Pafistas e geringonços

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Enquanto por cá andamos entretidos numa conversa da treta em que toda a gente é catalogada, militando ou não num campo político, no mundo inteiro começa a gerar-se um certo pânico com economias que já foram emergentes e começam a submergir, com o dinheiro das economias dependentes do petróleo a deixar de circular, com o sistema financeiro a entrar novamente em crise e com algumas dívidas soberanas a correrem o risco de ficar tóxicas. E, sendo a situação tão séria, há um ministro das Finanças alemão a pedir a Portugal para não enervar os mercados. E, como a um disparate se responde com um disparate, também há por cá quem ache que Wolfgang Schäuble é que é o problema.

O nosso problema é o mundo ser como é e nós sermos como somos. O mundo tem uma coisa que se chama mercados e nós temos uma coisa que se chama alto nível de endividamento. Schäuble não precisa de complicar o que já é complicado, mas nem que o senhor se ponha de pé a aplaudir o Orçamento de Mário Centeno resolve o problema da nossa dívida. Precisamos de aumentar a competitividade da nossa economia, ter uma balança comercial positiva durante muitos anos e reduzir a dívida pública e privada. Mas isso só vai acontecer quando formos capazes de produzir mais do que consumimos, e o problema é que no debate público só se fala de consumo e emprego. Pro-du-ti-vi-da-de. É sobre isso que temos de fazer um debate sério.

É claro que tentar sobressair pela incompetência dos outros não ajuda em nada, porque já todos sabemos que para os pafistas tudo o que este governo faz é mau e para os geringonços nada de mau que se faça agora é pior do que o que já foi feito. O que é estranho, mesmo muito estranho, é que este campeonato entre pafistas e geringonços tenha chegado ao jornalismo. Jornalistas que, tendo direito à opinião, criticam a opinião de outros jornalistas. Num país em que os factos contam cada vez menos, aproximamo-nos do grau zero na análise e na opinião. Na falta de melhores argumentos, os que não concordam connosco são umas bestas, alinhados com interesses obscuros e nada patrióticos. A grande discussão é sobre o Orçamento ter passado ou não em Bruxelas. Como se houvesse grande coisa para discutir em relação à existência de um documento que recebeu na Europa mais de mil milhões em medidas adicionais e foi aprovado com mais uma chamada de atenção. Ponto.

Adiante. A favor dos pafistas tenho de dizer que têm razão quando dizem que é preciso mais certeza no controle das finanças públicas para que não se pague com língua de palmo as injúrias aos ditos mercados, e a favor dos geringonços bato palmas pela coragem de terem aliviado os rendimentos mais baixos. Alguém me quer chamar nomes?

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