Horas depois de ter reagido a quente aos primeiros resultados eleitorais e reclamado o direito a chefiar o governo federal alemão em pé de igualdade com os sociais-democratas, o candidato a chanceler pelos conservadores da CDU/CSU corrigiu o tiro, embora sem admitir que tenha perdido. Está aberto o período de conversações, que pode estender-se por meses, para se chegar a um acordo pós-eleitoral..DestaquedestaqueO social-democrata Olaf Scholz fica dependente de um acordo com Verdes e liberais, os mesmos que o conservador Armin Laschet corteja. .A lei eleitoral alemã obriga os partidos com representação parlamentar a entenderem-se porque não prevê a formação de governos minoritários. O fraco resultado do Die Linke (A Esquerda) - falhou a barreira dos 5% mas conseguiu a representação parlamentar porque cumpriu outro critério, três deputados venceram nos respetivos círculos eleitorais - acabou com as aspirações deste partido ex-comunista em formar uma coligação à esquerda..Olaf Scholz, que não havia rejeitado à partida essa hipótese, e tendo descartado a continuação da "grande coligação" CDU/CSU-SPD, ainda que com a troca de cadeiras, fica dependente de um acordo com os Verdes e os liberais, os mesmos que Laschet corteja. Na segunda-feira, em conferência de imprensa, o atual vice-chanceler e ministro das Finanças teve palavras simpáticas para com os partidos que ganharam importância crucial para a formação de um executivo e crê que existem suficientes pontos de contacto entre os três. "Passámos bons momentos no governo com os Verdes [entre 1998 e 2005]", disse Scholz, que também recordou "uma coligação social-liberal muito bem sucedida entre 1969 e 1982". "Assim, formar uma coligação social-liberal-ecologista teria uma base na história alemã", concluiu..Segundo a imprensa, o candidato conservador à sucessão de Angela Merkel, Armin Laschet, terá reconhecido junto dos colegas de partido que não têm o direito de reivindicar para si a chancelaria, tendo o mesmo sido dito por Markus Söder, o líder do partido irmão da Baviera, na reunião da CSU em Munique. Este recuo estratégico de Laschet seguiu-se a críticas de destacados colegas de partido, como de dirigentes das outras formações, tendo em conta que receberam menos 775 mil votos do que os sociais-democratas e o pior resultado da história..Num momento em que o candidato a chanceler quer manter as suas aspirações intactas em caso de falhanço das negociações que envolvam o SPD, não será avisado entrar em conflito com os outros partidos. Em público, na segunda-feira, Laschet disse que queria manter conversações de coligação "em pé de igualdade" com os Verdes e o FDP e contrapôs essa humildade com uma referência ao seu ponto forte enquanto político, a construção de consensos. "O chanceler só pode ser alguém que consiga combinar opostos e desenvolver um bom projeto comum para os próximos quatro anos." O democrata-cristão disse ainda que cada parceiro da coligação deve ser capaz de "desenvolver o seu perfil" e não ficar "talhado à medida do chefe do governo"..A nível estadual não são inéditas as coligações CDU-Verdes-FDP ou SPD-Verdes-FDP. No entanto, desta vez, são os liberais e os Verdes que vão dar os primeiros passos porque, reconhecem, são os partidos com menos pontos de contacto. Diferem em temas chave, caso da crise climática e das políticas sociais e fiscais e em junho era notícia que o FDP recusava entrar numa coligação com os ambientalistas. "Vamos ver se conseguem trabalhar em conjunto os partidos que por enquanto estão mais afastados um do outro", disse Robert Habeck, colíder do Verdes. "Faz sentido que estes dois partidos se reúnam e falem apesar de todas as diferenças e que se encontre um núcleo progressivo que poderia ser a base de uma coligação", disse por sua vez o líder dos liberais Christian Lindner, que ambiciona o cargo de ministro das Finanças..Além da mencionada queda do Die Linke, que levou a co-líder Susanne Hennig-Wellsow advertir que o partido tem "a última hipótese" de se "reinventar", também a extrema-direita registou perdas, o que levou a um momento incomum. Durante a conferência de imprensa, os colíderes entraram em conflito, com Jörg Meuthen a culpar Alice Weidel pela perda de 20% de votos..Do escrutínio de domingo destaque ainda para a eleição de um deputado do partido da minoria dinamarquesa e frísia. Apesar de ter obtido apenas 3,2% na região de Schleswig-Holstein, onde concorreu, a lei eleitoral prevê esta exceção para as minorias nacionais. O SSW já tinha estado representado no Bundestag entre 1949 e 1953, mas desde então ficou-se pela política local..cesar.avo@dn.pt