Pancho Guedes: "Malangatana era um pintor único"

O arquitecto Pancho Guedes considerou hoje "terrível" a morte do pintor Malangatana, que era único, acrescentando que embora soubesse que ele estava doente pensava que fosse uma "situação passageira".
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Malangatana morreu hoje às 03:30 da madrugada no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, vítima de doença prolongada. O pintor estava internado nesta unidade hospitalar há já alguns dias.

"Não percebo como é que o Malangatana, que parecia uma pessoa saudável e viajava com uma capacidade enorme, morre assim de repente", disse à agência Lusa o arquiteto Pancho Guedes, que no início da vida artística do pintor lhe disponibilizou um espaço para pintar na garagem e lhe comprava dois quadros por mês a preços inflacionados.

Para o arquiteto português, Malangatana passou "de um ano para o outro de simples empregado de bar e limpezas num clube de elite moçambicano para um pintor com grande reputação".

"E isso causava uma grande trapalhada em Moçambique, porque havia um certo terror e para o poder político tudo parecia de natureza política ou antigovernamental, de modo que Malangatana passou muito, até esteve preso", sublinhou Pancho Guedes.

Como pintor, o artista moçambicano cuja arte se estendeu à cerâmica, escultura, tapeçaria ou gravura, "fazia uma pintura que era só dele, não precisando que ninguém lha ensinasse ou a interpretasse", defendeu o arquiteto.

Pancho Guedes recordou ainda o tempo em que durante o dia Malangatana "cozinhava e punha a mesa do grémio, e à noite se juntava ao rapaz dos faróis, o José Júlio, para pintar daquela forma única que só ele conseguia fazer".

Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 06 de junho de 1936 em Matalana, uma povoação do distrito de Marracuene, às portas da então Lourenço Marques, hoje Maputo.

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