciado que fazemos e isso, às vezes, não acontece. Por isso, é que as pessoas saem. Queremos ter direito a ir buscar os nossos filhos a horas decentes. É muito complicado."
Apesar de tudo, há um olhar otimista em relação a 2022. "Eu sou otimista por natureza", justifica Daniela Marado. Também o Filipe Palavra: "Partilho desse otimismo em relação à situação pandémica e o que nos espera enquanto o país, enquanto economia, enquanto sociedade, mas levará o seu tempo."
Leonete Rodrigues vive em Portimão, que diz ter sofrido muito com a covid-19. Tem 61 anos, é pequena empresária há 20, já teve uma loja de roupa e um ginásio. Explora há sete anos o Alameda Park Café, no centro da cidade.
"As coisas não têm corrido muito bem, vivemos muito do turismo e, com as restrições devido à pandemia, faltaram os turistas. Ainda por cima, tivemos de fechar as portas. Os apoios foram muito poucos, as rendas continuaram a ser pagas, água e luz, todas essas despesas", descreve Leonete.
Em 2020, perdeu à volta de 46%/48% da faturação e 2021 não foi melhor. Acabou por reduzir o número de funcionários, atualmente são dois e ela. O café abre todos os dias, das 07h30 às 19h30.
É mãe do Gonçalo, que criou sozinha desde os 9 anos. O rapaz tem 24, licenciou-se em Engenharia Informática. "Teve a sorte de ter uma tia em Lisboa", que lhe possibilitou frequentar uma universidade na capital. Trabalha há dois anos.
As expectativas de Leonete Rodrigues para 2022 não são as melhores: "Estou um bocado receosa, há muitas pessoas infetadas em Portimão e temo pelos efeitos. Os apoios nunca chegam aos pequenos empresários. O ano passado, concorri a vários apoios nacionais e nunca era elegível. A única ajuda que tive foram dois mil euros de um programa da autarquia."
Deposita mais esperanças no futuro do filho. "Tem a idade a favor, é uma pessoa ponderada e certinha, muito orientado, sai à tia. Tem o caminho aberto para a vida dele."
O estabelecimento pertence à Câmara Municipal de Portimão, Leonete tem a concessão. Baixaram a renda para 50% mas pagou sempre, mesmo nos meses em que foi obrigada a fechar (o concelho desconfinou mais tarde que a generalidade do país). Previa-se que voltasse a pagar a totalidade da renda a partir de janeiro, mas é provável que não aconteça devido ao facto de ter sido decretada nova situação de calamidade. E pode manter até março a esplanada sem pagar.
"Não acredito que se volte a fechar, mas tenho um certo receio, porque dependemos muito do turismo. Sinceramente, não tenho grandes expectativas para 2022, depende muito das viagens do estrangeiro, em especial do Reino Unido e da Alemanha. O comércio local está todo a fechar", lamenta.
Leonete Rodrigues reconhece que a sua cidade não tem muito para oferecer a quem a visita, apenas a praia, não tem património e cultura. Os turistas vão para outras zonas. "Destruíram o centro de Portimão, é tudo para os centros comerciais. Em 2022 já teremos os barcos, mas as pessoas têm as camionetas à espera para as levar para Albufeira, Monchique, etc., nunca passam por Portimão." Os seus clientes são as pessoas de idade, os imigrantes, quem ainda vive no centro, um ou outro estrangeiro.
Esperava que 2021 fosse melhor do que 2020 e não aconteceu, agora não faz previsões. "As despesas continuam a ser as mesmas. Há três meses que não descanso um dia. Meter mais um empregado, significa mais um ordenado, o seguro, a segurança social, e não fazemos dinheiro para isso", justifica.
Em relação aos fundos europeus, espera sentada para ver o que acontecerá. "Está feito para os grandes empresários, que é para onde vai o dinheiro. Vejo muito poucos apoios para os pequenos. Não acredito muito que possa chegar a nós." Mas irá concorrer ao que puder. "O não é sempre garantido."
Vê com a mesma descrença as eleições. "Não sei até que ponto poderá ou não melhorar a situação."
O principal desejo para 2022 "é saúde para continuar a trabalhar". E gostaria de ver o concelho a crescer. "Portimão parou. Gostaria que os políticos locais pensassem mais nos pequenos empresários e em desenvolver a cidade."
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