Gosto do resgate de palavras reféns. Daquelas desusadas porque vamos ficando pobres no falar, e daquelas que, quando acontece serem ditas, só são servidas em privado. Ou reféns do nosso descaso ou do sermos cágados. Há anos, na Assembleia da República, Freitas do Amaral lançou a um deputado: "Que topete!" Discutiam-se os cartoons anti-islâmicos, e Freitas, por convicção ou função (era, então, ministro dos Negócios Estrangeiros), era contra os cartoons, posição diferente da minha. E, no entanto, exultei porque ele ressuscitava uma palavra em vias de extinção. Tintin tem um penteado com topete e a palavra também é usada em acusação de falta de vergonha. Eça lá a tem, em Os Maias: "É preciso ter topete!" Fiquei agradecido a Freitas do Amaral, cavaleiro da palavra perdida, como agora fico a Eduardo Catroga. Este destapou uma palavra, pentelho, o que vale mais do que trazer os pêlos púbicos para a praça pública. E disse-a com propriedade, como todos o percebemos porque quase todos estamos carecas de a usar, à palavra pentelho. Prefiro-a a minudência, confesso. E espanto-me que entre as palavras recentes de Catroga seja essa, exacta e frágil, que tenha sido ontem tão comentada, quando outra, imprópria e grosseira - "Hitler", lançada e repetida em comparação a José Sócrates -, tenha passado em quase silêncio.