Ser pai ou mãe é um desafio enorme que permite experienciar emoções agradáveis e desagradáveis ao mesmo tempo. Por um lado, os pais sentem alegria, entusiasmo, amor, orgulho e tantas outras coisas boas e, por outro, ansiedade, culpa, medo, solidão... Falamos hoje dos desafios da parentalidade e do stress parental ou, em algumas situações limite, do burnout parental..Não se nasce a saber ser-se pai ou mãe, nem tão pouco as crianças trazem um livro de instruções. A parentalidade é um processo dinâmico e interativo que se constrói na relação entre pais e filhos, influenciado por variáveis dos pais (p. ex., história de vida, recursos psicológicos, dinâmicas conjugais), da criança (p. ex., temperamento, comportamento) e do meio envolvente (p. ex., rede de apoio social). Significa isto que a capacidade para exercer a parentalidade de uma forma ajustada e sensível, satisfazendo todas as necessidades da criança, não é algo tão linear como poderia pensar-se. Depende de múltiplas variáveis que se influenciam mutuamente e que, ao longo do tempo e em diferentes fases do ciclo de vida familiar, podem ter um impacto diferente no funcionamento parental..Neste processo de construção da parentalidade, os pais vivenciam frequentemente diversas situações indutoras de stress, como a pobreza ou a instabilidade profissional, os conflitos familiares ou o divórcio, as situações de doença ou a morte de um ente querido. Situações que exigem um conjunto de recursos que nem sempre os pais conseguem ativar..Adicionalmente, temos as expectativas e a pressão social, que empurram os pais para a procura de algo que simplesmente não existe: o mito dos pais perfeitos. Reféns desta ideia e vivendo a um ritmo de vida alucinante, com um excesso de solicitações e, tantas vezes, sem qualquer equilíbrio entre a vida familiar e profissional, os pais questionam-se e colocam-se em causa. Será que estou a ser um bom pai ou uma boa mãe? Será que posso ser ainda melhor? Em que estou a falhar?.Depois, assiste-se a um verdadeiro excesso de informação, com orientações e sugestões de familiares, pediatras, psicólogos e afins, nem sempre coerentes entre si. Afinal de contas, porque é que os outros pais conseguem e eu não consigo? O que devo fazer?.E surgem os sentimentos de culpa..Neste contexto, muitos pais sentem-se preocupados, ansiosos, tristes e sós. Distantes do ponto de vista emocional, desejam fugir, embora não saibam muito bem para onde, nem como. Em situações limite, pode mesmo surgir o chamado burnout parental, caracterizado por uma exaustão intensa, física e mental, e um embotamento das emoções. Recorrendo a uma metáfora, é como se a vela se apagasse..Para prevenir estas situações, os pais devem, antes de mais, apostar no seu autocuidado, relaxar e priorizar o prazer e o lazer, ao mesmo tempo que devem tentar equilibrar o tempo dedicado aos diferentes papéis que desempenham. Significa, muitas vezes, dizer "não" às inúmeras solicitações que recebem e, acima de tudo, desconstruir a crença de que devem ser perfeitos..Porque os pais não se querem perfeitos. Nada disso. Querem-se (parafraseando o psicanalista Winnicott) suficientemente bons..Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal